Resolvi retomar os escritos sobre a crise do capitalismo internacional. Escrevi bastante sobre ela entre agosto de 2008 até meados de setembro de 2009. Resolvi parar de escrever porque havia concluído que em junho de 2009 marcou-se o estancamento da crise após uma excepcional intervenção estatal. A intervenção do estado da bancarrota capitalista não foi apenas grande, foi com qualidade. Bem, em 2010, como havia sido notado nos textos de 2008 e 2009, seria o início de uma nova etapa da crise internacional do capitalismo dominado pelas finanças: e a havia denominado algo como neokeynesização financeira acelerada do Estado.
De forma espetacular um aprendizado dessa lição fica claro: o CRASH de 1929 foi adiado pelo conhecimento e poder econômico do FED norte-americano. Depois de frenéticas intervenções do governo para estabilizar a “confiança”, o sistema financeiro foi salvo com elegância enquanto, é claro, de setembro de 2008 a junho de 2009 foram despedidos 6 milhões de pessoas. Outra lição da crise de 2008 é que existem instituições financeira que “grandes demais para quebrar” e que seu colapso pode criar efeitos sistêmicos e catastróficos. São empresas que são grandes demais não apenas para quebrar. São grandes demais para existir. Sua complexidade torna impossível uma administração que não seja corrupta, inclusive na sua ligação com o estado. Aqui devemos encarar a dialética entre 11 de setembro e o colapso do Lemann Brothers dia 15 de setembro de 2008. Ambos acontecimento “pararam o tempo”. Foram dois choques que esgotaram o “fim da historia” da esquerda fukuyamista. Temos que tomar o sistema financeiro na sua relação com o capitalismo contemporâneo que não consegue mais se reproduzir sem a criação constante de capital fictício. Ele pauta a economia política em sua totalidade de tal forma que está produzindo um “estado de exceção planetário” da qual a importância do Estado se reduz a conter as manifestações com extrema violência enquanto não se tem a recuperação econômica.
Com as convulsões sociais na Grécia essa nova etapa da crise se escancara e ainda vai demorar algum tempo para se desdobrar. Trata-se da passagem da crise de crédito imobiliário para a crise dos tesouros. Coloca-se na ordem do dia o esgotamento dos tesouros que pagaram o preço da última crise em 2008-2009. Além disso, o epicentro da crise está contagiando o outro lado do atlântico e põem em risco o projeto do euro e União Européia em sua totalidade.
A Grécia é o sintoma da crise do euro e, ao mesmo tempo, o elo mais fraco da cadeia fiscal dos estados europeus (ao lado da Espanha, Portugual, Islandia e Irlanda). A Grécia representa o início da etapa européia da crise do tesouro. Aparentemente existem duas saídas dentro do capitalismo europeu: a zona do euro se torna um sistema federal para solucionar a crise fiscal do bloco ou a Grécia abdica da zona do euro. Sem centralização fiscal o euro não conseguirá se estabilizar. A crise da Grécia faz intensificar a integração da zona do euro para transformando-se numa federação que emita moeda.
No mesmo disso tudo com a intervenção do estado se inicia uma luta para superar a crise rapidamente e o crescimento do descontentamento da população grega que, por hora, representa greves gerais no centro e no interior do país pondo em risco a “ordem pública” coletivamente. Assim a intervenção do Estado é dupla: econômica e política. Assegura a circulação de dinheiro com altos custos sociais e assegura a ordem pública com a violência policial e militar. As subelevações de 2010 contra a crise financeira na Grécia já estão sendo contidas como se os manifestantes fossem terroristas. A tragédia do 11 de setembro foi realmente europeu. A esquerda ao dicotomizar democracia x terrorismo acabou caindo na estratégia da direita e agora terá que lutar contra si mesmo. A síntese de 11 de setembro e a crise de 2008 é que somente agora o terrorista se transforma nos agentes de transformação social. Para conter a crise é necessário combater a luta de classes como se a esquerda fosse terrorista: na mesma lista estaria Al Quaeda, Hugo Chavéz, MST, etc.
Indo a Portugal, as medidas do governo Sócrates já apontam para a “eliminação antecipada das medidas anti-crise” já que o País teria entrado numa fase de recupeção econômica. Portugal é um dos países da União Européia onde as medidas de estímulo fiscal à economia tiveram menor peso. De acordo com Relatório sobre a Reforma do Sistema Fiscal apresentado recentemente, essas medidas corresponderam, em Portugal, em 2009 a cerca de 0,9% do PIB, quando a média na UE atingiu 1,1% do PIB. E a previsão para 2010, era de 0,1% do PIB em Portugal e entre 0,7% e 0,8% a média na U.E. E é neste contexto, em que a economia e a sociedade portuguesa estão mergulhados numa profunda crise, que ainda por cima, é estrutural que PS e PSD se unem para eliminar todas as medidas anti-crise; para aumentar a carga fiscal, reduzindo assim o poder de compra da população, aumentando as dificuldades das empresas que não conseguem vender uma grande parte daquilo que produzem; para reduzir o investimento público, quando ele é tão necessário, face à quebra do investimento privado; e para eliminar as poucas medidas anti-crise. Atentemo-nos a Portugal que, junto com Espanha, prometem sacudir as certezas no capitalismo pós-crise. As gigantescas manifestações de protesto do povo grego contra a política do Governo do Partido Socialista e as medidas impostas ao país pela União Europeia e o FMI já iluminam nestes dias a amplitude e complexidade de uma crise sem precedentes.
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