segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Onde os flamingos dormem?

Primeiramente vou traduzir uma letra do Dream Theather chamada The Spirit Carries On

O Espírito Segue

Nicholas:
De onde nós viemos?
Porque estamos aqui?
Para onde nós vamos quando morremos?
O que há além
E o que havia antes?
Alguma coisa é certa na vida?

Eles dizem, “A vida é curta”
“O aqui e o agora”
E “Você só tem uma chance”
Mas poderia haver mais,
Eu vivi antes?
Ou isso seria tudo que nós temos?

Se eu morresse amanhã
Eu estaria bem
Porque eu acredito
Que após nós morrermos
Que o espírito segue

Eu costumava ter medo da morte
Eu costumava achar que a morte era o fim
Mas isso foi antes
Eu não estou mais assustado
Eu sei que minha alma transcederá

Eu posso nunca encontrar as respostas
Eu posso nunca entender porque
Eu posso nunca provar
O que eu sei ser verdade
Mas eu sei que eu ainda tenho que tentar

Se eu morresse amanhã
Eu estaria bem
Porque eu acredito
Que após nós morrermos
Que o espírito segue

Victoria:
“Siga adiante, seja bravo
Não chore no meu túmulo
Porque eu não estou mais aqui
Mas por favor nunca deixe
Suas lembranças de mim desaparecer”

Nicholas:
Seguro na luz que me rodeia
Livre do medo e da dor
Minha mente questionadora
Tem me ajudado a achar
O significado na minha vida de novo
Victoria é real
Eu finalmente sinto
Em paz com a garota nos meus sonhos
E agora que eu estou aqui
Está perfeitamente claro
Eu descobri o que tudo isso significa

Se eu morresse amanhã
Eu estaria bem
Porque eu acredito
Que após nós morrermos
Que o espírito segue


Pimeiro ponto: não podemos dizer que essa letra é extremamente hegeliana? Para aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer o pensamento de Hegel, peço licença para fazer uma breve explicação sob a forma do meu entendimento do que Hegel entende por Espírito (Geist): sucintamente é a substância como sujeito. Seu clássico Fenomenologia do Espírito é o primeiro livro que faz um julgamento filosófico da história - talvez aqui sua importancia inicial. Hegel situa o Espírito como algo impossível de conhcer-se diretamente. É necessário que exterioze a si mesmo tornando-se "estranho a si mesmo" produzindo dessa forma todas as formas da realidade - pensamento, natureza, história. Depois disso, é necessário reverter a origem para alcancar o conhecimento verdadeiro, a filosofia do espírito absoluto. Resumindo, afastando-se de si mesmo para depois a si mesmo é a forma da Idéia triunfa sob seus limites precedentes sob a forma de negações de negações. Essa é a determinação fundamental do espírito histórico: a de se reconciliar consigo mesmo, e de reconhecer-se a si mesmo na diversidade. Numa forte síntese, diria que para Hegel a evolução não somente faz aparecer o interior originário, exterioriza o concreto contido já no em si, e este concreto chega a ser por si através dela, impulsiona-se a si mesmo a este ser por si. O concreto é em si diferente, mas logo só em si, pela aptidão, pela potência, pela possibilidade. O diferente está posto ainda em unidade, ainda não como diferente. É em si distinto e, contudo, simples. É em si mesmo contraditório ou em termos mais atuais, antagonista. Bem, acho que estou começando a viajar demais... e a angústia entra aonde? Lembremos, com Lacan, que a angústia não é o medo pela perda de determinado objeto como pensava Freud, e sim a aproximação do objeto-causa do desejo. O que isso tem a ver com o tópico? A angústia signfica exatamente a posição existencial do sujeito onde a orientação de seu desejo se desorienta em relaçao a sua identidade/diferença. Como estar diante de um desejo sem mais forma... Como indica Safatle, se a consciência for capaz de compreender a angústia que ela sentiu a ver a fragilização de seu mundo e de sua sua linguagem como primeira manifestação do Espírito, deste Espírito que só se manifesta destruindo toda determinidade fixa, então ela poderá compreender que este "caminho de desespero" é, no fundo, internalização do negativo como determinação essencial do ser. Não podemos entender a morte dessa forma transcental, portanto? Passando pela angústia da existência, a morte tem um caráter estritamente simbólico de passagem. Não uma passagem corporal para uma outra esfera incognicível, mas como criação de memória para o mundo dos vivos. É claro que o Espírito segue, quer queiramos ou não, para além de nossas espectativas. A morte é negação da vida, estremamente necessária para o Espírito.

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