sexta-feira, 31 de julho de 2009

A vingança da direita: estamos olhando com a atenção necessária para Honduras?

Na América Latina, sob o governo George Bush, vimos uma onda de vitórias dos partidos de esquerda passando, entre outros, por Brasil, Chile, Bolívia, Venezuela e Equador. E agora com Obama? Honduras mostra uma preciosa lição que não pode ser negligenciada de forma alguma pela esquerda. Inicia-se na América Latina a vingança da direita. Hoje os Estados Unidos encaram as questões latinas com uma extrema excitação, principalmente com o aprofundamento da multiplicidade de seus problemas crônicos como a Guerra no Iraque, o fechamento do cerco contra o Irã, o desemprego crescente, a crise fiscal do Estado, a instabilidade do sistema financeiro, as pressões pelo inquérito sobre os atos ilegais do governo Bush, as votações pelo pacote de saúde e as reviravoltas do caso Guantánamo.

Essa hesitação permite a reorganização dos setores conservadores que viram e vem seu poder estar sendo retirado por mudanças democráticas. Quando Zelaya começou a concretizar programas com uma cara esquerdista, (como construção de escolas, aumento do salário mínimo e a adesão a Alba) essa forma de democracia era demais para os grupos conservadores. Em outras palavras, como o “jogar o jogo da democracia de faz de conta” foi quebrado, para a ala direitista foi necessário buscar implementar um golpe militar. A lição desse ato é a seguinte: na América Latina, do ponto de vista conservador, é possível efetuar um golpe de Estado em nome da democracia. É um tipo de latinização da ideologia colocada em prática na Guerra do Iraque – “podemos suspender a democracia para colocar novamente sua função, isso é, trazer novamente a democracia baseada num sistema que não transforme a estrutura social e nem distribuía renda”. Outro exemplo dessa lógica foi dado recentemente no Peru. Com o aprofundamento das lutas indígenas para a revogação de um conjunto de decretos de maio de 2008 que foram feitos para facilitar investimentos de exploração de recursos naturais da selva, o presidente direitista Alan Garcia qualificou a luta como uma “agressão subversiva contra a democracia” (Folha, 8 de junho, A14). O que forma o consenso hoje é a democracia liberal, e qualquer ação política que quebre esse consenso é encarado como “anti-democrático”. Garcia não poderia ser mais sincero: uma “agressão subversiva contra a democracia” é exatamente a luta social.

O que significa isso? Não podemos perceber que a democracia é cada vez mais o verdadeiro impasse para a transformação social? Não podemos perceber esse fato no decrescente interesse europeu em votar no parlamento da união européia? A última eleição teve uma abstenção de 43% dos eleitores que somam cerca de 375 milhões em 27 países. Com o aprofundamento da atual crise, uma resolução democrática é, visivelmente, cada vez mais impossível. Uma articulação interclasses (como querem muitos neokeynesianos) para um novo contrato social é a verdadeira utopia. Ao contrário, o que estamos presenciando é a elite re-articulando um projeto de classe (neo)conservador que se distingue dos (neo)liberais em termos puramente formais.

Talvez a expressão mais engraçada dessa oposição não conflituosa entre neoconservadores e neoliberais foi no pedido das transnacionais Nike, Adidas, Gag e Knights pedindo democracia em Honduras. Elas enviaram uma carta a Hillary Clinton dizendo: “nós encorajamos a resolução imediata da crise e que as liberdades civis, incluindo a liberdade de imprensa, de expressão, de reunião e de associação, sejam totalmente respeitadas”. De qualquer forma, as transnacionais ainda afirmaram que “não apóiam e nem apoiaram nenhuma parte na disputa”. Bela forma de exercer a democracia!

A vingança da direita na América Latina está no seu estado embrionário, mas não pode deixar de nos alarmar profundamento. Está cada vez mais claro que Zelaya não é um esquerdista que estava propondo mudanças substanciais e sim medidas básicas para redistribuir a riqueza. Essa ação não foi tolerada pela elite que formentou um golpe de Estado em nome da democracia.

Entretanto, mesmo sem golpes de Estado, e quando acordarmos e vermos diversos Berlusconis no poder?

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