segunda-feira, 11 de maio de 2009

Os campos de concentração hoje

Hoje o debate sobre os campos de concentração voltam a girar: a dificuldade é que giram em torno de um problema falso. É necessário ligar diretamente a questão dos campos de concentração e seu caráter indizível com a necessidade de reprodução ideológica do capitalismo hoje. Além disso, muitas vezes consideram-se os campos um “assunto morto” de um passado do qual não se quer lembrar: será que essa não é a verdadeira questão? Os campos de concentração não são o significado real das políticas praticadas pelo excesso capitalista, o nazismo? Hoje, em tempos que os excessos do capitalismo já são praticamente integrados a sua lógica de reprodução, como suas práticas políticas já tem como pressuposto a criação de novos campos onde se articulam o antagonismo que estrutura a realidade social? Se no nazismo o excesso da qual se buscava o extermínio eram os judeus, quais são as práticas que hoje demonstram a necessidade estrutural do capital em exterminar do campo político seus excrementos? Não são essas políticas que tem como objeto os imigrantes prioritariamente no primeiro mundo e os favelados no terceiro – além dos refugiados? Não seriam eles, portanto, os elementos excedentes da sociedade global que se tornam objetos de políticas que os segregam e concentram sob a ordem da Lei? Nesse sentido a pergunta é: não seriam desses elementos excedentes da ordem global capitalista que poderiam formar novas formas de consciência social coletiva hoje?

4 comentários:

ruído binário disse...

campos de concentração invisíveis
belo texto

Felipe disse...

Se a maior característica do campo de concentração é a retirada do caráter de sujeito dos homens, da potência do ser e do não-ser, a quem cabe a vida nua de Agamben, o capitalismo deve se orgulhar de sua indústria em série de campos. A céu aberto!

Felipe disse...

A ideologia
é morta, Fernando,
e eu não me conformo.

Parece não houve
vivalma em velório,
nem lenço, nem vela.

Vi-a ontem matreira,
cupida cupida,
frechando nos peitos;

e erguendo sonante
as vozes dos homens
nas praças e jaulas;

e, quem nos diria?,
o fogo botando
nos vãos sutiãs!

Mas hoje, Fernando,
É morta, é morta,
e eu não me conformo.

Ninguém não a chora
e há quem comemora
(um povo sisudo,

os puros de ternos,
de número e letra,
os fins da história).

Mas conto pra ti,
se louco não sou,
que não acredito.

Está nos jornais,
se diz por aí,
mas não acredito.

Pois rostos eu vi
do pobre e mendigo,
do preso e vilão.

O lado era o outro
de tudo que vige,
do sim era o não.

Ou bem que ela vive,
ou bem que os fantasmas
que rondam Europa

chegaram aqui
e lá, lá e ali,
e em tudo que é canto.

Ah, sim, ela vive,
e já isso sabem
os que não a choram.

E os que comemoram
inventam verdades
pra ter no que crer.

Fernando Marcellino disse...

Confesso que se estivee escutando (além da vozinha que fala quando leio) diria simplesmente "bravo"!