segunda-feira, 8 de março de 2010

O que é o Comunismo hoje?

O Comunismo é uma hipótese estratégica que nomeia a alternativa viável diante do aprofundamento da “produção destrutiva” do capitalismo contemporâneo além de ser um fazer (verificado coletivamente) baseado no auto-controle dos produtores e consumidores livremente associados. O Comunismo não é uma Idéia, mas um processo histórico-concreto de lutas orientadas ao sentido de supressão das classes antagônicas sob o horizonte da revolução social. Não são lutas apenas contra os inimigos de classe personificado pelos capitalistas (industriais, agrários ou financeiros), burocratas, militares, milícias, etc. Também são lutas por um modo de troca social qualitativamente diferente - para além dos imperativos existenciais do capital orientados a expansão e acumulação e seu simulacro político: a democracia-liberal. Assim, o Comunismo tem uma dimensão negativa e positiva ao mesmo tempo, uma escala de tempo extensa e pressupõem a luta ideológica para se produzir nos dizres de Marx, com os instrumentos políticos adequados ao enorme desafio presente, “consciência comunista em escala de massa”.



Quando o “momento da verdade” revolucionária bate a porta, não precisamos de subterfúgios para fugir da luta. Quando ela se distancia de nosso horizonte, é porque necessitamos modificar nossas estratégias militantes. Esse é o desafio hoje. Considerando que apenas a práxis social pode responder satisfatoriamente para a superação do atual estado de coisas, limitar a vista ao passo que se está dando é uma estratégia que não responde satisfatoriamente ao fardo histórico que carregamos hoje – típicas do mundo imediatista “pós-moderno”. Como as antigas estratégias defensivas são anacrônicas e fracasssadas, vemos emergir nas últimas décadas uma multiplicidade infinita de táticas desconexas e sem um horizonte estratégico claro e comum - o dito de Bernstein "o movimento é tudo, o objetivo nada" ganha uma nova e maior significação.



A contradição principal em que encontramos hoje está na ausência de instrumentos políticos adequados para essa transformação possível e necessária seja realidade. Um dos sustentáculos dessa ausência é a continuidade do domínio das mitologias sobre a autoconsciência das organizações incluídas, descrevendo o partido leninista, por exemplo, como a instituição da ofensiva socialista par excellence. Analisando esses instrumentos do movimento da classe trabalhadora, sabemos que, certamente, todos existiram para superar alguns dos obstáculos principais na via para a emancipação. Em primeira instância, foram o resultado de explosões espontâneas e, como tal, representavam um momento de ataque. Mais tarde, como resultado de esforços conscientes, estruturas coordenadas emergiram tanto em países particulares como em escala internacional. Mas nenhuma dessas estruturas poderia ir além do horizonte de lutar por objetivos específicos, limitados, até mesmo se o seu objetivo último estratégico fosse uma transformação socialista radical de toda a sociedade. O próprio partido bolchevique estava apenas assegurando “Paz, Terra e Pão” para criar uma base social viável para a revolução. Nesse sentido, o “Partido de Vanguarda” foi construído de forma a poder se defender dos ataques cruéis de um Estado policial, sob as piores condições de clandestinidade, das quais inevitavelmente decorreram inúmeras imposições do segredo absoluto.



O que existe em comum em grandes figuras históricas de Lênin a Che, de Mao a Fidel, de Ho Chi Mihn a Trotsky, de Stálin a Rosa Luxemburgo é a concepção de centralização estratégica e descentralização tática numa reciprocidade dialética. Por isso, o momento de crise profunda como a que vivemos é uma oportunidade histórica para se repensar profundamente a transição social na construção de uma alternativa radical em novas bases organizacionais, de consciência e ação. É uma lacuna que emerge entre o “movimento real” e a articulação com uma alternativa viável. Entrementes, necessitamos urgentemente de uma estratégia socialista que cumpra esse desafio imenso.

2 comentários:

Paraná disse...

Uma estratégia de revolução comunista hoje é um desafio imenso se não impossível. Eu não consigo ver comunismo no horizonte, o vejo mais como utopia, no horizonte do pensamento e não da história. De qualquer forma é esse o desafio!

Fernando Marcellino disse...

O Comunismo não é um novo modo de produção, mas um processo de superação Real das contradições existentes hoje. Por isso o Comunista são aqueles que se empenham no seu cotidiano para superar essas contradições intragáveis. Portanto, de facto, existem milhôes de comunistas hoje.