Um espectro ronda novamente a América Latina: o risco dos golpes de Estados. Não são aqueles golpes de Estado como o de 1964 no Brasil. São qualitativamente diferentes. Não são golpes para implementar uma ditadura estrito senso e sim, paradoxalmente, golpes de Estado democráticos que, por mais que tenha um conteúdo militar-policial-fascista, são envoltos pelo véu retórico da democracia liberal.
A direita está retornando (e na sua pior face) ao palco político agressivamente. Perdeu espaço e visibilidade social com a subida ao poder de governos de centro-esquerda e esquerda na América Latina que barraram ou maquiaram o radical processo de neoliberalização. No caso brasileiro a questão é mais paradoxal ainda: a subida de Lula ao poder deu legitimidade ao continuísmo macroeconômico e ao processo de expansão do capital – produtivo e financeiro - brasileiro a outras áreas da América Latina. É uma espécie de unidade dos contrários que deixou a direita paralisada, mas apenas temporariamente. Ela também está preparando a sua unidade de contrários composta pelo discurso democrático, práticas privatizantes e linha dura política e policial.
Portanto, o tempo de aparente calmaria está acabando. Honduras deu o passo inicial no que fico tentado de chamar de “golpe de estado democrático”, articulado pela direita rumo à intensificação do “neoliberalismo com características latino-americanas”. O Chile talvez seja tenha uma vitória eleitoral da direita e no Paraguai de Fernando Lugo está sendo planejado para 2010 a mesma forma do “golpe hondurenho”. Recentemente o senador liberal Alfredo Luís Jaeggli demonstrou a unidade dos contrários da direita defendendo o julgamento político e o afastamento do presidente do Paraguai e disse que defende os golpistas hondurenhos, o modelo econômico de Pinochet no Chile, as reformas privatizantes de Menem e Fernando Henrique. Quando perguntado sobre a articulada saída forçada de Lugo para a “modernização” do país respondeu: “pelo menos é isso que eu penso e a idéia de muitos outros. Nós não podemos andar para trás, nós temos que impulsionar uma revolução. Nós tivemos 60 anos de ditadura, de castigo, de vandalismo. Nós temos que democratizar, tornar esse país atraente para investidores externos...” Como se vê esse discurso mistura o apelo as lutas democratizantes (a muito tempo esgotadas), uma revolução (seja lá o que isso signifique), abertura ao capital externo e uma crítica cínica a ditadura dos anos 60. É uma constelação ideológica meio Frankstein, mas que esquerda não pode cair por seus tons “democratizantes” e “pós-políticos”.
Com o desdobramento da atual crise o nó que juntava milagrosamente democracia e capitalismo se desatou. Isso possibilita com que a direita de aproprie do discurso “democratizante” facilmente apontando qualquer tipo de transformação social como essencialmente ditatorial – e além de tudo como representantes da terceira via. Hoje a democracia é um obstáculo as lutas progressistas. Mas atentemo-nos, o futuro nos reserva impactos profundos como vários tipos de governos “democráticos” a lá Berlusconi pipocando pelo mundo.
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