A destrutividade incontrolável da crise estrutural do capital trás a tona algo que muitos pensavam que havia ficado na história: a política radical. Ela volta a rondar os limites do possível, transferindo as aspirações de transformação qualitativa das relações sociais não ao Estado ou ao salvamento do Capital, mas ao próprio corpo social de que surgem as exigências políticas e materiais. Essa política radical se difere daquela posta em prática em maio de 1968 onde o slogan “sejamos realistas, exijamos o impossível” mostra perfeitamente os limites. Exijamos a quem? Ao Estado? Ao Capital? É essa prática histérica de demandar coisas impossíveis que deve ficar na história se a articulação de uma política radical está na ordem do dia. Essa política reformista até pode ser utilizada enquanto o sistema do capital se encontrava em expansão, em sua ascendência história. Hoje, entretanto, com o aprofundamento da crise estrutural do capital da qual as concessões dadas ao trabalho tendem a ser progressivamente usurpadas, a política reformista é essencialmente reacionária já que cria obstáculos a uma ofensiva que não busca “reformar o sistema” ou “salva-lo”. Talvez já seja hora se sabermos que o capital é irreformável e, ainda mais, incontrolável. Não é a toa que, por estarmos imersos numa crise irreversível, não existem soluções visíveis.
A solução que esta sendo colocada em prática é a “hibridização” entre Estado e Capital. Estima-se, por exemplo, que cerca de US$ 30 trilhões foram perdidos em 2009 pelas grandes transnacionais com a desvalorização das ações nas bolsas de valores. O mínimo a se esperar é que essas empresas busquem desesperadamente, não importa os meios necessários, reaverem tais prejuízos. Quem está “salvando” essas empresas não é outro senão o Estado. Estima-se que cerca de US$ 4 TRILHÕES já foram despejados para tal empreendimento e não se sabe quanto mais será necessário para sustentar esses pés de barro do cassino mundial. Como esses números são absurdamente exorbitantes, pensemos numa escala progressiva: “o que você faria se tivesse US$ 1 milhão? E US$ 10 milhões? E US$ 100 milhões? E US$ 500 milhões? E US$ 1 bilhão? E US$ 10 bilhões? E US$ 100 bilhões? E US$ 500 bilhões? E US$ 1 trilhão? E US$ 4 TRILHÕES? Para lembrar, ainda temos o crescimento sem precedentes da dívida pública dos EUA. Até mesmo o presidente do FED, Ben Bernanke, já expressou sua preocupação. Será que ele tem algum motivo? Segundo projeções, em proporção do PIB a dívida esta passando dos atuais 44% para 77% nos próximos quatro anos. Isso significa a monstruosidade de US$ 10 TRILHÕES, oito vezes o PIB do Brasil. O Reino Unido e a Alemanha acompanham esse mesmo processo com, respectivamente, 97% e 72% do PIB. Na questão dos EUA, a China apresenta profundas preocupações já que cerca de 70% das reservas dos títulos do Tesouro norte-americano tem a detenção chinesa. Como se dará esse conflito de interesses interimperialistas?
O que se torna claro é que, diante desses excessivos gastos do Estado para o salvamento das grandes empresas em bancarrota, são os recursos públicos que estão sendo enxugados radicalmente e, dessa forma, qualquer “plano social” para remediar o crescimento exponencial de desempregados, famintos e miseráveis se torna um grande sonho. Hoje, na Espanha, cerca de 18,1% da população esta desempregada. Nos EUA, em abril foram despedidos cerca de 539 mil trabalhadores e em maio 532 mil. Estima-se que o nível de desemprego já atinja em junho 9,3% da população. Outras estimativas dizer que, até o final do ano TODOS OS PAÍSES DO MUNDO terão mais de 10% de desempregados.
Portanto, a questão é: de onde surgiu tanto dinheiro para o socorro do sistema financeiro em questão de meses, senão dias? Essa não é a prova final sobre a impossibilidade de o sistema capitalista ter qualquer interesse em resolver as questões que remetem as necessidades humanas e a participação ativa da democracia como agente desse processo de concentração e centralização de renda? Hoje, os 20% mais ricos do mundo se apropriam de 82,7% da renda, enquanto os 66,6% mais pobres ficam com apenas 6%. Os processos cotidianos de administração da crise não provam que essa estatística não é um acidente de percurso, mas o processo por si mesmo com que se reproduz o capitalismo? E que, ainda mais, é o Estado o facilitador por excelência desse processo? Diante disso, a questão se coloca novamente: “reforma ou revolução?”.
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