quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

A biopolítica da vida cotidiana

Esse post é uma tentativa de aprofundar algumas questões sobre a biopolítica. Todas essas reflexões tem dívidas que espero que um dia sejam pagas. Agradeço profundamente todos que tem a disponiabilidade de ler esses textos que estão sendo produzidos sob traumáticas perguntas ao Real que causam, com certeza, alguma instabilidade filosófica. Usei aqui, para conseguir melhor expressar os últimos desenvolvimentos filosóficos de ontem, uma conceitualização mais precisa mas, exatamente nesse ponto, que pode possibilitar reflexão mais profunda mas mais inacessível. Resolvi sintetizar o texto e aconcelho a ler com calma.

A biopolítica não é exatamente a redução do sujeito barrado a vida nua, a pura imanência? Ou ainda, a impossibilidade do sujeito se relacionar com o Significante-Mestre não se relaciona com a “crise de investidura” (Eric Santner) onde a identificação existe uma perda da eficácia do sujeito assumir seu mandado simbólico? Nesse sentido, não seria esse exatamente o discurso da Universidade e sua posição “neutra” em relação ao conhecimento dominante hoje? A expansão dos Homo Sacer (Giorgio Agamben) pelo mundo hoje não é legitimado exatamente pelo discurso da Universidade ou, em termos mais precisos, o Homo Sacer não é o sujeito do discurso da universidade? Não seria nesse processo que a interpassividade pode reinar transferindo ao Outro nossa passividade? É aqui, e não em outro lugar, que deve ser colocada a questão da crescente ineficácia do amor hoje, a liquefação dos laços sociais: se amor é violência, pois revoluciona as coordenadas simbólicas desestruturando a realidade entre o sujeito e o objeto pequeno a (fantasia), sob essa crise de investidura que tem como necessidade estrutural a tentativa de legitimar a biopolítica do Homo Sacer hoje sob o discurso da universidade, o fardo da transferência amorosa é renegada. O amor, assim com a revolução autêntica, detém sua violência legitimada por si mesmo, sem precisar da aprovação do Outro. O amor arranca o ser de seu lugar. Portanto, como amar em não-lugares?

Um comentário:

Cristiano disse...

Como se daria esse "arrancar o ser de seu lugar"? Porque, pensando sob um viés heideggeriano, o Ser-aí é o desde já aberto ao outro Ser-aí - o estar aberto é já estar-junto-a, e já ser-com como o a priori da existência - de modo que essa relação constitui o Ser-com-o-outro próprio de todo Ser-aí. O que eu quero dizer com isso é: como há a possibilidade de um Outro arrancar, pelo amor, o Ser de seu lugar (ou o Ser do Outro de seu lugar), sendo que é propriamente esse lugar (o 'aí' do Ser-aí) que permite a inter-relação entre ambos os sujeitos que compartilham um mundo em comum? Ou você tratou esse "arrancar" sob uma ordem metafórica, como se fosse abertura ou irrupção do sujeito anteriormente fechado à relação amorosa propriamente dita, e que daí entraria na idéia de "empatia" como a "porta por meio da qual um sujeito que se encontra fechado em uma couraça passa de certo modo para o outro lado.(Heidegger)"? Mas, ainda aqui, Heidegger opta pela interpretação de Leibniz, em contraposição a esta idéia de empatia que libertaria a essência do sujeito, quando diz que "os homens não precisam de nenhuma janela [a empatia seria a janela], não porque precisem ir pra fora, mas porque já estão essencialmente fora."
Talvez o arrancar pudesse entrar num terceiro momento, se é que estamos falando da mesma coisa: num primeiro o Ser é o desde já aberto (a priori); a posteriori, o sujeito pode se fechar à manifestação de Outrem [isso é afirmado por Heidegger, mas só num momento a posteriori], mantendo-se recluso; e, por último, este mesmo Outro que clama por resposta (já que a linguagem obriga), arranca o Ser deste Outro de seu casulo fazendo irromper toda a sua plenitude inicial.
Mas aqui, parece, surgiria um novo problema: é o amor uma relação de poder? há, nesse mesmo amor como abertura, uma pseudo-relação entre sujeito-objeto onde prevalece a vontade do primeiro? Caso seja sim a resposta, isso entraria em choque com a filosofia ontológica de Heidegger e a idéia de Ser elaborada por ele. Enfim, não sei se você se baseou em Heidegger (deduzi porque o Zizek parece que trabalha com ele, não?), mas são essas algumas dúvidas que surgiram. Se eu não tiver sido claro, é só falar comigo no msn ou afins! Abraço