domingo, 22 de novembro de 2009

Estamos presenciando uma “pevização” do PSOL?

A candidatura de Marina Silva-PSOL é uma resolução pós-política para um problema essencialmente político. Isso se mostra claro num informe assinado por Luciana Genro, Martiniano Cavalcanti, Elias Vaz, Mario Agra, Edílson Silva, Pedro Fuentes, Jéfferson Moura e Roberto Robaína. Aí a obscenidade atual do PSOL se mostra clara. Nele somos informados que a Executiva Nacional do partido “tomou uma decisão correta e fundamental para armar nossa intervenção nas eleições de 2010: abrir as negociações com a candidatura de Marina Silva”. Que arma poderosíssima! O problema é que ela está direcionada contra o PSOL e suas potencialidades políticas e não como um ato progressista na construção do partido como uma alternativa ao projeto popular e socialista no Brasil.


Na continuação do informe está escrito que para tal decisão “partimos sempre da análise concreta da situação concreta: uma delas é a definição de que existe no Brasil uma tendência das classes dominantes a tentar resumir a disputa política aos dois projetos burgueses chefiados pelo PT ou PSDB. Ambos projetos, como sabemos, representam os interesses dos grandes capitalistas, dos banqueiros, dos latifundiários do agronegócio e do imperialismo, embora um incorpore a burocracia sindical com mais força e o outro incorpore com mais força a mídia patronal e dialogue mais com a direita golpista latinoamericana. Ambos também concordam em reduzir os espaços institucionais dos socialistas revolucionários, com medidas como cláusulas de barreira e perda dos direitos de debate nas disputas eleitorais”. Quer dizer então, literalmente, que diferença real existente entre PT e PSDB é que o primeiro incorpora a burocracia sindical e o segundo dialoga com mais força com a mídia e a direita golpista latinoamericana? Se fosse essa a real diferença acredito que muitos de nós estaríamos no PT. Ou ainda, talvez essa “análise concreta” seja a razão pela falta de adesões petistas ao PSOL. Conclusão: que análise concreta hein! Incrível que escrever ou dizer que “partindo da análise concreta da situação concreta” faça de qualquer análise por si só autolegitimadora. Talvez se Lênin estivesse por aqui diria algo como “hegelianamente estamos vendo a unidade dos contrários: análise concreta da situação concreta com oportunismo no seio do partido”. Seria também uma análise concreta da situação concreta concluir que “a ruptura com o PT foi uma opção progressista de Marina”? Em que sentido? Seria uma análise concreta da situação concreta a hipotética “defesa do partido da necessidade do desenvolvimento sustentável”? Se essa for uma análise concreta não seria essa, portanto, uma “pevização” do PSOL? Incorporar numa luta dita socialista o objetivo do desenvolvimento sustentável só equipara nossas demandas por transformações ecológicas as ONG`s de plantão. Até as propagandas de carro, geladeira, câmeras fotográficas, etc. já falam de desenvolvimento sustentável como solução da destruição ambiental.

Paradoxalmente, nossos “informantes” parecem desconhecer também os rachas que essa estratégia está criando internamente ao partido quando proclamarem cinicamente que “quanto maior a unidade partidária, mais chances de se
garantir o êxito desta tática... usando, sempre porque possível, os instrumentos que tivermos em
mãos, preservando nossa identidade, nossa política e construindo o partido como uma alternativa de massas”. Parece brincadeira, mas não é. Como o PSOL pode representar seriamente uma alternativa de massas e preservar nossa identidade política buscando ativamente alianças com o PV?

A questão é que os centralistas no PSOL parecem ter um profundo medo do isolamento nas eleições presidenciais ano que vem que seria “curado”, hipoteticamente, pela aliança com Marina Silva e o PV. Não nos animemos tanto: o PSOL não tem condições políticas-conjunturais de ganhar as próximas eleições presidenciais diante de tantas contradições internas, mesmo que se juntasse com Deus. O desafio do partido hoje é conseguirmos permanencer como uma lacuna entre a bipolaridade PT-PSDB para aglutinar as forças da esquerda pós-Lula e não buscar desesperadamente uma possível melhora eleitoral sob o resultado, ao que parece inevitável, de desestruturação radical do partido. Somente se o PSOL fosse um partido personalista, carreirista e regionalista é que essa movimentação rumo a “pevizacão” passaria sem, no mínimo, duras críticas.
Portanto, a postura pró-Marina do PSOL parece mais representar uma vitória para a direita do país do que uma resolução política que traga bons frutos para a rearticulação da esquerda. Com essa aliança o ciclo se fecha: PT e agregados, PSDB e agregados e PSOL-PV. Perfeito! A crítica não pode sair do governo Lula e suas políticas econômicas, políticas e ecológicas que tem aprovação de mais de 70% da população brasileira e, consequentemente, qualquer programa positivo alternativo fica, novamente, bloqueado ao rancor esquerdista ecológico. Ok, exagero um pouco, mas ao não existirem programas políticos e econômicos comuns entre PSOL e PV, resta mesmo a retórica do “desenvolvimento sustentável” que, como vimos, já está embalando alas do PSOL.

O PSOL é um partido que representa ainda de forma embrionária a construção de uma alternativa social (por mais que seu conteúdo continue não muito claro, assim como na história do PT), mas que está prestes a fazer de uma aliança que põem seriamente em risco a integridade de seu projeto político, paradoxalmente, sob as iniciativas ativas da companheira Heloísa Helena acompanhada de perto por Luciana Genro. Qual a razão disso tudo, falta de orientação na tempestade lulista ou personalismo político mesmo?

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