sábado, 19 de setembro de 2009

Nota sobre a centralidade do trabalho

Já estamos presenciando a universalização do modelo oriental de produção capitalista – o japonês e chinês. A reforma para “a nova configuração do capitalismo” é dupla: uma forma de produção dominantemente “toyotista” e uma crescente hibridização entre capital e Estado numa “chineização global” – isso é, o Estado direcionado para administrar a crise permanentemente com práticas excessivas como modelo normal de governo (sobre essa transformação podemos lembrar o cerceamento de favelas, a brutalidade policial em relação a pobreza, legislações anti-trabalhistas e anti-imigrantes, privatização do sistema penitenciário). Hoje, do ponto de vista do capital, guerra e crime são praticamente sinônimos.

O desdobramento desse processo é conjunto com uma ampla ideologia baseada no "fim da centralidade do trabalho" para o ser social. O trabalho não seria mais uma categoria social central - seja pelo intensivo processo de automação, pelo consumo, pela fragmentação e precarização do proletariado. Muitos da esquerda chegam as mesmas conclusões aludindo, consequentemente, que a força de transformação social passou a ser aqueles que demandam integração no sistema capitalista: demandas raciais, de gênero, espécie, tolerância, multiculturalismo, etc. Como a transformação social não pode mais ser baseada no trabalho, os apetites oportunistas de diversas demandas desconexas se tornam o horizonte humano numa aceitação aberta do conto do "fim da história".

Entretanto, grande parte do “debate sobre o fim da centralidade do trabalho” se ampara sob uma compreensão altamente superficial da emergência do desemprego estrutural no sistema do capital. Os mais exagerados apologistas dizem que “quando o trabalhador é despedido isso demonstra que a sociedade contemporânea está criando tempo livre para o desenvolvimento do trabalho imaterial” ou propõem que “com o progressivo fim dos empregos, o capitalismo cria condições para que o desempregado possa vender sua experiência no mercado e ganhar uma boa renda”. Alguns ainda relatam que entramos magicamente numa fase qualitativamente diferente do capitalismo (como se isso fosse possível naturalmente) que, com “o fim da centralidade do trabalho”, a emancipação necessita ser baseada num “desejo de democracia”, por mais que seja exatamente a longa tradição da “democracia liberal”, também nos países mais avançados, que esteja construindo hoje formas de repressão contra os desempregados que, do ponto de vista do capital, necessitam ser ejetados com o aprofundamento da crise estrutural.

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