terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Três teses sobre a atual crise

Resolvi momentaneamente voltar a escrever sobre a atual crise

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Tese 1 - Nossa atual crise não deixa espaço para grandes otimismos. De bolha em bolha, o modo de reprodução financeira dominante do capital não deixa dúvidas que a orientação geral da produção de riqueza social baseada no capital não é o atendimento das necessidades humanas. Enquanto em novembro de 2009 o Goldman Sachs angariou US$100 milhões por dia de recursos estatais, em torno de metade da população mundial passa fome. O sistema bancário dos Estados Unidos gastou mais de cinco bilhões de dólares fazendo lobby para se livrar de uma dúzia de regulamentações enquanto estamos no início de uma profunda crise de energia, escassez de água potável e o surgimento dos refugiados ecológicos. As contradições são inúmeras, mas representam que, cada vez mais, capital e humanidade são antagônicos. Em janeiro de 2008, 2 milhões de pessoas perderam suas casas nos EUA. Essas famílias, em sua maioria pertencente às comunidades afroamericanas e de origem hispânica, perderam, no total, cerca de 40 bilhões de dólares. Naquele mesmo mês, Wall Street distribuiu um bônus de 32 bilhões de dólares para aqueles “investidores” que provocaram a crise. Uma forma peculiar de redistribuição de riqueza, que mostra que, nesta crise, muitos ricos estão fincando ainda mais ricos.

Tese 2 - O capitalismo está baseado no crescimento – que é vangloriado por muitos na esquerda também. Em geral, a taxa mínima de crescimento aceitável para uma economia capitalista saudável é de 3%. O problema crônico do capitalismo contemporâneo é que está se tornando cada vez mais difícil sustentar essa taxa sem recorrer à criação de variados tipos de capital fictício, como vem ocorrendo com os mercados de ações e com os negócios financeiros nas últimas duas décadas. Para manter essa taxa média de crescimento atual será preciso produzir mais capital fictício, o que produzirá novas bolhas e novos estouros de bolhas. Um crescimento composto de 3% exige investimentos da ordem de US$ 3 trilhões. Em 1950, havia espaço para isso. Hoje, envolve uma absorção de capital muito problemática. A China está caminhando no mesmo sentido.

Tese 3 - O capitalismo poderá sobreviver a essa crise? Indubitavelmente sempre respondo: sem dúvida alguma! A questão é: a que custo? Também sem dúvidas com o custo altíssimo de uma maior expropriação dos direitos do trabalho numa intensificação da atual precarização generalizada, expansão do crédito (e dívidas), fundos de pensão, maior degradação ambiental, atomização social, aumento das desigualdades de classe e, para o sucesso disso tudo, um aumento expressivo na repressão policial e política. Todos os mecanismos históricos anti-crise estão sendo utilizados alimentando a destruição ecológica, a concentração espacial de renda, o desemprego, etc. Ainda por cima, quem está sendo responsabilizado pela crise são os trabalhadores e não os grandes capitalistas. Por essas e outras que precisamos de uma transformação revolucionária da ordem social.

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