Althusser estava certo: a filosofia é essencialmente política. O verdadeiro pensamento do processo político é detido pelos militantes da luta de classes revolucionária. Segundo a síntese de Badiou apenas os militantes políticos pensam efetivamente a novidade política. O que o filósofo pode fazer é registrar, na abertura de possibilidades filosóficas não apercebidas anteriormente, o sinal de uma “pensabilidade” reaberta da política a partir dela própria.
Portanto em que pé estamos hoje? Como toda política cessa quando emerge o fim de uma seqüência política, a pergunta que temos que fazer é: em que seqüência política nos encontramos? Diria que com o fim do “período de férias do capitalismo”, principalmente com o 11 de setembro e a crise financeira internacional de 2008, coloca-se em questão uma nova seqüência política para além da democracia-liberal como horizonte de ação sob novas formas de organização. Sabemos que uma organização – coletivos, partidos, movimentos sociais, sindicatos, etc. - é a dimensão coletiva da ação política. Se alguém se propõem a militar para dar movimento em alguma causa social é necessário estar misturado numa organização com princípios e convicções políticas. Mas porque é necessário enfatizar o início de uma nova seqüência política? Como dizia Hegel, só podemos ter necessidade retroativamente. Não existe necessidade a priori. Apenas quando existe um ato é que ele se torna necessário.
São tempos que a esquerda parece estar desorientada. O primeiro ponto de reorientação estratégica é deixar o projeto democrático-popular como estratégia para apenas uma tática entre outras. O objetivo é anticapitalista. Isso por que uma crise internacional, por exemplo, é uma possibilidade e não a solução para superar os antagonismos sociais. É necessário experienciar uma certa impossibilidade já que, depois de uma quebra histórica, não é possível voltar ao passado. Como o modelo democrático-popular se mostrou o mais impotente possível para lidar com a crise de 2008, seria uma bela ignorância continuar com ele. Na realidade, na crise de 2008 até a burguesia se assustou com a falta de resistência da esquerda. O que faltou na última crise foi APENAS a esquerda. Essa já é uma bela razão para repensarmos nossa estratégia e nossas formas de organização.
A democracia-liberal “formaliza” as lutas sociais numa política sem Inimigo acarretando num azeitamento do antagonismo que sustenta a própria luta social. A neutralização do Inimigo é uma operação do Estado democrático para aparecer como um Estado legal. Num Estado ilegal os Inimigos emergem simplesmente por potencialmente problematizar a ilegalidade das políticas estatais. Assim, em nossa era pós-política a política se torna uma “política sem Inimigo”: o Inimigo é anônimo e surge como um vírus que não pode ser combatido.
Entrementes, uma vitória política Real só pode ser conquistada ao se conduzir o Inimigo ao centro do movimento. Ao se excluir a dimensão do Inimigo se perde o principal: o fortalecimento da luta. Na realidade, com quantos mais Inimigos nos deparamos mais aprendemos sobre nossas limitações. Em última instância sempre temos medo por nossa indefensabilidade perante o Inimigo.
Para finalizar diria que nessa nova seqüência política temos duas tarefas cruciais: construir uma imagem reconhecível do Inimigo e identificar o “ponto de captação” do espaço ideológico-político que unifica a multidão de adversários políticos com que estamos interagindo em nossas lutas. A reciprocidade dialética dessa operação é o que cria as bases para um movimento de massas. Sem um Inimigo visível não existe objetivo político que possa ser perseguido assim como sem encontrar o “ponto de captação” correto os meios táticos da luta são desorientados e não tendem a um acúmulo temporal necessário na construção de organizações fortes e interdependentes que mobilizem as lutas sociais contemporâneas.
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