Após
o hiato de 17 anos, François Hollande será o
segundo presidente socialista da França. Hoje Hollande disse que "o dia 6
de maio deve ser um grande dia para o país, um novo começo para a Europa, uma
nova esperança para o mundo". Será mesmo? As memórias em relação
ao socialista François Mitterrand misturam o sentimento de fracasso e capitulação.
Hoje a questão política em aberto é: Hollande será um novo
Mitterrand ou iniciará um caminho pós-neoliberal para a França e a Europa?
De forma geral, a esquerda européia passa por uma
encruzilhada. As recentes mobilizações em países como Grécia, Espanha,
Inglaterra e França estão dizendo em alto e bom som um “Basta!” às políticas de
austeridade neoliberais que tendem a destruir o Estado de Bem Estar Social
construído a partir do pós-guerra - e, por ora, nada mais. Em última análise,
tem-se muito a perder e não se sabe em que direção avançar. Tais mobilizações
expressam uma autêntica raiva que não consegue se transformar num programa
positivo de mudança sócio-política. É claro que estes movimentos estão dando
uma contribuição decisiva na abertura de novos espaços de auto-organização, mas
o que fazer quando o entusiasmo das multidões se esgotar está ainda
completamente em aberto. O que agrava esta situação é ainda a repolitização da
extrema-direita que, a cada manifestação popular, ganha novos adeptos. É um
momento de novas polarizações.
Para Hollande, entretanto, a França não está condenada à
austeridade. Mas qual poderia ser seu plano pós-neoliberal? As
experiências pós-neoliberais se caracterizam ao mesmo tempo pela recusa
retórica do neoliberalismo e por conter muitos de seus traços fundamentais.
Entretanto, as experiências pós-neoliberais existentes ocorrem em países da periferia,
e não no centro, o que abre uma novidade. No centro o desenvolvimento das
forças produtivas e da acumulação de capital alcançou um grau que lhes impôs
uma taxa média decrescente nos lucros. Em suma, o que poderia ser um projeto
pós-neoliberal num país em que o desenvolvimento capitalista bateu no teto?
O neoliberalismo nos países do centro desenvolveu uma intensa
especulação financeira e a transferência de suas plantas industriais para
países agrários. Procurou-se elevar suas taxas médias de lucro através da
produção de dinheiro fictício e da extração de mais-valia absoluta em países
com força de trabalho barata. Essa saída, entretanto, intensificou as
contradições nos países desenvolvidos. Incentivou a desindustrialização interna
e o conseqüente desemprego. Fez emergir uma cisão entre o lucro das corporações
empresariais globalizadas e os recursos que elas internalizavam para manter os
Estados nacionais e o padrão de vida das camadas altas e médias de suas populações.
É partir destas contradições, muito diferentes daquelas na América Latina, que
pode emergir um projeto pós-neoliberal na Europa. Mas o que poderia ocorrer em
tal projeto?
Um
projeto pós-neoliberal europeu depende da promoção
diversas formas de propriedade social, desde empresas cooperativas até empresas
estatais e associações destas com capitais privados, passando por um amplo
leque de formas intermediárias nas quais trabalhadores, consumidores e técnicos
estatais se combinem de diversas formas para engendrar novas relações de
propriedade sujeitas ao controle popular, sem confundir propriedade pública com
propriedade estatal. Em suma, o desafio europeu é desenvolver um
pós-neoliberalismo cujo caminho de desenvolvimento que não seja exclusivamente
capitalista que avance na criação de formas de propriedade que possam se
transformar em formas socialistas.
Afinal, seria possível um pós-neoliberalismo
na Europa?
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