Vivemos num momento dramático do processo político brasileiro. O duplo governo Lula está acabando ao mesmo tempo em que a esquerda organizada pelo PSOL, PSTU e PCB está se batendo para construir formas de articulação no intuito de defender um programa estratégico pós-democrático popular.
Como o assentamento institucional do PT no Estado brasileiro se mostrou um obstáculo em relação à construção do socialismo que ocasionou, entre além de outras coisas, um belo retrocesso em relação a mobilização e organização popular, talvez concordamos que o esgotamento da seqüência política lulista para nós se manifesta com o enorme desafio da construção da estratégia do socialismo do século XXI no Brasil e que, nestas eleições, serão plantadas apenas as primeiras sementes.
Naturalmente só podemos construir essa estratégia comum num médio prazo se for inventada uma nova frente de esquerda. As limitações de 2006 foram radicais e, sem dúvida, não poderiam persistir de forma alguma. 2006 foi marcado por uma euforia diante de um agente político emergente - o PSOL. Nessa euforia perdemos um dos pontos principais: o programa de transição ao socialismo. Em síntese nas eleições de 2006 a frente buscou superar o PT com o pano de fundo do discurso nacional-desenvolvimentista a lá César Benjamin. Esse descaso com os avanços programáticos tanto do PSTU e PCB como o próprio PSOL acarretou uma falsa unidade que necessita ser superada.
Em 2010 temos um outro cenário. Heloísa Helena recusou a ser pré-candidata a presidente do PSOL e está flertando com Marina Silva e seu programa ecocapitalista biodesagrádavel. Com a disputa interna se acirrando pelo nome de Plínio de Arruda o tempo foi passando e a frente de esquerda foi se tornando uma lenda. Agora com a candidatura oficial do Plínio coloca-se um desafio para além dos conflitos internos: como vamos construir a frente de esquerda de 2010? Como vamos construir um programa com nome?
O pressuposto para avançarmos no que seria uma nova frente de esquerda é a unidade. Mas como se constrói a unidade senão pelas condições estipuladas por cada parte? Assim, quais são as condições efetivas de cada um para a criação da frente? Se não se colocar logo de cara quais são as condições para a construção da frente da esquerda naturalmente não haverá frente de esquerda em 2010.
Se, ao contrário, se apontar apenas os limites de nossa situação atual – “falta de tempo”, “falta de centralismo estratégico”, “crise no PSOL”, etc – nossa unidade chegará, no máximo, a algo como “três candidaturas e um programa” proposta por Mauro Iasi no PCB. É uma interessante proposta, mas que, a meu ver, perde a dimensão política em jogo com a construção do nome de Plínio de Arruda para a esquerda. Talvez uma frente anticapitalista de 2010 seja exatamente ao contrário: “uma candidatura e três programas”. Isso seria mais confuso que “três candidaturas e um programa”? Como bem disse o próprio Mauri Iasi num Seminário sobre estratégia:
Seria por demais pretensioso afirmar que em nossa estratégia para o momento atual está certa, enquanto outras estariam erradas. Essa estratégia e essa formulação, se confirmará como certa ou errada, apenas através da história, e nós temos a convicção de que uma nova formulação só é possível, inclusive naquilo que ela pretende superar outras formulações, pelo construção histórica que antecede a construção das formulações de nosso partido.
Só podemos construir essa estratégia de forma conjunta, naturalmente sem importar alguma das elaborações a priori já que, no caso do PSOL, também existe uma disputa programática dura. Sei disso já que o PSOL é formado por tendências que buscam asseguram uma democracia interna tendo disputas como própria forma de organização partidária. Aqui a autonomia organizacional do PSOL deve ser respeitada e não usada de subterfúgio para se criar condições de impossibilidade de um debate sério sobre a frente de 2010. De qualquer forma Iasi também enfatiza que o elemento tático mais específico de nosso momento histórico – inclusive eleições - como “propaganda do socialismo e dos limites do capitalismo”. Logicamente concordaríamos que a estratégia socialista é de ruptura e que, se não vemos no nome do Plínio um excelente porta-voz dessa tarefa talvez o purismo já nos tenha tomado a cabeça e deixado de encarar esse pleito democrático-representativo como uma tática na própria estratégia do socialismo.
Claramente uma possível frente de esquerda em 2010 terá uma nova forma. Precisamos urgentemente reinventá-la ou talvez se inicie uma disputa por qual seria a melhor alternativa para a esquerda da qual quem perde é a própria esquerda. Por outro lado, se nos unirmos numa frente talvez nossas chances de começar essa seqüência na política brasileira pós-Lula de forma positiva sejam muito maiores tanto em coesão como estrategicamente. O processo que nos levará até Outubro será, sem dúvida, determinante na forma com que a relacionamento entre PSOL, PSTU e PCB se dará no período pós-Lula.
Independente dos próximos episódios da frente de esquerda para 2010 a questão é que se conseguirmos superar essa inimizade política e assentar uma política programática e organizativa para a nova frente de esquerda de 2010 sabemos, ao certo, que temos os mesmo inimigos. Fazemos parte da mesma “contra-hegemônia” pós-Lula e, se começarmos ela separados, já estamos estrategicamente equivocados em nossa conduta política. Esse é um desafio real que temos que lidar hoje.
Por uma nova frente de esquerda em 2010!
Plínio Presidente!
2 comentários:
Uma Frente de Esquerda para disputar eleições burguesas é coisa sem muito sentido.
A Frente precisa ser construída no dia a dia, não em 2010 para outubro, tchau e até 2014.
Que Plínio e Ivan Pinheiro aproveitem a dupla candidatura para construir uma Frente permanente, que não tenha como limitado horizonte os processos das viciadas eleições burguesas!
Caro Guizo,
Sem dúvida alguma, construir uma frente de esquerda SOMENTE para disputar as "eleições burguesas" é uma coisa sem sentido. Naturalmente, a frente precisa ser construída no dia a dia, mas quais são os espaços de militância que se encontram em comum entre os três partidos em plano municipal, estadual e nacional?
Me parece claro também que Plínio e Ivan Pinheiro, por mais que tenham candidaturas elas vão ter em comum, inexoravelmente, o "limitado horizonte das viciadas eleições burguesas", como vc diz, já que são "chamamentos" do Estado. Não devemos ser tão cínicos assim com a esquerda.
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