sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dívida norte-americana e desemprego crônico: questões nao resolvíveis da crise estrutural do capital

Muitos estão falando sobre a “retomada” da economia e da à superação da crise “confiança”. Cinicamente, nada de fala sobre duas questões INSOLÚVEIS da atual crise: a dívida externa norte-americana e o desemprego estrutural ou crônico. Vou fazer breves comentários sobre ambas contradições.

1. Crise da dívida

O conjunto da dívida latino-americana é cerca de US$ 350 bilhões. Esse número é completamente insignificante perto das monstruosidades astronômicas da dívida norte-americana. Até mesmo o presidente do FED, Ben Bernanke, já expressou sua preocupação. Será que ele tem algum motivo? Segundo projeções, em proporção do PIB a dívida esta passando dos atuais 44% para 77% nos próximos quatro anos. Isso significa a monstruosidade de US$ 10 TRILHÕES, oito vezes o PIB do Brasil. O Reino Unido e a Alemanha acompanham esse mesmo processo com, respectivamente, 97% e 72% do PIB. Na questão dos EUA, a China apresenta profundas preocupações já que cerca de 70% das reservas dos títulos do Tesouro norte-americano tem a detenção chinesa. Até quando o resto do mundo (incluindo o “terceiro mundo”) vai estar em conduções de produzir os recursos necessários que a economia norte-americana requer a fim de manter o ritmo de sua dívida? O tamanho desse calote astronômico ainda é incalculável. Tamanha a dimensão da dívida, penso eu, sem estipular uma data específica, posso afirmar que a inadimplência da dívida externa dos EUA é uma certeza que vamos ter que nos conformar, por mais que sacuda radicalmente todos os aspectos da vida social no mundo.

2. Desemprego crônico

Um dos pontos principais da atual crise é o crescimento do desemprego que se torna, pela primeira vez na história, crônico. Não é mais um “exército de reserva” que pode voltar à produção – normalmente são pessoas excluídas para sempre do processo produtivo devido à incapacidade estrutural da produção absorver essas pessoas. Portanto, existem pessoas absolutamente supérfluas para o capitalismo. Segundo dados conservadores da OIT, ao longo de 2009 serão novos 50 milhões de desempregado. Na zona do euro, em abril, o nível de desemprego atingiu 9,2% com mais de 396 mil demitidos. Hoje, na Espanha, cerca de 18,1% da população esta desempregada. Nos EUA, em abril foram despedidos cerca de 539 mil trabalhadores e em maio 532 mil. Estima-se que o nível de desemprego já atinja em junho 9,3% da população. Numa recente pesquisa feita em 23 países, o medo do desemprego já passou o da violência e da corrupção.
Na América Latina, no primeiro trimestre cerca de 1 milhão de pessoas ficaram desempregadas. Segundo relatório dos órgãos ligados a ONU, a taxa de desemprego na região atingiu 8,5 no primeiro trimestre, ante 7,9 um ano antes. Estima-se ainda que o percentual de desempregados alcance até 9,1 até o fim do ano (claro que considerando cinicamente uma melhora gradual na economia). Isso significa que entre 2,8 milhões de 3,9 milhões de pessoas poderiam se domar aos 15,9 MILHÕES de desempregados que havia em 2008 nos centros urbanos. Claro que estamos lidando aqui com estatísticas extremamente conservadoras e que consideram o trabalho informal uma benção dos céus. Entretanto, os trabalhos informais não passam de um “desemprego ativo”. No Brasil, demissões em rede de frigoríficos já chegam a 7.700. Apesar da ajuda estatal, as montadoras já cortaram 6.000 vagas. Esse é o caminho da crise.
Qual é a solução paliativa, do ponto de vista do capital? Nos EUA uma solução esta sendo o aprisionamento generalizado que é encabeçado pela privatização dos presídios norte-americanos que já tem mais de cinco milhões de presos. Os “supérfluos” sociais, enquanto não tinham função econômica por não serem consumidores, nem empregadores e não geravam impostos estavam fadados a exclusão, normalmente sem volta, do circuito econômico. Agora esse processo está se modificando: para as prisões privadas a presença massiva de pobres e marginalizados gera a produção de mais presídios dando mais renda para seus proprietários. Finalmente a geração sistêmica de excluídos está trazendo dinheiro para os donos privados do Estado.
Para essas duas contradições do capitalismo em crise não existe solução, nem mesmo aparente. Isso nos permite afirmar que estamos chegando a determinados limites sistêmicos que inviabilizam qualquer forma de deslocamento dessas contradições (antigamente para um país longínquo colonial). Hoje, essa possibilidade esta objetivamente bloqueada. Portanto, não esperemos que a crise vá melhorar daqui alguns meses ou, muito menos, daqui a alguns anos. A conclusão que tiro até hoje é que o destino da crise é ainda piorar consideravelmente como numa espiral decrescente.

A ideologia trabalha na percepção da crise. O desafio da esquerda é, portanto, sobre o significado dela já que o derretimento do sistema financeiro pode ser usada como um “choque” para a aplicação de leis que depreciem ainda mais as condições de existência das classes trabalhadoras. A luta, portanto, é pelo significante “crise estrutural” e a necessidade de transformação radical da sociedade capitalista contemporânea. Para uma política radical, ao contrário dos reformistas, é necessário que se tenha como pauta uma mudança sistêmica radical, por mais árdua e penosa que seja. As lutas pela emancipação estão se atualizando em nosso momento histórico depois das férias do “fim da história”. A pergunta que fica é: ou aceitamos o fim da história da hegemonia do capitalismo global sob o fetiche da democracia liberal como o limite intransponível de vida e ações humanas ou vamos impor uma alternativa NOVA ao fim da história, isso é, o socialismo?

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