sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

E agora companheira? Um 2011 dilmista?

O início do governo Dilma será um novo estado de emergência econômico como o de Lula em 2003?

Dilma apresentou a estratégia dos primeiros dois meses de governo que inclui a discussão sobre a regulamentação da reforma da previdência do setor público de 2003, a proposta de desoneração gradual da folha de pagamento de empresas, reforma tributária, a nova regra de partilha do pré-sal e a proposta que limita o reajuste da folha de salários do funcionalismo público. Um programa de ajuste fiscal está sendo gestado e parece corresponder aos interesses do capital portador de juros e, ao mesmo tempo, da “nova classe” dos conselhos administrativos.

Talvez o marco mais interessante do próximo governo será a continuação da crescente convergência econômica entre Brasil e China. A potência asiática impulsiona o avanço dos setores de menos valor agregado brasileiro tendo como resultado mais imediato a maior dependência das exportações. A China produz uma política econômica que torna direta a relação entre expansão da manufatura e da grande indústria com a elevação das importações de produtos primários. Como resultado o preço desses produtos mantêm-se valorizados condicionando a grande indústria de países como o Brasil.

Enquanto as importações totais do Brasil de produtos dos EUA passaram de 23,21% em 2001 para 14,96% do PIB em 2010, as exportações da China ao Brasil cresceram junto com as exportações brasileiras à China. A China já é responsável por 14,1% do total de importações brasileiras em 2010. Concomitantemente, as exportações para a China cresceram constantemente desde 2000, puxado pela venda principalmente de soja e minério de ferro passando de 1,41% do total de exportações brasileiras para 13,7% dez anos depois. Em 2011 passará de 15% ultrapassando os EUA.

Isso apresentará em médio prazo uma maior vulnerabilidade externa do Brasil pela condição volúvel dos preços das commodities. A diversificação do comércio exterior brasileiro não representou uma menor dependência do setor primário. Agora há exportação de commodities para os EUA (especialmente de óleos brutos que chega a 18% das exportações) e para a China.

2011 promete ainda alavancar o preço das commodities. As cotações de soja e milhos são as mais elevadas desde julho de 2008. A demanda por alimentos continua aquecida pelo mercado chinês. O total de investimentos financeiros nos mercados de commodities em geral soma algo em torno de US$ 360 bilhões. Assim Dilma iniciará o governo com o preço das commodities em alta impulsionando as exportações de bens primários. Segundo cálculos, os preços das commodities superariam até as ações de empresas de grande porte, como JBS, Petrobrás e Vale. A desvalorização internacional do dólar também ajuda neste conjunto de fatores que apontam uma maior vulnerabilidade internacional do Brasil. As principais commodities cotizadas no final de 2010 são o café, o boi gordo, o algodão, açúcar, milho, trigo e soja, além do pico do petróleo.

Estimativas dizer que o ritmo de crescimento três vezes maior dos “emergentes” em relação aos países mais desenvolvidos aponta para países como China, Brasil, Rússia, Índia e África do Sul representem cerca de 80% da expansão global em 2011. Ao manter seu dinamismo seriam pólos de crescimento em meio a um ambiente internacional de recessivo. Enquanto os países mais desenvolvidos crescerão cerca de 2,5% em média, os BRICS registrarão expansão de 7,4%. O Brasil tem a projeção de 4,5% e a China de 10% enquanto a zona do euro e o Japão crescerão algo entre 1,5 e 2%.

Nos EUA a estratégia de aumento das exportações de bens e servicos com maior valor agregado parece não surtir efeito sobre o consumo interno. Na realidade, os EUA vivem uma crise de SUPERCONSUMO. Mesmo com a alta na liquidez da moeda e baixa taxa de juros o excesso de capital-monetário não é investido por bancos e empresas na produção de empregos e renda. Parece que a política econômica dos EUA quer imitar a do Brasil com o consumo buscando alavancar os investimentos e não o contrário. Infelizmente essa também é uma estratégia limitada, ainda mais para os EUA.

Enquanto isso os bancos estrangeiro continuam esperando pela abertura do mercado de capitais na China. Parece que o bolo vai crescendo e com ele os investimentos na África e na América Latina – principalmente com a reciclagem dos dólares que resultam em grandes superávits. O Japão também parece viver uma ironia história já que, depois de década de recessão e crise política, somente a China foi ser um parceiro condizente para a expansão de novos mercados e avanço tecnológico. A China está se tornando o “segundo mercado doméstico” de muitos países e ainda tem um espaço de acumulação considerável, em comparação com a Europa e o Japão.

Para finalizar, o governo Dilam enfrentará o “corte nos gastos” que procuraria dosar a alta dos juros para conter a inflação. Isso também é conveniente para a classe de gestores ex-sindicalistas. Essa “nova classe” tem a função de dirigir os órgãos administrativos do capital portador de juros (em especial fundos de pensão) e intensificar os regimentos internos da reestruturação produtiva nas empresas que fazem parte. Trata-se de um “aburguesamento” dos quadros que subiram na hierarquia estatal passando a fazer parte da classe social que sua renda, status e posição lhe dá acesso. Diferentemente dos banqueiros de FHC, essa camada social – com salários altíssimos – usufrui de carros blindados, roupas, vinhos e hábitos caros passando da vanguarda operária para a vanguarda dos gestores.

Ex-dirigentes sindicais se transformando em sócios menores do capital portador de juros (que costumam enfatizar a independência dos sindicatos frente aos partidos e governos) embolam a hegemonia lulista ao incorporar conselhos e presidências como do Sesi, Senai, Sesc, Ministério do Trabalho, Regionais do Trabalho, Previ, Petros, Eletrobrás, BNDES, etc. No Brasil são mais de 250 cargos nos conselhos de 74 empresas que a Previ participa. Esses fundos de pensão são reservas de aposentadoria separadas das contas do empregador que são valorizadas nos mercados financeiros. Elas devem servir para pagar aposentadorias. Os fundos transferem sua gestão a administradores especializados que exercem fortes pressões para obter elevados retornos do investimento. Esses fundos, então, se alimentam do capital portador de juros e dependem de altas taxas de juros.

Em síntese, a política econômica tecnocrática de Dilma está sendo regulada pelas frações da burguesia nacional e pela “nova classe” que tem interesses profundos na alta taxa de juros e na expansão do crédito. Para isso Dilma não pode abrir mão da autoridade quase materna que tem.

A "esquerda" não queria Dilma? Dilma terão!