Quando Marx descreveu os mecanismos de reprodução sócio-histórica do capital, pelos quais existe uma abstração social generalizada que rege progressivamente a vida social capitalista, ele denominou de fetichismo das mercadorias. Em seu tempo, entretanto, ele não poderia construir uma crítica-positiva das necessidades sociais dominantes sob a superação da ordem global do capital. Mesmo considerando que o socialismo estava próximo, na verdade Marx cometeu o erro de considerar as crises de expansão de sua época como a crise estrutural que abalaria as condições objetivas de atendimento dos imperativos existenciais do capital. Essa crise - de cunho estrutural, global e multidimensional – se inicia, entretanto, em meados de 1970. Paradoxalmente, conjuntamente com essa crise se iniciou também uma implacável luta pela Verdade para a qual as forças revolucionárias deveriam se nortear. Essa Verdade se distanciou da crítica-positiva sobre o complexo de alienações e fetichismos compostos pelo metabolismo social do capital em sua divisão estrutural e objetivamente hierárquica do trabalho sobre o capital e parece se acomodar perto dos ideais da democracia-liberal. É o fim da história diria um filósofo do Departamento do Estado norte-americano, mas será que a razão revolucionária que luta por uma mudança qualitativa na organização da sociedade rumo à emancipação individual e social no sentido de possibilitar o livre desenvolvimento das potencialidades e capacidade humanas, rumo ao ser, ao valor de uso, à circulação da dádiva deve aceitar isso?
Vale o lembrete de István Mészáros: A matriz das aspirações de emancipação não pode em hipótese alguma estar no sistema do capital. Se estivermos seriamente interessados na realização completa do mandato emancipador, com suas dimensões formais e informais, teremos de imaginar uma ordem metabólica social da qual se removam todas as determinações e defeitos incorrigíveis do capital. Evidentemente é preciso ter em conta o fato de que são necessários muitos passos até que se chegue àquele estágio, e que eles não podem ser dados num futuro hipotético. É preciso começar imediatamente, no presente, assumindo o controle das alavancagens e mediações práticas pelas quais deve passar o progresso, desde o presente realmente existente até o futuro esperado. É fundamental ter uma boa avaliação das nossas forças e recursos, tal como definidos pelas restrições do presente e pelas mediações mais ou menos limitadas ao nosso alcance. Mas nem mesmo um progresso reduzido será possível se não tivermos uma estrutura estratégica de orientação: um 'objetivo geral' que pretendemos atingir. O convite a se deixar orientar pela defesa estratégica da "mudança gradual" pode superficialmente parecer tentador. Mas na realidade essa proposta é enganadora e desorientadora, pois tende a permanecer cega se não se integrar numa estrutura estratégica abrangente, o que equivale a cancelar a nossa autodefinição retórica e geradora de slogans.
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