sábado, 1 de maio de 2010

1º de Maio e a situação política do Brasil

Esse primeiro de maio de 2010 já manifesta como se encontra a divisão política entre direita e esquerda no Brasil hoje. Desde a subida de Lula a presidência e a progressiva institucionalização generalizada do PT, CUT e UNE no Estado redemocratizado pela ditadura estamos vivendo uma centralização política da esquerda que, repetindo Francis Fukuyama, tem hoje como horizonte uma democracia capitalista sempre mais ampla, mais assistencial [mais despolitizadora], mais popular, mais prazerosa, etc. etc... O resultado é disso tudo “o cara”, Senhor Luis Inácio Lula da Silva – a figura pura da política da Terceira Via no mundo hoje.



Neste 1º de maio Lula foi ao show unificado da força sindical, CUT e na UGT em São Paulo. Neste ano a CUT recebeu R$1 milhão de “pai” trocínio para incentivar a presença de Lula e sua boa nova: Dilma Rousseff – “aquela senhora”. Ele disse que “não é possível resolver o problema de 500 anos em oito. É preciso um sequenciamento. Dilma, você ouviu o que eu disse? Sequenciamento...". Falando para um público de 10 mil pessoas Lula disse (como um jogador de futebol) que depois da presidência ira voltar a morar no mesmo apartamento e que “dar orgulho eu poder acordar de manhã e olhar para qualquer trabalhador e dizer para ele 'bom dia, companheiro." O cinismo que brota dessa fala é visceral - quer dizer que Lula foi um trabalhador lutando pelos trabalhadores na presidência e não um excelente gestor do capitalismo brasileiro, anos-luz de FHC. Lula ainda revelou que tinha medo de não ser um bom presidente porque "demoraria mais um século para um trabalhador poder pleitear ser presidente". Agora a lição é clara: colocar um trabalhador na presidência e azeitar o capitalismo é o horizonte da democracia-liberal. Sem dúvida um projeto de emancipação necessita superar esse horizonte diante dessa centralização política da esquerda e tons de repolitização da direita que dará o tom destas eleições.



Um método que qualquer pessoa progressista de esquerda no país pode utilizar como termômetro da pequena diferença ideológica entre Dilma e Serra que vão emergir a partir de agora se encontra em suas posições acerca do MST. Nesse primeiro de maio Dilma e Serra foram ao mesmo lugar: uma feira agrícola em São Paulo chamada AgriShow – a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina. Quem freqüenta esse lugar – tirando os terceirizados que trabalham nela – são os sujeitos que ambos consideram importantes do mundo da usurpação de trabalho: latifundiários e gente com altíssimo poder aquisitivo. Ali era o local perfeito para se emitir uma posição verdadeira de ambos sobre o MST. O jornal enfatizou que eram posições contrárias. Será mesmo? Veremos.



Dilma além de defender a alta da taxa de juros contra a inflação - defendida pelo Banco Central um dia antes – Dilma disse que “eu sou contra a tomada de locais públicos, sou contra aja invasão de terras, eu não acho razoável isso. Agora não acho também que seja correto uma atitude violenta contra os movimentos. Acho que sempre que você buscar o dialogo é melhor. Agora não pretendo, de maneira alguma, compactuar com qualquer atividade ilegal”. Depois de falar que não vai usar o boné do MST e enfatizar que “estado é estado, movimento é movimento”, Dilma já aprendeu que o diálogo conciliatório e democrático enfraquece a radicalidade das atividades sócio-políticas num adestramento do movimento. Ao mesmo tempo que deseja o diálogo não quer se compactuar com ela. Vai utilizar o capitalismo democrático para conter o MST num diálogo legal.



Serra enfatizou seu conservadorismo fascistóide dizendo que “movimento social é uma coisa, movimento político é outra. O movimento que existe no campo hoje de invasões programadas, de protestos, etc não é social, é político. É assim que tem que ser encarado.” Recebendo palmas Serra convenceu mais o público extremamente obtuso. Entretanto Serra é muito tosco e parece estar sempre tão cansado que esquece que a forma dialogal de contenção do MST é a lá Lula-Dilma é mais eficaz contra o movimento. De qualquer forma, como até o objetivo pessoal de muitos é “matar sem-terra”, Serra parece mais envolvente. Serra é pior, sem dúvida. Seus inimigos são os movimentos da esquerda organizada que coloca o status quo em perigo. Sua potencial vice – Kátia Abreu - já enfatizou até que a natureza da luta do MST contra a propriedade privada como correlata ao tráfico de drogas, pirataria e pedofilia. Enfatizando a necessidade do Estado em mediar o conflito do ponto de vista do capital Abreu diz que “a Força Nacional não tem o hábito de colaborar para evitar o tráfico de drogas, a pirataria e a pedofilia? É a mesma coisa. A Força Nacional vem para trazer paz, e não o conflito”. Quando Abreu diz que “a força nacional vem para trazer paz” a primeira pergunta é: paz para quem? Sem dúvidas Abreu utiliza paz no mesmo sentido da ação policial nas favelas do Rio: impor a paz pela força. Não seria esse um ótimo exemplo do que a pauta de centro-esquerda do PT no poder propicia ao movimento social ao se institucionalizar e criar as mediações para a “paz social” entre banqueiros nacionais e internacionais, a alta burguesia, o subproletariado, empresas transnacionais brasileiras, CUT, UNE, DEM, PMDB, bancada ruralista, Sarney, FMI, etc?



Por isso que essa posição do campo de Serra é o início da repolitização da extrema-direita no Brasil. Enquanto os problemas de Dilma são administrativos e burocráticos os de Serra são políticos identificando seus inimigos claros. Dilma não tem inimigos, é como Lula: atua pelo diálogo envolvente da democracia dominada pela oposição histórica do PT.



Como naturalmente não existe movimento político que não seja movimento social, um dos maiores desafios na democratização do país está sendo feita pelo MST e não PT ou PSDB ao auto-organizar-se e modificar a política de poder existente baseada na administração do Estado. Claramente o objetivo do MST é político, e daí? Somente um estado de emergência quer punir os inimigos políticos acusando-os de descumprir as leis da propriedade privada da terra que, no Brasil, por sinal, se encontra em limites absurdos de desigualdade. Diante deste Estado muito bem gerido pelo PT de Lula a Dilma, qual será a posição do movimento para expandir seu projeto político?



A importância do desdobramento desse projeto político do MST já foi bem sintetizava por Plínio de Arruda Sampaio do PSOL ao comentar a senhora Dilma quando pegou o boné do MST e disse: “esse é o boné da libertação do Brasil”. Se a democracia tem algum fundamento ainda, quem luta por ela está do lado do MST. Somos "Nós" que estamos lutando contra as coisas que sabotam a democracia antes de pensar em novas formas de revolução. Estamos entrando numa nova seqüência política em que o período "pós-Lula" deixa em aberto novas formas de política de esquerda e, sem dúvida, um dos principais atores dessa nossa seqüência é o MST se conseguir superar sua subordinação implícita ao estado lulista de coisas: entre Dilma e Serra existe uma falsa oposição.



A verdadeira questão é entre Dilma e Plínio de Arruda para (o que resta) da esquerda no Brasil.

Nenhum comentário: