terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Justiça Infinita Reloaded - Parte 2

Após oito anos de guerra das tropas estrangeiras (encabeçadas pelos EUA) no Afeganistão, vem a pergunta: qual o sentido da invasão ao Afeganistão? Ou antes ainda: do ponto de vista dos EUA, quais são os pontos internacionais estratégicos que asseguram sua expansão imperial? Sem dúvida podemos apontar dois: Colômbia e Afeganistão. O primeiro cria uma base de intervenção ampla dos Estados Unidos na América Latina, sendo um aviso claro tanto ao Brasil como a Venezuela. Mas bem, tratemos do Afeganistão.



O ataque ao Afeganistão foi legitimado pela construção de uma democracia que deixaria para trás os retrógrados talebãs. Hoje, entretanto, a prioridade de Washington é exclusivamente militar. Com os novos reforços que serão enviados ao Afeganistão no início de 2010, Obama terá mobilizado mais de 50.000 soldados suplementares naquele país desde que assumiu o poder, em janeiro deste ano. E seus aliados da Otan anunciaram o envio de mais 7.000. Assim, quase 150.000 soldados estrangeiros deverão ser mobilizados no Afeganistão até o fim de 2010. É bastante gente para quem prometeu acabar a guerra. Como balanço parcial desse ano, até o dia 27 de dezembro, mais de 500 soldados estrangeiros tinham sido mortos no país em 2009, sendo pelo menos 310 americanos.



O Afeganistão é um ponto militar que da fácil acesso tanto à Rússia e a China como ao Irã e outros países extratores de petróleo no Oriente Médio. Sendo um ponto de localização geopolítica privilegiada, em torno do Sul da Ásia, Ásia Central e o Oriente Médio, o Afeganistão também tem saídas pelo Mar Cáspio que facilitam enormemente os dutos de petróleo rumo ao Oceano Índico onde a empresa estadunidense Unocal tem negócios exclusivos para o gás natural do Turcomenistão pelo Afeganistão e Paquistão. Para o sucesso desse empreendimento, as forças fundamentalistas se fortificam num ciclo vicioso e que parece ser sem fim.



A elite corrupta afegã, encabeçada pelo presidente reeleito Hamid Karzai, parece não se importar com a invação norte-americana. Afinal, quem está pagando a democracia com características afegãs são os EUA. Recentemente Karzai disse: "esperamos que a comunidade internacional, e em particular os Estados Unidos como nosso principal aliado, nos ajudem a ter também a capacidade econômica para manter uma força que proteja o país com o número (de membros) e equipamentos adequados". O secretário de Defesa norte-americano, Robert Gates, disse complementando a panacéia que o Afeganistão vai precisar de "algum tempo" para ser capaz de manter suas forças de segurança. "Se serão 15 ou 20 anos, esperamos um desenvolvimento econômico acelerado no Afeganistão", afirmou. A pergunta que fica é: não existe uma relação retroativa entre a democracia imposta no Afeganistão e a corrupção própria de um governo imposto pela força a custa de milhares de pessoas que necessitam continuar a viver às custas e perdas de quase uma década de invasão?



Em 2009 os aviões sem piloto da CIA baseados no Afeganistão bombardearam intensamente as zonas tribais, fazendo muitas vítimas civis. O desencargo de consciência que a guerra produz pode ser passado com a guerra invisível que matar muito mais do que jovens inseguros que morrem pela pátria sem saber o que é a pátria. Estranhamente essa forma-guerra invisível é correlata a forma-terrorista da qual não sabemos como realmente atua.



Minha hipótese é que, do ponto de vista hegeliano, a Al-Qaeda e a CIA são os dois lados de uma mesma moeda que, no nosso mundo contemporâneo, se excluem mutuamente. Existe uma coincidência dos opostos entre a democracia liberal – e suas instituições – e o fundamentalismo religioso – e suas instituições - que deixa de lado apenas... apenas quem? Sem dúvida, a esquerda é o falta para desestabilizar essa falsa oposição que dá corda do ordenamento político internacional atual.

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