quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A crise de investidura de Wall Street

O Significante-Mestre do sistema financeiro global (Wall Street) se enfraqueceu com o derretimento de 15 de setembro de 2008. Além disso, as empresas “grandes demais para quebrar” deslegitimaram o livre-mercado financeiro global articulado a partir de Wall Street.

Em termos de Eric Santner, esse enfraquecimento pode ser chamado de perda da eficácia simbólica – uma “crise de investidura”. Seguindo Santner, essa “crise de investidura” consiste numa perda generalizada da eficácia simbólica por parte da autoridade (que se constitui por reprodução dos mitos) por mudanças na matriz fundamental da relação do indivíduo com a autoridade social e institucional, aos modos como a ele se dirigem e como ele responde aos chamamentos do poder e da autoridade “oficiais”. Esses chamamentos são processos de investidura simbólica pelo qual o indivíduo passa a ter um novo status social que modifica sua identidade perante a comunidade – nesses processos os indivíduos “se tornam quem são”. Como a estabilidade política e social (assim como a “saúde” psicológica dos indivíduos) se relaciona com a eficácia das operações simbólicas, uma “crise de investidura” tem o potencial de criar sentimentos de extrema alienação, anomia e angústias associadas ao colapso do espaço social e dos ritos da instituição no núcleo mais íntimo do sujeito. Não seria exatamente esses os efeitos de uma quebra financeira generalizada?

Nesse processo de perda da capacidade de ser exigido pelo Outro, é nessa inconsistência do Outro que se abre espaço ao Ato que se autoriza por si mesmo. Com “Lanin” dizemos que o Ato não é aprovado ou coberto pelo grande Outro – medo de ser cedo demais, busca por garantias, etc. O Ato é o encontro puramente contingente e traumático que desestabiliza a normalidade do universo simbólico, podendo só ser reconstruído retroativamente. O Ato cria retroativamente as condições de sua possibilidade e não é um evolucionismo etapista barato.

Mas o que isso tem a ver com Wall Street? Por que não esperar uma mudança drástica nas relações financeiras internacionais diante do aprofundamento da crise e na eminência de um novo colapso financeiro ainda mais profundo? Aqui um Ato que, por ser um Ato, não podemos esperar ou ter certeza do que pode ser. Entretanto, sabemos que astúcia e imoralidade são banais em Wall Street e, portanto, não esperemos (é obvio) um Ato progressista do ponto de vista do trabalho e sim um Ato para firmar ainda mais a dependência do capital produtivo ao capital financeiro internacional abrindo novas portas para a entrada do capital portador de juros na vida social. Sem um Ato isso seria impossível, por isso mesmo a necessidade de um Ato financeiro talvez já para 2010. Atentemo-nos!

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