segunda-feira, 8 de março de 2010

O avanço da direita no Brasil: quando a democracia se torna um obstáculo para os capitalistas da mídia

Quando os grandes monopólios da mídia corporativa se reúnem, nós da esquerda sabemos que temos um grande desafio pela frente. Esse é o significado do 1º Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, realizado pelo Instituto Millenium em São Paulo, na segunda-feira, 1º. de março. Marcaram presença nesse encontro a Associação Brasileira de Empresas de Rádio e Televisão (Abert) e a Associação Nacional dos Jornais (ANJ), entidades que envolvem a Globo, o SBT, a Record, a Folha de S. Paulo, o Estado de S. Paulo, a RBS, Instituto Liberal, Movimento Endireita Brasil (MEB), e outras empresas que decidiram boicotar a I Conferência Nacional de Comunicação, numa demonstração de forte apreço pela democracia.



Não é todo dia que presenciamos um encontro de tão ilustres competidores da "mídiocracia" brasileira. Com o enfraquecimento institucional e de representação da direita, personificado principalmente pelo PSDB e pelo DEM, a ação até contra um governo centrista-democrático como o do PT se radicaliza. O “jogo institucional” da democracia – que a esquerda “caiu” com o governo Lula – é um entrave para a direita hoje. Como bem dizia Cláudio Abramo, diferentemente da esquerda e seus fraccionismos estéreis, a direita “na hora H se une”. Vivemos esse momento hoje no Brasil.



Como disse Washington Araújo, o grande intuito desse encontro da mídia corporativa que representa a direita brasileira hoje é, entre outros, impor que: 1) Liberdade de expressão é interditar todo e qualquer debate democrático sobre os meios de comunicação; 2) Liberdade de expressão só pode ser invocada pelos que controlam o monopólio das comunicações no país. 3) Liberdade de expressão é bem supremo estando abaixo apenas do Deus-Mercado; 4) Liberdade de expressão é denunciar qualquer debate sobre mecanismos para termos uma imprensa minimamente responsável. 5) Liberdade de expressão é gerar factóides, divulgar informações sabidamente falsas apenas para aproveitar o calor da luta. 6) Liberdade de expressão é deitar falação contra avanços sociais, contra mobilidade social, contra cotas para negros e índios em universidades públicas. 7) Liberdade de expressão é cartelizar a informação e divulgá-la como capítulos de uma mesma novela em variados veículos de comunicação. 8) Liberdade de expressão é explorar a boa fé do povo com programas de televisão que manipulam suas emoções e suas carências oferecendo uma casa aqui outro carro ali e assim por diante – como o governo Lula, diga-se de passagem. 9) Liberdade de expressão é somente aprovar comentários aptos à publicação em sítio/blog da internet se estes referendarem o pensamento do autor e proprietário do sítio/blog. 10) Liberdade de expressão é apresentar imparcialidade jornalística do meio de comunicação mesmo quando os principais jornalistas fazem de sua coluna tribuna eminentemente partidária. 11) Liberdade de expressão é submeter decisões editoriais a decisões comerciais de empresas e emissoras de comunicação. 12) Liberdade de expressão é minimizar o descaso do poder público ante as enchentes de São Paulo – e o resto do Brasil - e reduzir candidato à presidência a mero poste. 13) Liberdade de expressão é ter dois pesos em política externa: Cuba é o inferno e China é o paraíso. 14) Liberdade de expressão é demonizar movimentos sociais e defender a todo custo latifúndios vastos e improdutivos. 15) Liberdade de expressão é lutar para manter o status quo: o direito de informar é meu e ninguém tasca.



Bem, como disse muito sinceramente o picareta Arnaldo Jabor no Fórum, “a questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo”? Não me parece que o meio para isso acontecer seja minimamente pela “democracia representativa” que a esquerda tanto idolatra.



Portanto, atentemo-nos! Os inimigos estão de organizando rapidamente e sabemos que sua força não é pequena.

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