segunda-feira, 21 de junho de 2010

E quando cai a ficha da esquerda? Lições da crise e do esgotamento da estratégia democrática de transformação social

Com a ascensão social grega contra as medidas de administração da crise do capital e do Estado sob um governo fukuyamista ficou claro que a era da ideologia neoliberal chegou ao fim. Ou a esquerda se reconstrói ou não conseguirá responder as lutas sociais que emergem no atual tempo histórico. O espectro da luta de classes começa a ter um desdobramento global numa época de crise estrutural da totalidade do sistema em conjunto com a crescente prática excessiva do Estado contra a mobilização social. Essa função do Estado neokeynesiano busca também salvar “em última instância” o capital fictício com recursos públicos. A Grécia aponta um sintoma da crise na Europa que pode transformar as relações de poder existentes colocando em jogo a democracia parlamentar, coisa inconcebível na crise aberta em 2007 nos Estados Unidos onde mobilizações de massa ainda não se fizeram presentes. Entretanto, agora, a luta grega (e de todos socialistas) mostra que tem sérias dificuldades para se desdobrar num ascenso de massa revolucionário que coloque aponte para a superação do capitalismo. Isso pode se modificar rapidamento quando for necessário o governo norte-americano também fazer pacotes de austeridade que marcariam a superexploração do trabalho como nunca apareceu nos últimos 70 anos!

Para a esquerda a questão: essa indeterminação estratégica, principalmente por que não se tem clara quais são as alternativas viáveis para uma transformação social num período de crise aberta e, aparentemente, irresolvível faz com que as antigas soluções fáceis – pleno emprego! Mais Estado! - não tenham mais lugar. Uma outra alternativa que não a democracia liberal procura seu encontro na esquerda contemporânea aos trancos e barrancos. O velho insiste em retornar (catástrofes, crises, etc.) enquanto o Novo não possui uma repetição estrategicamente coerente ampla e das organizações revolucionárias e das massas.

Neste sentido que a construção de alternativas socialistas relacionada com a crise do marxismo. Essa crise se dá em duas dimensões: teórica e organizativa. A primeira diz respeito à precipitação empirista próprio de nosso capitalismo contemporâneo que postula uma ética individualista e que “ajude o mundo” ao mesmo tempo. Faça muito! Se Sacrifique! Assim emerge a ideologia, naturalizando o conflito imanente do capital e estabelecendo as coordenadas “seguras” de ação política. O melhor exemplo hoje é a expansão da ideologia política da estratégia global dos EUA: o terrorismo: ele se torna o significante que iguala todos os males sociais, passando da Al Quaeda aos palestinos, de Hugo Chavéz ao MST. A paranóia da direita esterilizou a esquerda que caiu direitinho na jogada diante da “chantagem democrática” contra os “terroristas”. Tudo se passa como que existissem diversas alternativas no capitalismo, desde que não se questione seriamente a democracia-liberal. Isso é consenso na esquerda institucionalizada no Estado capitalista. Assim se deixa de lado o método materialista dialético como fundamento da construção alternativa ao capitalismo numa via revolucionária. Aceitamos o jogo (vide PT). Em outras palavras a aceitação das regras do jogo “politicamente corretas” está diretamente ligada com um “auto-aprisionamento” da esquerda que se representa e se organiza cada vez mais não como uma alternativa viável para a atual crise e sim como um obstáculo ao processo de emancipação e auto-organização.

Nessa crise “teórica” que naturaliza o capitalismo perde-se o conteúdo excessivo e constituinte da esquerda moderna que, além de tomar para si a resolução das questões centrais que dizem respeito ao conflito de classes em suas diversas manifestações, deve estar orientada por uma estratégia viável anticapitalista. O limite da esquerda fukuyamista é exatamente este: ao se descartar que uma alternativa comunista possa ser construída seguindo uma via extraparlamentar e que organize as massas pela base numa militância orientada a experiências de auto-organização popular qualitativamente diferente daquela postulada pelos sindicatos e partidos clássicos a realidade se apresenta sem nenhuma alternativa radical e viável. É claro que ainda devemos tomar o poder numa revolução, mas para isso se faz necessário novas formas de organização, transição e militância. Dou um exemplo: um partido que não tenha inserção no movimento social deixa de ser um instrumento e se torna um autômato institucionalista da luta de classes cujo fim é si mesmo. Por outro lado, um movimento social que não questiona e se posiciona na luta de classes expressa na esfera política do Estado deixa de ter um horizonte anticapitalista e se auto-institucionaliza perante as pressões do poder para garantir a ordem pública. É o que chamo de fetichismo do partido e fetichismo do movimento. Sem a militância na lacuna contraditória entre partido e movimento o caráter pluralista do socialismo se torna uma luta fratricida, seja contra o partido ou o movimento. O que se perde de vista é que qualquer revolução é uma ruptura na ordem pública. Por isso a construção de uma revolução é um processo longo e que demanda estratégias comuns orientadas para além do capital e do parlamentarismo puxadas por diversas Organizações.

Nenhum comentário: