A atual crise mostra o fim do neoliberalismo? Sim e não.
Os planos de resgate para o salvamento da bancarrota capitalista não foram direcionadas para o sistema financeiro, mas sim para os bancos. Essa atuação conflui perfeitamente com a virada neoliberal que se apresentou como o poder do Estado de proteger as instituições financeiras, custe o que custar. O projeto de classe neoliberal – que, por sinal, tem um êxito enorme – provou sua força durante o escancaramento da crise em setembro de 2008. Desde lá vemos a aceleração da crise um nível de contágio internacional nunca visto na história, exatamente pela condição interconectada do sistema financeiro devida a liberalização econômica colocada em prática nas últimas décadas. Ao injetar trilhões para salvaguardar a funcionalidade dos bancos no sistema mundial, o Estado neoliberal deixou de lado a panacéia do “Estado mínimo” que, retoricamente, conquistou até mesmo grande parte da esquerda após a queda do muro de Berlim.
Entretanto, essa ação cleptocrata teve custos: a crise do crédito põe fim ao processo de financeirização como resposta da crise que se desdobra desde 1970. A contração do crédito faz as empresas reduzirem a produção e a massa salarial. A acumulação desses efeitos abaixa a demanda, tanto de bens intermediários como de consumo. Isso afeta as empresas que reduzem ainda mais a produção e a massa salarial, etc etc. Essa forma de propagação da crise passa dos Estados Unidos ao Japão, da Europa Ocidental a América Latina e reforça o caráter cumulativo da atual crise global.
Em conseqüência, o aumento do desemprego, a falência de muitas empresas, assim como uma desorientação das potências dominantes só pode ser combatida com uma ação efetiva. A esquerda, na maioria das vezes, evoca o receituário keynesiano como resposta, desconsiderando sua inoperância hoje. O impasse do sistema capitalista hoje é tal que, sem intervenções políticas para modificar o horizonte econômico, a crise será muito longa. Quando se lê a burguesia falando com ela mesma (Jornal Valor, The Economist, Newsweed, etc.) se sabe que os fundamentos para uma nova e mais intensiva ofensiva do capital contra o trabalho e o resta no sistema público está sendo preparada colocando. no futuro. uma tenebrosa mistura entre neoliberalismo e neoconservadorismo. Um neoliberalismo de Estado.
Essa crise mostra os “limites históricos” (MARX) do capital assim como em 1968. Entretanto, diante da crise do fim dos anos 1960, existiu um levante político contra as coordenadas do capitalismo que, quando foi derrotado, trouxe para o capitalismo um respiro importante ao esvaziar as demandas existentes (direitos civis, feminização do trabalho, psicodelia nas propagandas etc.) para introduzir a sua dinâmica de funcionamento. Hoje, entretanto, as desencantadas esquerdas ainda não se contrapõem aos caminhos que estão sendo delineados pela classe dominante diante da atual crise. Ao cair principalmente na ideologia da tolerância, multiculturalismo, direitos humanos, contra violência, democracia-liberal, lulismo, obamismo, etc. a esquerda faz um grande favor ao capitalismo que, diante de sua esterilidade, vê um novo projeto de classe ainda mais incisivo que o neoliberalismo se estabelecer.
Não existe outra saída para a atual crise senão o controle dos meios de produzir as riquezas sociais, ou, em outras palavras, o controle sobre as decisões em relação ao que deve ser produzido, para quem e como. Com o esse objetivo é necessário criar formas de organização e reivindicação que sejam capazes de abrir uma via social positiva para o socialismo. Atentemo-nos.
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