Que tipo de sujeito deve ser criado pelo capitalismo contemporâneo para melhor funcionar? Sem dúvida, uma caratecterística seminal é a tolerância. Devemos ser tolerantes aos negros, aos homossexuais, transsexuais, pós-sexuais, aos intrusos em nosso espaço cultural, as mulheres, as diversas opções que promove a "pós-modernidade", aos judeus, árabes, índios, a natureza, etc. Entretanto, não devemos nos enganar. Essa tolerância se assenta sob o esvaziamento do caráter traumático da alteridade. Por isso, devemos ser tolerantes e não dividir coletivamente as angústias, medos e a insegurança. Se nega a negatividade a priori sendo a tolerância, paradoxalmente, uma ótima artimanha para manter no seu devido espaço (bem longe de preferência!) aquele que põem em risco a integradade do sujeito. Nada melhor para a atomização capitalista!
A idelogia tolerante, portanto, funciona perfeitamente com a lógica do individualismo possessivo. Ao impossibilitar uma verdadeira negação por manter-se longe das possibilidades de transformação coletiva, a postura tolerante se equipara a postura cínica e resignada. Esconde suas angústias por detrás de uma hipotética resolução das atuais dificuldades, individuais e coletivas.
A ideologia tolerante também oblitera o intolerável. É possível ser tolerante com o nazismo? E com a divisão de classes? É possível ser tolerante ao neoliberalismo, ao desemprego crrescente, a injustiça social e aos políticos-latifundiários-policiais que reprimem abertamente com a violência objetiva cotidiana uma massa incontável de favelados, imigrantes, desempregados, subempregados, etc? É possível tolerar a criminalização do movimentos sociais como o MST e da probreza em geral? É possível tolerar o sofrimento alheio? Essas questões que são obliteradas passam por adversidades naturais e, dessa forma, se tornam estáticas e não-transformáveis.
Portanto, uma das características do capitalismo contemporâneo pós-político é o desenvolvimento da tolerância à injustiça social que atua concomitantemente à tolerancia como projeto social politicamente correto de transformar tudo velozmente para manter uma franca indiferença em relação profundidade da crise na totalidade do sistema social vigente. Atentemo-nos.
Um comentário:
E além disso (claro que não é exatamente um "além" pq penso que é exatamente disso que trata este seu texto) a tolerância pressupõe uma certa concepção de linguagem e cultura que ignora o fato de que é a própria linguagem a origem última de toda a violência eminentemente humana.
Sobretudo porque para que nós possamos entrar no mundo da linguagem, da cultura, é necessário renunciar a uma parte da própria subjetividade e, de forma correlata, lidar com o aspecto traumático de que o outro também renunciou a uma parte de sua subjetividade, de forma que não é possível qualquer relação pacífica (não traumática entre indivíduos). é claro que se isto, em psicanálise, da conta da formação de indivíduos a partir do conhecimento clínico, em termos políticos, chamamos essa incompativilidade de "antagonismo".
A tolerância oblitera a luta de classes.
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