Passamos da etapa de anunciação de planos de reativação econômica para planos de austeridade fiscal do Estado que, endividado pela ajuda nacionalização da bancarrota capitalista, encontra crescentes dificuldades de superar a atual crise.
Nos EUA, junto com o imperialismo no Oriente Médio, Obama encontra outros desafios. Com uma enorme desilusão sobre sua capacidade de administração com o objetivo de reverter às tendências negativas em ação no país (desindustrialização, estagnação salarial, queda da classe média, desemprego, super-endividamento das famílias, das localidades e dos estados, ampliação dos déficits federais, guerras contra o “terror”, desastre ecológico incontrolável, apoiando golpes de Estado e ataques militaristas de Israel, etc.), Obama é cada vez, somente, o primeiro presidente negro dos EUA. Desde 2008 o ambiente de uma grande parte dos norte-americanos e imigrantes não cessou de se degradar, por mais que ideologia do “pior já passou” tenha uma escala global. O desemprego real situa-se no mínimo entre 15% e 20% e atinge 30% a 40% nas cidades e regiões mais afetadas pela crise. Nunca tantos americanos foram dependentes dos selos de alimentação do governo federal que doravante contribui num nível jamais atingido para os rendimentos das famílias estadunidenses. Paralelamente, os estados são obrigados a multiplicar os cortes orçamentais e a suprimir serviços sociais de todo gênero, agravando ao mesmo tempo o desemprego. E estes fenômenos desenrolam-se no momento em que o impacto do plano de estímulo econômico da administração Obama é suposto estar no seu máximo!
Recentemente a pequena cidade de Maywood, no sul da Califórnia, concebeu uma saída para resolver sua crise orçamentária. A cidade está dissolvendo sua força policial e dispensando todos os funcionários do setor público. Isso mesmo. Maywood optou pela solução mais radical: terceirizar a contratação de todos os serviços públicos, inclusive os mais básicos.
Essa experiência não é um desvio. Ela é o horizonte para diversas cidades dos EUA. As projeções para o déficit combinado dos Estados apontam para US$ 112 bilhões em junho de 2011. O déficit maior é o do Estado de Califórnia com um rombo de cerca de US$ 19 bilhões. Uma das medidas para elevar as receitas é a legalização da maconha que será submetida aos cidadãos nas eleições em novembro além da adoção de placas para automóveis em tecnologia digital capaz de exibir propaganda nos veículos em movimento. A taxa de desemprego “oficial” no Estado estava em 12,4% em maio. A solução é a mesma em todo o mundo: austeridade. Os Estados terão que aumentar as taxas e diminuir os gastos, do mesmo modo que Grécia e Espanha. Na Grécia os pacotes de austeridade pretendem reduzir o déficit fiscal em 13,6% do PIB por meio de cortes de investimentos, redução dos benefícios aos aposentados e mudanças nas regras trabalhistas que permitiram que as empresas demitam com mais facilidade.
Esse panorama, é claro, tem profundas ligações com a China. No ano de 2001 não temos apenas os ataques de 11 de setembro e a declaração de “guerra ao terror sem fim” por George W. Bush. 2001 também o ano de entrada da China na OMC (Organização Mundial do Comércio), que representa o ponto mais avançado das medidas para fazer do planeta um espaço único de valorização de capital. A extensão da globalização a Ásia criam efeitos paradoxais: com a integração da China – e em menor grau da Índia – à economia mundial, a situação dos trabalhadores tende a piorar. Por quê? A inserção da China – e seus baixos salários - causa a competição direta entre os trabalhadores atuando como um excesso estrutural de mão-de-obra incidindo sobre os trabalhadores os ajustes necessários as novas condições de competição internacional.
A importância do comércio exterior para o crescimento chinês coloca como desafio a expansão de mercados que, com a crise, tendem a diminuir sua demanda. Os EUA são hoje o maior mercado da China. Ou a China compensará a desaceleração da demanda estadunidense voltando-se para outros mercados ou pode chegar um momento, como na Coréia em 1997, onde os efeitos da superacumulação são imediatamente transformados em crise aberta.
Sabemos a estabilidade macroeconômica mundial encontra-se hoje na China. Como notou Aglietta, o governo chinês decidiu até esfriar o motor do investimento em setores como o imobiliário, siderúrgico e automobilístico. Apesar destas medidas existe uma grande dificuldade em diminuir esses investimentos, principalmente imobiliário, na construção de infra-estruturas rodoviárias e na construção de outras fábricas. Essa situação se deve, em parte, as províncias e aos industriais locais que buscam afirmar sua autonomia diante do poder central. Por isso que os rumores sobre a desaceleração da economia chinesa junto com a piora da “confiança” do consumidor nos EUA estão causando espasmos nas bolsas de todo o mundo. O temor de um súbito resfriamento da economia chinesa e seus desdobramentos sobre a importação de commodities está derrubando as cotações de produtos como petróleo e metais, com reflexo direto nas ações de companhias domésticas ligadas a esses setores. E daí que neste 2010 estamos vendo um crescente número de problemas que não tem solução senão, novamente, a economia da guerra, o estado de emergência fiscal, a ofensiva do capital financeiro contra os trabalhadores e, não menos importante, o renascimento da luta de classes sob novas bases sociais, organizacionais e políticas.
Hoje centrais sisndicais na Grécia prometeram a quinta greve geral de 24 horas somente neste ano. Deve-se parar o transporte marítimo e urbano e outros serviços públicos. Greve é um direito de toda classe trabalhadora. Como disse uma faixa dos manifestantes: "NÓS RESISTIMOS!".
Neste blog regurgito minhas posições sobre diferentes aspectos da realidade/fantasia social, política e econômica do mundo atual.
quarta-feira, 30 de junho de 2010
terça-feira, 29 de junho de 2010
Prelúdios da Guerra do Irã: urgente!
A “Guerra de Obama” ainda não começou, mas está prestes a ter início. Naturalmente muitos criaram muitas expectativas com o primeiro presidente negro, mas os “interesses norte-americanos” ficaram na frente das promessas. Nestes interesses não estavam nem retirada das tropas do Iraque e do Afeganistão e nem a fechada de Guantánamo. A gestão da crise necessita continuar: agora o alvo é o Irã.
A mobilização da IV Frota demonstra esse presságio de uma terrível guerra que pode desatar deslocamentos geopolíticos ainda não previsíveis. Faz algumas semanas que o Conselho de Segurança da ONU impôs novas sanções ao Irã. Turquia e Brasil votaram contra. EUA e seus aliados pressionam a favor das sanções fazendo concessões para ganhar apoio de Rússia e China.
Entre 5 e 10 de julho foi feito um importante exercício militar na costa do Mediterrâneo com a participação de porta-aviões estadunidense Truman e o grupo de ataque associados, assim como barcos alemães e israelenses. Desde lá o grupo de batalha USS Truman passou pelo canal de Suez dirigindo-se ao Golfo Pérsico para unir-se ao grupo de batalha do USS Eisenhower que já se encontra ali.
Por outro lado o Irã declarou estado de alerta em 22 de junho em suas fronteiras ocidentais afirmando que forças estadunidenses e israelenses estavam se concentrando no Azerbaijão, prontas para atacar instalações nucleares do Irã. Fontes iranianas afirmam que Israel tem transferido secretamente uma enorme quantidade de bombardeiros Jet a bases do Azerbaijão através da Geórgia e que forças estadunidenses também se encontram por lá para preparar um ataque. Esse deslocamento de naves militares estadunidenses – escoltadas por submarinos nucleares – em direção da costa do Irã faz parte das intenções belicistas do governo Obama que trata de impor ao Irã seus planos de “desenvolvimento de energia nuclear com fins pacíficos” utilizando todas as medidas possíveis de pressão, incluindo os recentes sanções.
Neste cenário pré-guerra a Arábia Saudita autorizaria o uso de seu espaço aéreo para a aviação militar dos EUA e Israel. Além disso, também é possível a utilização de interceptadores de mísseis no Qatar, Emirados Árabes, Barein e Kuwait procurando uma estratégia que invalidaria qualquer defesa do lado iraniano. Essas manobras demonstram a ambição das corporações transnacionais de efetuar o controle dos recursos energéticos em toda a região do Oriente Médio (como já está ocorrendo no Afeganistão e Iraque) buscando uma reconfiguração do poder yanque mais adequado aos seus interesses e suas necessidades. Lembremos que as grandes reservas petrolíferas do Irã – somente superadas por Arábia Saudita e Canadá – excitam a ânsia do imperialismo estadunidense que, com 3% da população mundial consomem 25% dos recursos energéticos do mundo. Não podemos duvidar também que a guerra é o principal negócio do complexo industrial-militar que se expandiu com o governo Obama chegando a um orçamento recorde em 2010. A estratégia da “guerra preventiva” e da “guerra infinita” continua inalterada com Obama, por mais que tenha ganhado Premio Nobel da Paz.
Não restam dúvidas que, prontamente com as naves de guerra dos EUA e Israel ocupem seus postos estratégicos e se inspecionem o primeiro barco mercante do Irã, se desate uma troca de projéteis bélicos de um lado ou de outro. De qualquer forma, como estimou recentemente Fidel, os EUA e Israel subestimam o 1 milhão de soldados iranianos que, por terra, mar e ar se mobilizariam contra uma agressão externa em defesa da nação persa.
Atentemo-nos!
A mobilização da IV Frota demonstra esse presságio de uma terrível guerra que pode desatar deslocamentos geopolíticos ainda não previsíveis. Faz algumas semanas que o Conselho de Segurança da ONU impôs novas sanções ao Irã. Turquia e Brasil votaram contra. EUA e seus aliados pressionam a favor das sanções fazendo concessões para ganhar apoio de Rússia e China.
Entre 5 e 10 de julho foi feito um importante exercício militar na costa do Mediterrâneo com a participação de porta-aviões estadunidense Truman e o grupo de ataque associados, assim como barcos alemães e israelenses. Desde lá o grupo de batalha USS Truman passou pelo canal de Suez dirigindo-se ao Golfo Pérsico para unir-se ao grupo de batalha do USS Eisenhower que já se encontra ali.
Por outro lado o Irã declarou estado de alerta em 22 de junho em suas fronteiras ocidentais afirmando que forças estadunidenses e israelenses estavam se concentrando no Azerbaijão, prontas para atacar instalações nucleares do Irã. Fontes iranianas afirmam que Israel tem transferido secretamente uma enorme quantidade de bombardeiros Jet a bases do Azerbaijão através da Geórgia e que forças estadunidenses também se encontram por lá para preparar um ataque. Esse deslocamento de naves militares estadunidenses – escoltadas por submarinos nucleares – em direção da costa do Irã faz parte das intenções belicistas do governo Obama que trata de impor ao Irã seus planos de “desenvolvimento de energia nuclear com fins pacíficos” utilizando todas as medidas possíveis de pressão, incluindo os recentes sanções.
Neste cenário pré-guerra a Arábia Saudita autorizaria o uso de seu espaço aéreo para a aviação militar dos EUA e Israel. Além disso, também é possível a utilização de interceptadores de mísseis no Qatar, Emirados Árabes, Barein e Kuwait procurando uma estratégia que invalidaria qualquer defesa do lado iraniano. Essas manobras demonstram a ambição das corporações transnacionais de efetuar o controle dos recursos energéticos em toda a região do Oriente Médio (como já está ocorrendo no Afeganistão e Iraque) buscando uma reconfiguração do poder yanque mais adequado aos seus interesses e suas necessidades. Lembremos que as grandes reservas petrolíferas do Irã – somente superadas por Arábia Saudita e Canadá – excitam a ânsia do imperialismo estadunidense que, com 3% da população mundial consomem 25% dos recursos energéticos do mundo. Não podemos duvidar também que a guerra é o principal negócio do complexo industrial-militar que se expandiu com o governo Obama chegando a um orçamento recorde em 2010. A estratégia da “guerra preventiva” e da “guerra infinita” continua inalterada com Obama, por mais que tenha ganhado Premio Nobel da Paz.
Não restam dúvidas que, prontamente com as naves de guerra dos EUA e Israel ocupem seus postos estratégicos e se inspecionem o primeiro barco mercante do Irã, se desate uma troca de projéteis bélicos de um lado ou de outro. De qualquer forma, como estimou recentemente Fidel, os EUA e Israel subestimam o 1 milhão de soldados iranianos que, por terra, mar e ar se mobilizariam contra uma agressão externa em defesa da nação persa.
Atentemo-nos!
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Nota sobre a pós-política petista – parte 2
Como analisou a agência Fitch, na política brasileira os principais partidos devem manter a linha econômica atual, e isso é “positivo” (para o capital, é óbvio). Ou seja, não importa quem vai ganhar a eleição presidencial: Dilma Roussef (PT) ou José Serra (PSDB) devem continuar com as linhas-mestras das soluções macroeconômicas já adotadas. Isso é: não há alternativa ao capitalismo em vista seja pelo PT ou seja pelo PSDB. No campo econômico, a Fitch considera que a recuperação da atividade do país está rápida. Como sintetiza a agencia que dá anuncia o “risco Brasil” para especuladores para todo o mundo, encontramos nas terras tupiniquins “uma estrutura de política macroeconômica prudente corroborada por regimes de taxa de câmbio flexíveis e meta de inflação, um balanço externo forte, um setor financeiro saudável e um consenso na condução das políticas econômicas entre os principais partidos políticos contribuem para os ratings de grau de investimento do Brasil”. Em outras palavras, depois da subida de Lula a presidência o que havia de diferença entre o projeto do PT e do PSDB está cada vez mais reduzido a questões específicas que não colocam em xeque absolutamente nada além de um capitalismo mais assistencial, humano, tolerante, etc. No seu sentido macro são os dois lados de uma mesma moeda. Parafraseando Gore Vidal, é um sistema bipartidário com duas direitas. Ainda assim os petistas acreditam que essa é a única saída ou que estão lutando pela base. Infelizmente não sabem que fazem parte mais do problema do que da solução.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
A guinada a direita de Dilma: economia política do cinismo
Um ótimo método que qualquer pessoa progressista de esquerda no país pode utilizar como termômetro da diferença ideológica entre Dilma e Serra que está emergindo de forma descabida nestas eleições se encontra em suas posições acerca do MST. No 1º de maio Dilma e Serra foram ao mesmo lugar: uma feira agrícola em São Paulo chamada AgriShow – a maior feira de tecnologia agrícola da América Latina. Quem freqüenta esse lugar – tirando os terceirizados que trabalham nela – são os sujeitos que ambos consideram importantes do mundo da usurpação de trabalho: latifundiários, grileiros e gente com altíssimo poder aquisitivo. Dilma disse que “eu sou contra a tomada de locais públicos, sou contra aja invasão de terras, eu não acho razoável isso. Agora não acho também que seja correto uma atitude violenta contra os movimentos. Acho que sempre que você buscar o dialogo é melhor. Agora não pretendo, de maneira alguma, compactuar com qualquer atividade ilegal”. Depois de falar que não vai usar o boné do MST e enfatizar que “estado é estado, movimento é movimento”, Dilma demonstra que a de democracia social não conhece nada. É uma gerente das boas que não está para implementar mudanças de baixo para cima. Ao contrário, seu objetivo é o “dialogo” para desradicalizar qualquer ímpeto de transformação social radical: são novos tempos, tempos de crescimento econômico e bico calado de qualquer ação política concreta que vise desestabilizar o marasmo da oposição entre PT e PSDB, os dois lados da mesma moeda do capitalismo democrático brasileiro contemporâneo.
Continuando sua saga para satisfazer os conservadores de plantão a candidata a presidente pelo PT, Dilma Rousseff, disse que não vai tolerar ações “ilegais” do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ou de outros movimentos sociais: "ninguém que governe um País, um Estado ou um município pode ser complacente com a ilegalidade. Invasão de terras, de centro de pesquisa, de prédios públicos é ilegalidade. E ilegalidade não é permitida". Essa fala corrobora com a extrema-direita e sua bancada ruralista que declaram que “o que o MST faz é crime”. O resultado dessa ideologia é a pressão (principalmente pelos ruralistas) por uma ação estatal e institucionalizada que venha a enfraquecer a luta no campo e na cidade. Esse é o significado real da “criminalização dos movimentos sociais”. Recentemente a besta reacionária Kátia Abreu incentivou o uso de tropas federais contra os sem-terra. Ela disse: “quando um grupo de cidadãos fica desprotegido, ele se protege sozinho, e então acaba fazendo bobagem. Agora, quando alguém se mete na sua terra, mas o Estado está em ação, não é preciso fazer bobagem”. Quer dizer que o Estado como instrumento violento da burguesia latifundiária é a solução para os “crimes” do MST.
Vivemos tempos complicados para a esquerda e a construção de alternativas ao capitalismo democrático. Sem dúvidas Dilma apenas é a última personificação do momento, mas deixa claro a que veio: continuar o processo institucional de criminalização dos movimentos sociais, crescente inserção do Brasil como base de valorização financeira internacional, aumento da inserção do capital brasileiro na América Latina, ocupação no Haiti, esquecimento da ditadura no Brasil, precarização do trabalho, etc. Neste sentido os desafios do MST são enormes para continuar sendo uma força de resistência social. Entre eles é necessário superar o lulismo e sua última personificação: Dilma.
Continuando sua saga para satisfazer os conservadores de plantão a candidata a presidente pelo PT, Dilma Rousseff, disse que não vai tolerar ações “ilegais” do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ou de outros movimentos sociais: "ninguém que governe um País, um Estado ou um município pode ser complacente com a ilegalidade. Invasão de terras, de centro de pesquisa, de prédios públicos é ilegalidade. E ilegalidade não é permitida". Essa fala corrobora com a extrema-direita e sua bancada ruralista que declaram que “o que o MST faz é crime”. O resultado dessa ideologia é a pressão (principalmente pelos ruralistas) por uma ação estatal e institucionalizada que venha a enfraquecer a luta no campo e na cidade. Esse é o significado real da “criminalização dos movimentos sociais”. Recentemente a besta reacionária Kátia Abreu incentivou o uso de tropas federais contra os sem-terra. Ela disse: “quando um grupo de cidadãos fica desprotegido, ele se protege sozinho, e então acaba fazendo bobagem. Agora, quando alguém se mete na sua terra, mas o Estado está em ação, não é preciso fazer bobagem”. Quer dizer que o Estado como instrumento violento da burguesia latifundiária é a solução para os “crimes” do MST.
Vivemos tempos complicados para a esquerda e a construção de alternativas ao capitalismo democrático. Sem dúvidas Dilma apenas é a última personificação do momento, mas deixa claro a que veio: continuar o processo institucional de criminalização dos movimentos sociais, crescente inserção do Brasil como base de valorização financeira internacional, aumento da inserção do capital brasileiro na América Latina, ocupação no Haiti, esquecimento da ditadura no Brasil, precarização do trabalho, etc. Neste sentido os desafios do MST são enormes para continuar sendo uma força de resistência social. Entre eles é necessário superar o lulismo e sua última personificação: Dilma.
segunda-feira, 21 de junho de 2010
E quando cai a ficha da esquerda? Lições da crise e do esgotamento da estratégia democrática de transformação social
Com a ascensão social grega contra as medidas de administração da crise do capital e do Estado sob um governo fukuyamista ficou claro que a era da ideologia neoliberal chegou ao fim. Ou a esquerda se reconstrói ou não conseguirá responder as lutas sociais que emergem no atual tempo histórico. O espectro da luta de classes começa a ter um desdobramento global numa época de crise estrutural da totalidade do sistema em conjunto com a crescente prática excessiva do Estado contra a mobilização social. Essa função do Estado neokeynesiano busca também salvar “em última instância” o capital fictício com recursos públicos. A Grécia aponta um sintoma da crise na Europa que pode transformar as relações de poder existentes colocando em jogo a democracia parlamentar, coisa inconcebível na crise aberta em 2007 nos Estados Unidos onde mobilizações de massa ainda não se fizeram presentes. Entretanto, agora, a luta grega (e de todos socialistas) mostra que tem sérias dificuldades para se desdobrar num ascenso de massa revolucionário que coloque aponte para a superação do capitalismo. Isso pode se modificar rapidamento quando for necessário o governo norte-americano também fazer pacotes de austeridade que marcariam a superexploração do trabalho como nunca apareceu nos últimos 70 anos!
Para a esquerda a questão: essa indeterminação estratégica, principalmente por que não se tem clara quais são as alternativas viáveis para uma transformação social num período de crise aberta e, aparentemente, irresolvível faz com que as antigas soluções fáceis – pleno emprego! Mais Estado! - não tenham mais lugar. Uma outra alternativa que não a democracia liberal procura seu encontro na esquerda contemporânea aos trancos e barrancos. O velho insiste em retornar (catástrofes, crises, etc.) enquanto o Novo não possui uma repetição estrategicamente coerente ampla e das organizações revolucionárias e das massas.
Neste sentido que a construção de alternativas socialistas relacionada com a crise do marxismo. Essa crise se dá em duas dimensões: teórica e organizativa. A primeira diz respeito à precipitação empirista próprio de nosso capitalismo contemporâneo que postula uma ética individualista e que “ajude o mundo” ao mesmo tempo. Faça muito! Se Sacrifique! Assim emerge a ideologia, naturalizando o conflito imanente do capital e estabelecendo as coordenadas “seguras” de ação política. O melhor exemplo hoje é a expansão da ideologia política da estratégia global dos EUA: o terrorismo: ele se torna o significante que iguala todos os males sociais, passando da Al Quaeda aos palestinos, de Hugo Chavéz ao MST. A paranóia da direita esterilizou a esquerda que caiu direitinho na jogada diante da “chantagem democrática” contra os “terroristas”. Tudo se passa como que existissem diversas alternativas no capitalismo, desde que não se questione seriamente a democracia-liberal. Isso é consenso na esquerda institucionalizada no Estado capitalista. Assim se deixa de lado o método materialista dialético como fundamento da construção alternativa ao capitalismo numa via revolucionária. Aceitamos o jogo (vide PT). Em outras palavras a aceitação das regras do jogo “politicamente corretas” está diretamente ligada com um “auto-aprisionamento” da esquerda que se representa e se organiza cada vez mais não como uma alternativa viável para a atual crise e sim como um obstáculo ao processo de emancipação e auto-organização.
Nessa crise “teórica” que naturaliza o capitalismo perde-se o conteúdo excessivo e constituinte da esquerda moderna que, além de tomar para si a resolução das questões centrais que dizem respeito ao conflito de classes em suas diversas manifestações, deve estar orientada por uma estratégia viável anticapitalista. O limite da esquerda fukuyamista é exatamente este: ao se descartar que uma alternativa comunista possa ser construída seguindo uma via extraparlamentar e que organize as massas pela base numa militância orientada a experiências de auto-organização popular qualitativamente diferente daquela postulada pelos sindicatos e partidos clássicos a realidade se apresenta sem nenhuma alternativa radical e viável. É claro que ainda devemos tomar o poder numa revolução, mas para isso se faz necessário novas formas de organização, transição e militância. Dou um exemplo: um partido que não tenha inserção no movimento social deixa de ser um instrumento e se torna um autômato institucionalista da luta de classes cujo fim é si mesmo. Por outro lado, um movimento social que não questiona e se posiciona na luta de classes expressa na esfera política do Estado deixa de ter um horizonte anticapitalista e se auto-institucionaliza perante as pressões do poder para garantir a ordem pública. É o que chamo de fetichismo do partido e fetichismo do movimento. Sem a militância na lacuna contraditória entre partido e movimento o caráter pluralista do socialismo se torna uma luta fratricida, seja contra o partido ou o movimento. O que se perde de vista é que qualquer revolução é uma ruptura na ordem pública. Por isso a construção de uma revolução é um processo longo e que demanda estratégias comuns orientadas para além do capital e do parlamentarismo puxadas por diversas Organizações.
Para a esquerda a questão: essa indeterminação estratégica, principalmente por que não se tem clara quais são as alternativas viáveis para uma transformação social num período de crise aberta e, aparentemente, irresolvível faz com que as antigas soluções fáceis – pleno emprego! Mais Estado! - não tenham mais lugar. Uma outra alternativa que não a democracia liberal procura seu encontro na esquerda contemporânea aos trancos e barrancos. O velho insiste em retornar (catástrofes, crises, etc.) enquanto o Novo não possui uma repetição estrategicamente coerente ampla e das organizações revolucionárias e das massas.
Neste sentido que a construção de alternativas socialistas relacionada com a crise do marxismo. Essa crise se dá em duas dimensões: teórica e organizativa. A primeira diz respeito à precipitação empirista próprio de nosso capitalismo contemporâneo que postula uma ética individualista e que “ajude o mundo” ao mesmo tempo. Faça muito! Se Sacrifique! Assim emerge a ideologia, naturalizando o conflito imanente do capital e estabelecendo as coordenadas “seguras” de ação política. O melhor exemplo hoje é a expansão da ideologia política da estratégia global dos EUA: o terrorismo: ele se torna o significante que iguala todos os males sociais, passando da Al Quaeda aos palestinos, de Hugo Chavéz ao MST. A paranóia da direita esterilizou a esquerda que caiu direitinho na jogada diante da “chantagem democrática” contra os “terroristas”. Tudo se passa como que existissem diversas alternativas no capitalismo, desde que não se questione seriamente a democracia-liberal. Isso é consenso na esquerda institucionalizada no Estado capitalista. Assim se deixa de lado o método materialista dialético como fundamento da construção alternativa ao capitalismo numa via revolucionária. Aceitamos o jogo (vide PT). Em outras palavras a aceitação das regras do jogo “politicamente corretas” está diretamente ligada com um “auto-aprisionamento” da esquerda que se representa e se organiza cada vez mais não como uma alternativa viável para a atual crise e sim como um obstáculo ao processo de emancipação e auto-organização.
Nessa crise “teórica” que naturaliza o capitalismo perde-se o conteúdo excessivo e constituinte da esquerda moderna que, além de tomar para si a resolução das questões centrais que dizem respeito ao conflito de classes em suas diversas manifestações, deve estar orientada por uma estratégia viável anticapitalista. O limite da esquerda fukuyamista é exatamente este: ao se descartar que uma alternativa comunista possa ser construída seguindo uma via extraparlamentar e que organize as massas pela base numa militância orientada a experiências de auto-organização popular qualitativamente diferente daquela postulada pelos sindicatos e partidos clássicos a realidade se apresenta sem nenhuma alternativa radical e viável. É claro que ainda devemos tomar o poder numa revolução, mas para isso se faz necessário novas formas de organização, transição e militância. Dou um exemplo: um partido que não tenha inserção no movimento social deixa de ser um instrumento e se torna um autômato institucionalista da luta de classes cujo fim é si mesmo. Por outro lado, um movimento social que não questiona e se posiciona na luta de classes expressa na esfera política do Estado deixa de ter um horizonte anticapitalista e se auto-institucionaliza perante as pressões do poder para garantir a ordem pública. É o que chamo de fetichismo do partido e fetichismo do movimento. Sem a militância na lacuna contraditória entre partido e movimento o caráter pluralista do socialismo se torna uma luta fratricida, seja contra o partido ou o movimento. O que se perde de vista é que qualquer revolução é uma ruptura na ordem pública. Por isso a construção de uma revolução é um processo longo e que demanda estratégias comuns orientadas para além do capital e do parlamentarismo puxadas por diversas Organizações.
terça-feira, 1 de junho de 2010
Um espectro ronda a Europa (além da crise): a luta de classes
O epicentro da crise internacional do capitalismo se deslocou para o centro, mais especificamente a Europa. O salvamento dos bancos feito pelo Estado está custando caro e ninguém tem saídas plausíveis senão a radical austeridade fiscal que vai contra a luta histórica dos trabalhadores e seus ganhos defensivos. Os déficits fiscais das economias do centro apontam em média para transbordar o 100% do PIB em dívida. Mas então, o que fazer? Vou fazer um breve apontamento sobre a atual crise européia a fim de solucionar alguns mal entendidos não apenas na ala do FMI, mas também de parte da esquerda.
A crise européia que já se escancarou na periferia (Grécia, Espanha, Portugal, Itália) tem como sua salvaguarda a França e, em especial, a Alemanha. O salvamento diante do “estado de emergência fiscal” visa à relação existente entre os déficits fiscais de grande parte dos países da zona do euro e os bancos franceses e alemães. Por mais que seu início se dê na Grécia, como apontamos, sua crise é um sintoma que emerge diante das profundas dificuldades bancárias que sustentam o euro.
A questão é: o establishment europeu – Conselho Europeu, Comissão Européia e Banco Central Europeu – estão fazendo uma grande pressão sobre as economias periféricas impondo políticas de austeridade, redução salarial e da dívida pública a fim de ajudar a zona do euro a sair da recessão. Entretanto, essa estratégia é errônea. Tudo se passa como se problema fosse a falta de disciplina fiscal. Não existe uma exagero fiscal destes países tão grande. Todos eles têm os gastos e empregos públicos abaixo do UE-15 além do nível de salários que é bem menor do que em países como a França.
O grande segredo ocultado pelos veículos da mídia é que o problema da eurozona não está na periferia e sim no centro, mais especificamente na Alemanha. A economia alemã está em baixa durante muitos anos. Seus salários não tem aumentado durante os últimos quinze anos, conseqüência da medidas antisindicais de baixos salários tomada pelos governos de Gerhard Schoeder e Angela Merkel. Esse processo foi facilitado pelo ampla disponibilidade de trabalhadores procedentes da antiga Alemanha do Leste e os imigrante provindos do Leste Europeu. Assim, nos últimos quinze anos a inversões alemãs tem sido escassas (menores que nos países periféricos) e seu crescimento econômico foi lento (muito mais lento que os países periféricos). Além disso, a baixa na rendas do trabalho na Alemanha tem criando um grande problema de falta de demanda, conseqüência da falta de crescimento da massa salarial. Dessa forma, o crescimento econômico alemão foi baseado não no aumento da demanda interna e sim com o crescimento das exportações e a conseqüente acumulação de euros nos bancos alemães. E o que os bancos alemães fizeram com tanto euros? Uma delas é emprestá-lo para os países do mediterrâneo. Esse fluxo ajudou, por exemplo, os bancos espanhóis a estabelecer o complexo bancário-industrial-imobiliário que foi o motor da economia espanhola. Não é a toa que grande parte da dívida dos países da periferia é propriedade dos bancos alemães (e franceses).
Mas então, o que fazer? Como disse recentemente Boaventura de Sousa Santos, numa vira que parece deixar a pós-modernidade democrática como seu paradigma último, a luta de classes está de volta à Europa e em termos tão novos que os atores sociais estão perplexos e paralisados. Concordo plenamente. A esquerda européia ainda tem a dificuldade de não ter outros instrumentos de transformação social que apontem para um horizonte qualitativamente diferente de organização social senão os partidos sectários instalados, por exemplo, na Grécia.
Já apontamos em outros textos que a solução que esta sendo gestada no centro do capitalismo diante da crise é a superexploração do trabalho. Típica dos países dependentes agora a superexploração se torna a resposta do capital para atual crise. Nunca os que trabalham trabalharam tanto e nunca lhes foi tão difícil identificarem-se como trabalhadores além de tirar os fundos de consumo pelo Estado para injetar na acumulação de capital. Essa saída da crise tem como dificuldade ainda maior para a esquerda já que, diante de sua tragédia reformista pós-11 de setembro, os antigos instrumentos de luta estão esgotados. Além disso, a resistência apenas dentro das economias nacionais é fraca demais diante da profundidade da crise. Assim, ou a resistência é européia ou não perderá na sua força. Diante disso uma virada a direita não pode nos assustar.
A crise européia que já se escancarou na periferia (Grécia, Espanha, Portugal, Itália) tem como sua salvaguarda a França e, em especial, a Alemanha. O salvamento diante do “estado de emergência fiscal” visa à relação existente entre os déficits fiscais de grande parte dos países da zona do euro e os bancos franceses e alemães. Por mais que seu início se dê na Grécia, como apontamos, sua crise é um sintoma que emerge diante das profundas dificuldades bancárias que sustentam o euro.
A questão é: o establishment europeu – Conselho Europeu, Comissão Européia e Banco Central Europeu – estão fazendo uma grande pressão sobre as economias periféricas impondo políticas de austeridade, redução salarial e da dívida pública a fim de ajudar a zona do euro a sair da recessão. Entretanto, essa estratégia é errônea. Tudo se passa como se problema fosse a falta de disciplina fiscal. Não existe uma exagero fiscal destes países tão grande. Todos eles têm os gastos e empregos públicos abaixo do UE-15 além do nível de salários que é bem menor do que em países como a França.
O grande segredo ocultado pelos veículos da mídia é que o problema da eurozona não está na periferia e sim no centro, mais especificamente na Alemanha. A economia alemã está em baixa durante muitos anos. Seus salários não tem aumentado durante os últimos quinze anos, conseqüência da medidas antisindicais de baixos salários tomada pelos governos de Gerhard Schoeder e Angela Merkel. Esse processo foi facilitado pelo ampla disponibilidade de trabalhadores procedentes da antiga Alemanha do Leste e os imigrante provindos do Leste Europeu. Assim, nos últimos quinze anos a inversões alemãs tem sido escassas (menores que nos países periféricos) e seu crescimento econômico foi lento (muito mais lento que os países periféricos). Além disso, a baixa na rendas do trabalho na Alemanha tem criando um grande problema de falta de demanda, conseqüência da falta de crescimento da massa salarial. Dessa forma, o crescimento econômico alemão foi baseado não no aumento da demanda interna e sim com o crescimento das exportações e a conseqüente acumulação de euros nos bancos alemães. E o que os bancos alemães fizeram com tanto euros? Uma delas é emprestá-lo para os países do mediterrâneo. Esse fluxo ajudou, por exemplo, os bancos espanhóis a estabelecer o complexo bancário-industrial-imobiliário que foi o motor da economia espanhola. Não é a toa que grande parte da dívida dos países da periferia é propriedade dos bancos alemães (e franceses).
Mas então, o que fazer? Como disse recentemente Boaventura de Sousa Santos, numa vira que parece deixar a pós-modernidade democrática como seu paradigma último, a luta de classes está de volta à Europa e em termos tão novos que os atores sociais estão perplexos e paralisados. Concordo plenamente. A esquerda européia ainda tem a dificuldade de não ter outros instrumentos de transformação social que apontem para um horizonte qualitativamente diferente de organização social senão os partidos sectários instalados, por exemplo, na Grécia.
Já apontamos em outros textos que a solução que esta sendo gestada no centro do capitalismo diante da crise é a superexploração do trabalho. Típica dos países dependentes agora a superexploração se torna a resposta do capital para atual crise. Nunca os que trabalham trabalharam tanto e nunca lhes foi tão difícil identificarem-se como trabalhadores além de tirar os fundos de consumo pelo Estado para injetar na acumulação de capital. Essa saída da crise tem como dificuldade ainda maior para a esquerda já que, diante de sua tragédia reformista pós-11 de setembro, os antigos instrumentos de luta estão esgotados. Além disso, a resistência apenas dentro das economias nacionais é fraca demais diante da profundidade da crise. Assim, ou a resistência é européia ou não perderá na sua força. Diante disso uma virada a direita não pode nos assustar.
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