O que explica a
empresa oficial evitar qualquer comentário sobre o
afastamento de Bo Xilai da liderança do Partido Comunista (PCC) em Chongqing?
Para
aqueles que se arriscam a dizer algo na mídia ocidental é comum encontrar
primeiramente uma grande dificuldade de caracterizar o próprio Bo Xilai. Ele
costuma ser chamado ao mesmo tempo de “conservador”, “radical”, “reformista”, “esquerdista”,
“populista” e “neomaoísta”. A confusão é geral.
É
claro que é muito difícil saber o que está realmente acontecendo, mas podemos
especular um pouco mais.
Líder
de um município com mais de 30 milhões de habitantes com uma área maior que a
Bélgica e a Holanda juntas que vivem um amplo crescimento econômico, como os 16%
em 2011, Bo Xilai era candidato a um dos noves lugares do Politburo do PCC, a
cúpula do poder na China, cuja composição será decidida no XVIII Congresso do
Partido. Uma nova geração, encabeçada pelo atual vice-presidente, Xi Jinping,
assumirá a liderança do país para a próxima década. Tudo parecia correr
bem, mas aconteceu um revés extremamente inesperado nessa transição que parecia
“pacífica e harmônica”. Um dia depois de o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao
ter advertido que "uma tragédia histórica como a Revolução Cultural poderá
voltar a acontecer", num alerta que parece visar a "cultura
vermelha" sob a liderança de Bo Xilai, foi anunciado seu afastamento do
comando do PCC em Chongqing. Ficou claro que os ecos da Revolução
Cultural ainda soam na China.
(em março de 2011 quando mais de 3 mil pessoas foram a Grande Muralha de Chongqing cantando canções vermelhas)
Uma
primeira lição sobre a queda de Bo Xilai é que na China ainda existem conflitos em
torno do legado de Mao Zedong. O
melhor exemplo desta linha política foram os chamados à mobilização
popular com canções maoístas (“chang hong”), o envio de milhões de mensagens por celular com citações do livro
vermelho de Mao, fazendo retornar o fantasma revolucionário da Revolução
Cultural dos anos 60. Até as propagandas foram substituídas por “programas
vermelhos” com novelas narrando histórias revolucionárias. Como disse
Bo, o sistema de
valores socialistas centrais é o rejuvenescimento da alma, a essência da
cultura socialista avançada e determina a direção para a frente do socialismo
com características chinesas.
(manhã de 29 de junho de 2011 na abertura da Cerimônia da Canções Vermelhas Chinesas com cerca de 100 mil pessoas)
Dessa forma progressivamente
começou a se expandir o medo de parte de certos setores do Partido de que o
“modelo Chongqing” pudesse despontar como uma alternativa de desenvolvimento
chinês futuro. Com sua
ênfase no retorno dos valores revolucionários de Mao, Bo se tornou o alvo
daqueles que estavam descontentes com a campanha anti-corrupção e seus excessos
relacionados ao legado da Revolução Cultural. Assim ele fez muitos inimigos
dentro e fora do Partido, dentre a oposição de Hu Jintao. Talvez
umas das razões dessa oposição de Hu Jintao a Bo tenha aumentado quando em
junho de 2011 Bo enviou a Beijing centenas de cantores das “músicas vermelhas” sendo
considerado como uma afronta ao Comitê Central. Afinal, o dirigente
de Chongqing abandonaria o tom de reforma e abertura de Deng Xiaoping para
abarcar uma política calcada na revolução cultural maoísta?
Agora a coisa se torna mais complexa. O
estilo "neomaoista" do ex-lider de Chongqing possui muitos
admiradores. Alguns dos sites dessa corrente neomaoísta foram bloqueados na
internet, como Utopia e a Bandeira de Mao. Moradores de Chongqing que
costumavam se reunir em praças para cantar canções revolucionárias foram
instruídos pela polícia a abandonar o hábito para não “incomodar” os vizinhos.
O calendário das canções vermelhas foi cancelado. Um dos principais
intelectuais neomaoístas, Sima Nan, teve bloqueada sua conta no weibo, a versão
local do twitter. A ironia é que a censura agora atinge músicas
consagradas pelo próprio Partido Comunista e seu líder máximo, Mao Zedong.
Será
o fim do “modelo de Chongqing” ou o retorno da Revolução Cultural?
A situação está longe do fim.
Um comentário:
Ei,meu velho, que interessante isso aí! Realmente, se formos depender da informação "tradicional", não saberemos da missa a metade. Parabéns pelo blog, vou lê-lo todo outro dia.
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