Hoje vivemos numa cruzada anti-teórica, principalmente no campo da esquerda. O que poderia explicar tal debilidade? O que nos levou a considerar a possibilidade de que as idéias não têm uma força material sobre a realidade quando utilizadas com vigor, disciplina e organização? Esse problema não é novo. Como já dizia a musa Rosa Luxemburgo, a principal característica do OPORTUNISMO é a hostilidade à teoria. Daí o esforço de buscar somente resultados imediatos para a emancipação, separando teoria e prática tornando uma independente da outra.
Hoje, o resultado dessa cruzada anti-teórica é a ação pela ação, o movimento pelo movimento. Pela inevitabilidade do Estado (que esta aí para ficar), do Capital (como limite inexorável da história humana) e da democracia (como a fórmula final de governo), se busca uma revolta que não represente nenhuma ameaça efetiva e que tem como objetivo atacar o sistema com demandas histéricas impossíveis, exigências que não visam ser atendidas: “pleno emprego”, “expansão do Estado de Bem-Estar”, “criação de um núcleo de crimes contra a intolerância” etc. Ou como diria o grande reformista no início do século XX, Edouard Berstein, “o movimento é tudo, o alvo nada”. Não é a toa que a crítica de Rosa é que, diante dessa descaracterização da esquerda num reformismo perpétuo, existe uma aproximação com o liberalismo apático e comodista numa crescente integração com a ordem capitalista.
Portanto, contra o apelo à ação “prática” local e modesta, Alain Badiou escreve: é melhor não fazer nada do que contribuir para a invenção de maneiras formais de tornar visível o que o Império já reconhece como existente. Ou como diria Slavoj Zizek, é melhor não fazer nada do que participar de atos localizados cuja principal função é fazer o sistema funcionar mais azeitado (atos como dar espaço a miríade de novas subjetividades etc.). Hoje, a ameaça não é a passividade, mas a pseudo-atividade, a ânsia de “ser ativo”, de “participar”, de mascarar a Nulidade do que acontece. Os que estão no poder muitas vezes preferem até a participação “crítica”, o diálogo, ao silêncio – só para nos envolver num “diálogo”, para garantir o rompimento da nossa agourenta passividade.
2 comentários:
Com certeza fernando! O engraçado é que esses anti-teoricos, ou poderiamos dizer por consequencia anti-praticos, (porque suas investidas inconsequentes e estéries como voce disse realmente representam muitas vezes um problema maior que a propria passividade), se auto proclamam "insurgentes", "revolucionarios", como se fosse uma especie de modo de vida que se escolhe!
acho que poderiamos citar a frase de heath ledger quando interpreta o coringa no ultimo batman! "I'm like a dog chasing cars! I wouldn't know what to do with it if I ever caught one!" Acho que isso resume exatamente a "ecolha de vida" desse ditos "insurgentes" que passam da histeria a psicose, como da demanda incoerente para a açao completamente esteril!
Zen, vc acobou um pouco com a minha angustia. Agora ficou claro para mim conotação da ultima frase do "micro-manifesto".Os primeiros passos já foram dados a muito tempo.A "ação" ou "movimento" "correto" para que essas e novas idéias tenham efetivamente força sobre a realidade seria difundilas para um grande numero de pessoas? Correto?
Valeu
Abraço.
Postar um comentário