As soluções para a crise grega continuam em suspenso. Ao mesmo tempo em que os planos de austeridade impostos a população ascendem chamas políticas que levaram cerca de 100 mil manifestantes as ruas, num plano macroeconômico as contribuições ao pacote de resgate a Grécia está abrindo o precedente de enxugar os cofres públicos da zona rica do euro. A Alemanha contribuirá com até 22,4 bilhões de euros (US$ 28,6 bilhões) para o pacote de três anos de 110 bilhões de euros (US$ 140 bilhões) disponibilizado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) e pela zona do euro à Grécia. O governo italiano aprovou nesta sexta-feira um decreto de lei que contempla 14,8 bilhões de euros (US$ 18,83 bilhões) em empréstimos à Grécia. Holanda e Espanha também já aprovaram leis para repassem de recursos a Grécia que na zona do euro já somam cerca de 110 bilhões de euros. O primeiro-ministro George Papandreou até afirmou que o pacote de ajuda financeira da UE e do FMI é a "única esperança" para evitar a bancarrota do país. Assim, como concluiu Papandreu “o futuro da Grécia está em jogo”.
Naturalmente para que esse plano de ajuda de emergência tenha algum impacto serão necessárias medidas de austeridade radical que, ao que parece, a população não está disposta a deixar acontecer tão facilmente. Afinal de contas, esse plano de austeridade cria um verdadeiro estado de emergência econômico na classe trabalhadora. Evitar a bancarrota grega parece nesse momento muito mais difícil do que o plano apresentado. O país vive uma crise política grave que coloca em risco a “ordem pública”.
Segundo o plano de austeridade publicado nesta semana, os gregos terão que enfrentar cortes drásticos nos próximos três anos numa economia de 30 bilhões de euros (cerca de R$ 80 bilhões), o déficit orçamental do país que se encontra em 13,6% do PIB precisa diminuir para 8,1% neste ano caindo para 2,4% em 2014, o plano também prevê o congelamento dos salários dos funcionários públicos por três anos, os aposentados perderão os 13º e 14º salários se suas pensões forem acima de 2.500 euros mensais, foi também estabelecida uma idade mínima para aposentadoria (65 anos para as mulheres), subida dos impostos de propriedade de terra, além de reduzir os investimentos públicos. Naturalmente os gastos militares (2,8 do PIB da Grécia contra 1,3% da Alemanha) e as medidas contra a evasão fiscal das grandes fortunas continuaram intactos.
Terça feira, dia 04 de maio, como sinal de mobilização social contra esse plano, cerca de 200 militantes comunistas ocuparam durante horas a Acrópole de Atenas onde exibiram uma bandeira gigantesca convocando a luta e a mobilização. Nas ruas foram vistos diversos cartazes como "Não daremos um centavo sequer pela crise", "Quando a injustiça se converte na única via, a resistência é um dever", "Nossa reação não pode outra do que a luta permanente". Esse dia de mobilização que reuniu 100 mil pessoas foi marcado por extrema violência policial e, ao mesmo tempo, falta de uma organização social que lide diretamente com a questão do poder e o esgotamento da democracia como forma de Estado que lide com a bancarrota capitalista grega. Dizer que não haverá socialização dos prejuízos não dá uma resposta positiva para a situação.
De qualquer forma, equiparável a Argentina em 2001, a crise econômica grega, acredito eu, só poderá ser superada com uma saída do campo do euro com o objetivo posterior de desvalorizar sua moeda. Enquanto a crise econômica não for superada haverá um amplo espaço para a esquerda de mobilizar e, não menos importante, se radicalizar diante da falta de respostas viáveis para o povo dado pelo governo.
A lição política da crise na Grécia é clara: o “poder de paz” diante de uma crise como essa é “remediada” pela polícia democrática. Qualquer iniciativa de massa contra a crise endêmica que vivemos será “contida” pela violência. Nos noticiários a polícia aparece como apaziguadora das situações violentas. Entretanto, a violência que emerge dos “de baixo” é apenas uma resposta a uma violência constitutiva do capitalismo internacional que não deixa dúvidas que, em nosso tempo histórico, não existirá solução para a multiplicidade de crise que vivemos – econômica, política, ambiental, energética, urbana, social, etc – sem a violência emancipatória que coloca a baixo a podridão de nosso sistema social.
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