A possibilidade real de que Marina Silva seja a candidata a presidente numa aliança PSOL-PV está se distanciando de nosso horizonte. Isso nao quer dizer que a luta esteja ganha. Longe disso, o desafio começa a pegar fogo. De qualquer forma, esse movimento parece ser tanto interno como externo ao PSOL. Analisemos.
Por um lado choveram diversos tipos de indignações da militância devida a obscenidade da potencial aliança articulada pela cúpula chefiada por Sra. Heloísa Helena. Lembremos que para a Sra. Heloísa Helena seria Marina Silva o único nome capaz de “promover o debate do desenvolvimento sustentável com inclusão social”. Com certeza o nome de Marina Silva seria o melhor para uma bandeira baseada no desenvolvimento sustentável, mas o que isso tem a ver com o PSOL? Isso quer dizer que o PSOL luta por um “desenvolvimento sustentável com inclusão social”? Contra essa (im)postura, diversas discussões e resoluções foram feitas em diferentes partes do Brasil pressionando a cúpula que já estava articulando ativamente essa aliança. Ponto positivo.
Talvez a lição de Marina Silva valha para Heloísa Helena, por mais que só tardiamente isso seja claro. Nenhuma delas conseguiu quebrar com o petismo realmente existente. Estão no final das contas lutando por um capitalismo mais humano, mais tolerante, mais ecológico e mais sustentável. Segundo a própria Marina “em linhas gerais, acho que o estado não deve se colocar como uma força que suplanta a capacidade criativa do mercado. Nem o estado deve ser onipresente, nem o mercado deve ser deificado. Também gosto da idéia do Banco Central com autonomia, como está, mas acho que estão certos os que defendem juros mais baixos”. Em outras palavras, ela é a favor da terceira via. O PSOL também é?
Por outro lado, as aparições, testemunhos e opiniões públicas da Sra. Marina Silva e do PV enfatizaram sempre, de forma explícita, seu “caminho do meio” baseado no continuísmo econômico e político. Em síntese, a Sra. Marina Silva se mostrou como uma espécie de Lula Light: quando ao essencial absolutamente nenhuma mudança entretanto com forma descafeínada. Em outras palavras, seu horizonte é um capitalismo mais humano, ecológico e tolerante. O último acontecimento desse porte é recente. No dia 19 desse mês a direção nacional do PV encaminhou uma carta a Executiva do PSOL que diz claramente o óbvio: o PV não é um partido de esquerda e nem se propõem a ser. Ao contrário, é um partido essencialmente neutro diante de uma oposição tanto ao Lula quanto o PSDB e o DEM que defendem “um novo modelo de desenvolvimento econômico, capaz de dar o passo seguinte das políticas sociais dos últimos governos assegurando a plena cidadania do povo brasileiro”. Passo seguinte? Como se daria isso? Eles nos dão uma pista: com o “indispensável o fortalecimento do papel do Estado” sabendo que “o limite para atuação dos movimentos sociais é o estado democrático de direito”. Paradoxalmente esse é exatamente o discurso neoconservador que está emergindo com o desdobramento da atual crise global.
Como bem notou a jornalista Luciana Araújo, em última análise o PV defende o “estado democrático de direito que preserva a Cutrale – doadora de campanha do PV que se auto-intitula proprietária de terras da União – e criminaliza o MST, o MTL e todos os movimentos sociais que lutam pelo direito à terra para plantar. Aqui o PV sinaliza concretamente que é contrário às ocupações de terras, ao questionamento ativo da propriedade privada”. Isso para não falar da criminalização da pobreza empreendida pelo Estado contra as favelas por exemplo.
Lembremos que o PSOL é um partido socialista e, portanto, é no mínimo importante que sua resistência não ajude a reproduzir o atual estado de coisas como a ala da terceira via dominante em nosso capitalismo contemporâneo, o que seria o efeito mínimo de uma aliança com o PV.
O grande desafio da esquerda hoje no Brasil é um programático distanciamento tanto da direita (PSDB) como da esquerda-liberal (PT). Para tal empreendimento, reconstruir um projeto socialista para além dessa dicotomia está na ordem do dia. Já temos um nome para essa necessária reconstrução de um projeto unificador anticapitalista da esquerda no Brasil: Plínio Arruda Sampaio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário