Vivemos tempos apocalípticos. Grande parte das antigas estratégias da esquerda não passa de demandas histéricas e completamente anacrônicas: “mais keynesianismo”, “Bem-Estar Social para todos”, “pleno emprego”, etc. Além destas demandas impossíveis, a esquerda ainda se encontra sob o conto da sereia da onisciência dos partidos revolucionários, o modelo leninista par excellence. A idéia arqui-política dos partidos, isto é, a idéia de uma inteligência política que concentra as condições essenciais da transformação, encontra-se numa crise já que não responde mais a atualidade do projeto socialista do século XXI. Como bem escreve Slavoj Zizek: "é verdade que a esquerda de hoje está passando pela experiência devastadora do fim de toda uma era para o movimento progressista, uma experiência que a obriga a reinventar as coordenadas básicas de seu projeto. Contudo, foi uma experiência exatamente homóloga que deu origem ao leninismo".
Portanto, a verdadeira pergunta hoje é: qual é a estratégia do socialismo do século XXI? Sem respondermos a essa pergunta urgente a nossa prática imediata (tática) é desnorteada ou se orienta por estratégias que não dizem respeito a nossa atualidade histórica.
Palpito da seguinte forma: não existirá socialismo no século XXI se não for construído por uma pluralidade socialista. A época de um agente político primordial está fadado ao fracasso. Hoje temos uma explosão de agentes transformadores. A maior dificuldade é a reciprocidade dialética entre esses agentes que incluem movimentos sociais e populares, coletivos políticos, partidos de esquerda, sindicatos, etc.
Existem organizações institucionais e extra-institucionais. Por não conseguirem manter uma reciprocidade dialética, uma tem medo do outro (por mais que no Brasil se aceite inconscientemente a progressiva institucionalização petista como natural). Assim a como a luta dos partidos deve ser a não institucionalização do movimento, a luta dos movimentos é extremamente restrita quando não dão diretrizes de transformação política voltada aos partidos. Assim como existe um grande ceticismo em relação aos partidos – fetichismo do movimento – muitos partidos se consideram o horizonte último da transformação social. Essa é uma dialética que se encontra ainda cortada e que precisa construir laços de reciprocidade – para além do inconsciente petista. Por que a esquerda deveria respeitar sempre e incondicionalmente as regras formais do jogo democrático? Por que não deveria, em algumas circunstâncias, pelo menos, questionar a legitimidade do resultado de um procedimento democrático formal?
Penso que estamos num momento dramático na esquerda. Sua crise não diz respeito apenas ao declínio dos movimentos marxistas em todo o mundo, mas a falta de uma estratégia numa escala de tempo extensa que consiga lidar com os enormes desafios que temos pela frente. Essa estratégia passa por uma nova concepção de partido, pela superação do horizonte democrático-popular, pelo fortalecimento dos agentes extra-institucionais, novas formas de organização de base e, não menos importante, uma luta ideológica rumo a reconstrução do projeto de emancipação no século XXI.
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