Sabemos que para Marx a superprodução é um sintoma de crise. Ela ocorre, resumidamente, quando a produção supera a capacidade de consumo. Desde 1970 estamos vendo o desdobramento de uma profunda crise em nível mundial de superprodução no terreno das manufaturas principalmente pela ascensão da Alemanha e do Japão no mercado mundial e, consequentemente, afunilando os mercados internacionais dominados pelos Estados Unidos. Entretanto, podemos notar o movimento de superprodução numa escala menor e mais específica.
No Brasil a novidade de um campo que experiência uma superprodução generalizada é a avicultura. Ao acelerar a produção e, consequentemente, elevar a oferta, a conseqüência está sendo um excesso produtivo de frangos. O alojamento de pintinhos que representa a oferta futura de carne nos supermercados superou neste mês 500 milhões de unidades. Número superior ao mês de fevereiro, por exemplo, que tinha 406 milhões. Como o movimento da crise não aumentou o consumo interno e a demanda externa teve uma leve baixa, a renda nos segmentos aviários está em crise tanto na cadeia de produtores como na de indústrias e exportadores. Essa oferta sem demanda fez o preço do quilo da ave viva recuasse para R$ 1,30 em São Paulo, valor que não era registrado desde abril do ano passado. Como disse um analista, “os produtores podem ter dado um passo maior do que a perna”. Não brinque! Quando existe um aumento de 5,1% em um mês, normalmente esse é o resultado e, portanto, não deveria ser surpresa para ninguém. Entretanto, esse é o movimento capitalista que, ao incrementar a produtividade acaba por produzir mais e, consequentemente, necessita vender para realizar seus gastos e continuar esse processo expansivo.
A crise de superprodução no Brasil não fica apenas com os frangos. O indicador de julho acerca da produção industrial também aumentou 2,2% na comparação com junho. Esse movimento é acompanhado junto com uma ofensiva contra o emprego. No Brasil, entre 1989 e 2005, o desemprego passou de 1,9 milhão de trabalhadores (3,0% da PEA) para 8,9 milhões (9,3% da PEA). Ainda no Brasil, desde 1998, o desemprego baseado numa categoria simplista encontra-se acima de 9%, podendo nos dar uma pequena dimensão quantitativa do processo de degradação do trabalho na periferia do capitalismo mundial. Entretanto, se tomarmos não somente o desemprego aberto (baseado na procura ativa, disponibilidade imediata para trabalhar e sem atividade superior a uma hora na semana da pesquisa), mas também os trabalhadores com atividades inferiores a 15 horas semanais e com remunerações abaixo de meio salário mínimo mensal, a taxa de desemprego chega a 27% do total da força de trabalho.
Um comentário:
É, parece que o clássico "o povo brasileiro está comendo mais frango" do seu xará FHC está tomando proporções estruturalmente perigosas. A "congestão galinácia" da economia brasileira, ou a superprodução em geral, vão impor que medidas políticas e econômicas pro Brasil nos próximos anos?
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