quarta-feira, 21 de março de 2012

Ainda sobre Bo Xilai e o retorno da Revolução Cultural




O que explica a empresa oficial evitar qualquer comentário sobre o afastamento de Bo Xilai da liderança do Partido Comunista (PCC) em Chongqing?
Para aqueles que se arriscam a dizer algo na mídia ocidental é comum encontrar primeiramente uma grande dificuldade de caracterizar o próprio Bo Xilai. Ele costuma ser chamado ao mesmo tempo de “conservador”, “radical”, “reformista”, “esquerdista”, “populista” e “neomaoísta”. A confusão é geral.
É claro que é muito difícil saber o que está realmente acontecendo, mas podemos especular um pouco mais.
Líder de um município com mais de 30 milhões de habitantes com uma área maior que a Bélgica e a Holanda juntas que vivem um amplo crescimento econômico, como os 16% em 2011, Bo Xilai era candidato a um dos noves lugares do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China, cuja composição será decidida no XVIII Congresso do Partido. Uma nova geração, encabeçada pelo atual vice-presidente, Xi Jinping, assumirá a liderança do país para a próxima década. Tudo parecia correr bem, mas aconteceu um revés extremamente inesperado nessa transição que parecia “pacífica e harmônica”. Um dia depois de o primeiro-ministro chinês Wen Jiabao ter advertido que "uma tragédia histórica como a Revolução Cultural poderá voltar a acontecer", num alerta que parece visar a "cultura vermelha" sob a liderança de Bo Xilai, foi anunciado seu afastamento do comando do PCC em Chongqing. Ficou claro que os ecos da Revolução Cultural ainda soam na China.

(em março de 2011 quando mais de 3 mil pessoas foram a Grande Muralha de Chongqing cantando canções vermelhas)

Uma primeira lição sobre a queda de Bo Xilai é que na China ainda existem conflitos em torno do legado de Mao Zedong. O melhor exemplo desta linha política foram os chamados à mobilização popular com canções maoístas (“chang hong”), o envio de milhões de  mensagens por celular com citações do livro vermelho de Mao, fazendo retornar o fantasma revolucionário da Revolução Cultural dos anos 60. Até as propagandas foram substituídas por “programas vermelhos” com novelas narrando histórias revolucionárias. Como disse Bo, o sistema de valores socialistas centrais é o rejuvenescimento da alma, a essência da cultura socialista avançada e determina a direção para a frente do socialismo com características chinesas.

(manhã de 29 de junho de 2011 na abertura da Cerimônia da Canções Vermelhas Chinesas com cerca de 100 mil pessoas) 

Dessa forma progressivamente começou a se expandir o medo de parte de certos setores do Partido de que o “modelo Chongqing” pudesse despontar como uma alternativa de desenvolvimento chinês futuro. Com sua ênfase no retorno dos valores revolucionários de Mao, Bo se tornou o alvo daqueles que estavam descontentes com a campanha anti-corrupção e seus excessos relacionados ao legado da Revolução Cultural. Assim ele fez muitos inimigos dentro e fora do Partido, dentre a oposição de Hu Jintao. Talvez umas das razões dessa oposição de Hu Jintao a Bo tenha aumentado quando em junho de 2011 Bo enviou a Beijing centenas de cantores das “músicas vermelhas” sendo considerado como uma afronta ao Comitê Central.  Afinal, o dirigente de Chongqing abandonaria o tom de reforma e abertura de Deng Xiaoping para abarcar uma política calcada na revolução cultural maoísta? 
         Agora a coisa se torna mais complexa. O estilo "neomaoista" do ex-lider de Chongqing possui muitos admiradores. Alguns dos sites dessa corrente neomaoísta foram bloqueados na internet, como Utopia e a Bandeira de Mao. Moradores de Chongqing que costumavam se reunir em praças para cantar canções revolucionárias foram instruídos pela polícia a abandonar o hábito para não “incomodar” os vizinhos. O calendário das canções vermelhas foi cancelado. Um dos principais intelectuais neomaoístas, Sima Nan, teve bloqueada sua conta no weibo, a versão local do twitter. A ironia é que a censura agora atinge músicas consagradas pelo próprio Partido Comunista e seu líder máximo, Mao Zedong.
Será o fim do “modelo de Chongqing” ou o retorno da Revolução Cultural?
A situação está longe do fim. 



Um comentário:

Eduardo Vianna disse...

Ei,meu velho, que interessante isso aí! Realmente, se formos depender da informação "tradicional", não saberemos da missa a metade. Parabéns pelo blog, vou lê-lo todo outro dia.