quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Nota sobre a pós-política petista - parte 6

Como diz Paulo Arantes, “brilha no céu o inspirador ponto final lulista”. O governo Lula re-configurou o capitalismo, as relações de classe, a esquerda, a política e a história do Brasil. Suspendeu-se a ordem política democrática com um metalúrgico na presidência que acabou por avançar um “capitalismo de crédito para pobres”. É um fenômeno de proporções internacionais! Essa superação contraditória da via prussiana se deu tanto por condições externas propícias como um interdito proibitório contra a esquerda numa declarada vitória do pragmatismo centrista como "condição de governabilidade". Como bem disse Arantes, “foi o grande negócio – seja ele qual for, a lógica financeira é a mesma – que aderiu ao lulismo e não o contrário. Simplesmente entregou a uma camada de gestores e operadores políticos, na qual a grande massa dos pobres enfim se reconheceu, o governo de uma sociedade em que a pobreza assistida ganhou uma identidade moral própria e superior. Encontrou-se afinal, para um país periférico finalmente alojado no capitalismo energético, uma forma de dominação inédita, exercida não só em nome, mas pelos próprios dominados. É uma espécie de auto-gestão da miséria, mas que como tais devem no entanto permanecer para ter voz, forrada agora pelo estofo da auto-estima reencontrada – capital político sem preço”. É a instalação da pós-política democrática pluriclassista “fukuyamista” como discurso nacional oficial numa estranha mistura de gestão dos interesses privados (nacionais e internacionais) com o fim da história política sob a figura do PT no poder. Como resultado a esquerda está hibernando. Talvez quando acordar (se acordar) seja tarde demais.

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