O Brasil vive um momento de
radicalização na base da sociedade, abortada pela falta de canais e
instrumentos que organizem politicamente este tipo de rebelião popular fruto
das contradições do capitalismo recente.
Uma das
respostas que estão sendo dadas pela classe trabalhadora nesta situação é a ação
direta: seja por greves, paralisação de vias públicas ou ocupações de terras urbanas
e rurais.
Está
cada vez mais claro que o acúmulo de forças da “esquerda negociadora” e das
disputas institucionais está superado, a não ser quando o objetivo for a
ruptura com a ordem. Isso num momento em que se encontra latente a
possibilidade da direita mais ordinária e golpista voltar ao poder, o que cedo
ou tarde vai acontecer, as práticas institucionais passam a conter as
transformações, empurrando o movimento popular para trás.
Nossa dificuldade é que diante
da enorme dificuldade do movimento sindical em organizar no espaço de trabalho
um segmento crescente de trabalhadores (desempregados, temporários,
terceirizados, trabalhadores por conta própria etc.), o espaço em que milhões
de trabalhadores no Brasil e em outros países tem se organizado e lutado é o
território, em especial na periferia das grandes cidades. Na atual dinâmica da
luta de classes, o local das verdadeiras lutas contra a ordem social não é no
campo ou na selva, mas na periferia, o território da nova classe trabalhadora.
É por isso que desenvolver formas mínimas de auto-organização nas periferias é
nosso grande desafio urgente.
Não é a toa que talvez a
tendência mais explosiva da luta de classes no Brasil no próximo período seja a
expansão de ações policias contra os protestos que interditam ruas, estradas e
prédios públicos. Reconhece-se que o avanço destas ocupações interrompem o serviço
de transporte público e de cargas causando danos importantes ao capital. Será
cada vez mais usual o envio de forças armadas com o objetivo de “contenção dos
trabalhadores”, seja a Força Nacional, Polícia Militar, Comando de Operações
Especiais, bombeiros, agentes da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal
entre outros órgãos de segurança. Em
suma, o próximo período será marcado por uma rígida atuação policial durante os protestos em
vias públicas.
As
classes populares no Brasil ainda necessitam de água, luz, esgoto, moradia e infra-estrutura
e estão colocando-se em luta para socializar a riqueza. A combinação e unidade entre esses sujeitos, demandas e
ações tem seu próprio ritmo e mobilização. Nosso dever é saber transformar suas
reivindicações em ações massivas, independentes do governo e seus
correligionários. Isso só surgirá, entretanto, se retomarmos a velha lição de
organização junto à base popular, em seu dia a dia, em lutas diárias e miúdas.
Somente as grandes mobilizações, o estímulo a todas as formas de luta de massa
por necessidades imediatas e o trabalho de base podem alterar nossa situação
diante da nova dinâmica da luta de classes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário