quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Iniciamos uma década que tem tudo para ser apocalíptica

Iniciamos uma década que tem tudo para ser apocalíptica. Alguns atentos observadores apontam 2010-2020 como tempo de mudanças substanciais na ordem mundial, principalmente no que diz respeito ao ordenamento do sistema financeiro internacional após 2008, ao processo de ampla militarização, esgotamento dos recursos naturais, novas formas de apartheid (muros, favelas, guetos, etc.), penalização da pobreza e dos movimentos de transformação social, desemprego crônico, novos desenvolvimentos tecnológicos (especialmente a biogenética), incapacidade sistêmica de apropriação privada da propriedade intelectual e, não menos importante, o corte radical da relação aparentemente natural entre capitalismo e democracia-liberal. Esse conjunto de processos, dialeticamente interconectados, demonstra os limites do capital como um todo.

Os limites do capital não como uma parede. Muito menos apontam para um colapso iminente ou uma implosão da civilização capitalista. Ao contrário, os limites do capital manifestam os antagonismos existentes e concretos de certa configuração histórica em desdobramento. Quando o capital ultrapassa seus limites emerge uma crise sempre em proporção mais ampliada que a anterior. Na crise de meados de 1970, a “saída da crise” foi a neoliberalização – financeirização, privatização, quebra do padrão dólar-ouro, expansão do crédito, liberdade aos capitais, desregulamentação, precarização e feminização do trabalho, etc. – da qual nos encontramos no fim da forma que tomou historicamente. Em outras palavras, a “saída da crise” delimita como irá ser o padrão de desenvolvimento até a próxima crise. Cada crise tem respostas diferentes e, assim, não permite grandes generalizações. Não é possível entender a crise de 2008 como um novo 1873 ou 1929. Para a crise de 2008 foram necessárias todas as outras crise financeiras existentes no capitalismo, mas sua lógica e funcionalidade se transforma historicamente.

Momentos de crise são momentos cheios de oportunidades para se construir o processo de transição socialista em novas bases de consciência, organização e ação. Do ponto de vista do capital, crise é um momento de autocrítica ferrenha em que a classe dominante busca restabelecer as bases de extração da mais-valia aprofundando a concentração de capital com a mediação do Estado. Em tempos de crise, portanto, o papel central do Estado como “última instância” do capital floresce com toda a força com uma posição política rígida (mesmo nas democracias): expressamente contra a sublevação popular da “ordem pública” além de ajudar na coordenação da “saída da crise” do ponto de vista midiático-empresarial.

Como disse Francisco Teixeira, na atual fase de acumulação sem desenvolvimento, na qual o capitalismo atinge os limites de sua expansão histórica, não só é difícil manter as conquistas históricas da classe trabalhadora, como também avançar com elas, no sentido de mais emprego, de relações estáveis de trabalho e de aumento no poder de compra dos salários. É preciso ir além da luta contra os efeitos negativos do trabalho e reinscrever na ordem do dia, como estratégia prioritária, a luta pelo socialismo. A pergunta que fica é: como expropriar o excesso de capital (equipamentos, trabalho, etc) para atender as necessidades humanas?

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