A atual crise é uma resposta da crise entre que se manifestou no centro do centro do sistema do capital entre dezembro de 2007 e julho de 2009. Ela foi erroneamente encarada como uma crise específica do sistema financeiro (inclusive pela esquerda) e que, assim, para solucioná-la seria necessário apenas um novo tipo de regulamentação internacional dos fluxos de capital financeiro. Como o Estado interveio para assegurar o salvamento de bancos e instituições financeiras com cifras na escala de bilhões, agora a conta deve ser paga. Mas com que dinheiro?
Essa resposta só pode ser solucionada a partir da crise que está se desenvolvendo neste momento cujo epicentro é a Europa. Passamos da crise de crédito imobiliário para a crise fiscal do Estado capitalista. O primeiro sintoma que emerge nesta situação é a Grécia. Com um endividamento público em 115% do PIB, tornou-se imperativo para salvaguardar o capitalismo reduzir o déficit público do Estado, principalmente com a redução dos salários e prestações sociais além do congelamento das aposentadorias. Com a Grécia é o elo fraco da cadeia, assim como o lugar onde a combatividade contra essas reformas está sendo concreta e em larga escala, começamos a enxergar certas convulsões sociais que precisam cada vez mais do Estado para utilizar a violência policial para serem contidas. Essa crise está se espalhando para outros países europeus que já estão implementaram ou estão em vias de implementar grandes pacotes de austeridade como Letônia, Espanha, Portugal, Grã-Bretanha, Irlanda e Itália. Assim, como está sendo resolvida, do ponto de vista do capital, esta crise?
Sabemos que o capital restabelece suas taxas de acumulação, segundo Marx, a partir de duas formas principais: exploração da mais-valia absoluta com o aumento do tempo de trabalho e mais-valia relativa com a introdução da tecnologia como mediação do homem com a máquina. Ruy Mauro Marini acreditava que nos países periféricos ainda existia outra forma de exploração denominada de superexploração do trabalho a partir, fundamentalmente, da expropriação do fundo de consumo dos trabalhadores. Mas o que isso tem a ver com a atual crise?
Como a atual crise não é fundamentalmente uma crise financeira e sim uma crise dos mecanismos de produção de valor, a “solução” dessa crise para necessariamente pela piora nas condições de vida dos trabalhadores, até mesmo nos países chamados “desenvolvidos”. Assim a recuperação do capital está sendo feita sob um regime de superexploração do trabalho, agora inclusive dos países “desenvolvidos”. A superexploração do trabalho toma, agora, uma dimensão planetária. Estamos vivendo momentos parecidos com aqueles prévios a 1968 onde a ebulição social leva ao transbordamento da luta de classes, ainda sem uma forma estabelecida.
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