terça-feira, 28 de abril de 2009

Estado de Emergência Pandêmica

Hoje o caso da gripe suína demonstra o que fico tentado de chamar de “estado de emergência pandêmica”. A OMS, organização mundial da saúde, fez uma escala de um a seis buscando mostrar o nível de alerta pandêmico. No nível um nenhum vírus de animais infectou humanos, no dois um vírus de animal infectou pessoas numa potencial ameaça pandêmica, no três estão ocorrendo casos esporádicos em humanos, mas sem capacidade de transmissão entre humanos, no quarto a transmissão entre pessoas está causando surtos em nível comunitário com um aumento significativo no risco de pandemia, no cinco a transmissão entre pessoas acontece em, ao menos, dois países de uma região com uma pandemia iminente. Finalmente, no nível seis, a pandemia global está em pleno andamento (paranóia total). Na primeira passagem do nível três ao nível quatro, no dia 28 de abril de 2009, Keiji Fukada, diretor-geral justificou a medida de forma sintomática: aspectos econômicos e políticos foram levados em consideração, mas os principais critérios foram “técnicos”. Essa aplicação de critérios “técnicos” não é semelhante às medidas de emergência feitas em nossas democracias-liberais? Não é sob essa transformação constante dos níveis de periculosidade que se assegura à imobilidade desse estado internacional de emergência pandênico? Ou ainda, esse método não é o mesmo que os alertas sobre a segurança nacional que passam no nível amarelo ao laranja e do laranja ao vermelho? Não é essa emergência constante que assegura o medo social diante dela?

Segue abaixo o melhor artigo feito até agora sobre essa questão do sempre instigante Mike Davis que é professor no departamento de História da Universidade da Califórnia (UCI), em Irvine, e um especialista nas relações entre urbanismo e meio ambiente. Ex-caminhoneiro, ex-açogueiro e ex-militante estudantil, Davis é colaborador das revistas New Left Review e The Nation, e autor de vários livros, entre eles Ecologia do Medo, Holocaustos coloniais, O monstro bate a nossa porta (editora Record), e Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles (Boitempo).



A gripe suína mexicana, uma quimera genética provavelmente concebido na lama fecal de um criadouro industrial, ameaça subitamente o mundo inteiro com uma febre. Os brotos na América do Norte revelam uma infecção que está viajando já em maior velocidade do que aquela que viajou a última cepa pandêmica oficial, a gripe de Hong Kong, em 1968.

Roubando o protagonismo de nosso último assassino oficial, o vírus H5N1, este vírus suíno representa uma ameaça de magnitude desconhecida. Parece menos letal que o SARS (Síndrome Respiratória Aguda, na sigla em inglês) em 2003, mas como gripe, poderia resultar mais duradoura que a SARS. Dado que as domesticadas gripes estacionais de tipo “A” matam nada menos do que um milhão de pessoas ao ano, mesmo um modesto incremento de virulência, poderia produzir uma carnificina equivalente a uma guerra importante.

Uma de suas primeiras vítimas foi a fé consoladora, predicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na possibilidade de conter as pandemias com respostas imediatas das burocracias sanitárias e independentemente da qualidade da saúde pública local. Desde as primeiras mortes causadas pelo H5N1 em 1997, em Hong Kong, a OMS, com o apoio da maioria das administrações nacionais de saúde, promoveu uma estratégia centrada na identificação e isolamento de uma cepa pandêmica em seu raio local de eclosão, seguida de uma massiva administração de antivirais e, se disponíveis, vacinas para a população.

Uma legião de céticos criticou esse enfoque de contrainsurgência viral, assinalando que os micróbios podem agora voar ao redor do mundo – quase literalmente no caso da gripe aviária – muito mais rapidamente do que a OMS ou os funcionários locais podem reagir ao foco inicial. Esses especialistas observaram também o caráter primitivo, e às vezes inexistente, da vigilância da interface entre as enfermidades humanas e as animais. Mas o mito de uma intervenção audaciosa, preventiva (e barata) contra a gripe aviária resultou valiosíssimo para a causa dos países ricos que, como os Estados Unidos e a Inglaterra, preferem investir em suas próprias linhas Maginot biológicas, ao invés de incrementar drasticamente a ajuda às frentes epidêmicas avançadas de ultra mar. Tampouco teve preço esse mito para as grandes transnacionais farmacêuticas, envolvidas em uma guerra sem quartel com as exigências dos países em desenvolvimento empenhados em exigir a produção pública de antivirais genéricos fundamentais como o Tamiflu, patenteado pela Roche.

A versão da OMS e dos centros de controle de enfermidades, que já trabalha com a hipótese de uma pandemia, sem maior necessidade novos investimentos massivos em vigilância sanitária, infraestrutura científica e reguladora, saúde pública básica e acesso global a medicamentos vitais, será agora decisivamente posta a prova pela gripe suída e talvez averigüemos que pertence à mesma categoria de gestão de risco que os títulos e obrigações de Madoff. Não é tão difícil que fracasse o sistema de alertas levando em conta que ele simplesmente não existe. Nem sequer na América do Norte e na União Européia.

Não chega a ser surpreendente que o México careça tanto de capacidade como de vontade política para administrar enfermidades avícolas ou pecuárias, pois a situação só é um pouco melhor ao norte da fronteira, onde a vigilância se desfaz em um infeliz mosaico de jurisdições estatais e as grandes empresas pecuárias enfrentam as regras sanitárias com o mesmo desprezo com que tratam aos trabalhadores e aos animais.

Analogamente, uma década inteira de advertências dos cientistas fracassou em garantir transferências de sofisticadas tecnologias virais experimentais aos países situados nas rotas pandêmicas mais prováveis. O México conta com especialistas sanitários de reputação mundial, mas tem que enviar as amostras a um laboratório de Winnipeg para decifrar o genoma do vírus. Assim se perdeu toda uma semana.

Mas ninguém ficou menos alerta que as autoridades de controle de enfermidades em Atlanta. Segundo o Washington Post, o CDC (Centro de Controle de Doenças) só percebeu o problema seis dias depois de o México ter começado a impor medidas de urgência. Não há desculpas para justificar esse atraso. O paradoxal desta gripe suína é que, mesmo que totalmente inesperada, tenha sido prognosticada com grande precisão. Há seis anos, a revista Science publicou um artigo importante mostrando que “após anos de estabilidade, o vírus da gripe suína da América do Norte tinha dado um salto evolutivo vertiginoso”.

Desde sua identificação durante a Grande Depressão, o vírus H1N1 da gripe suína só havia experimentado uma ligeira mudança de seu genoma original. Em 1998, uma variedade muito patógena começou a dizimar porcas em uma granja da Carolina do Norte, e começaram a surgir novas e mais virulentas versões ano após ano, incluindo uma variante do H1N1 que continha os genes do H3N2 (causador da outra gripe de tipo A com capacidade de contágio entre humanos).

Os cientistas entrevistados pela Science mostravam-se preocupados com a possibilidade de que um desses híbridos pudesse se transformar em um vírus de gripe humana – acredita-se que as pandemias de 1957 e de 1968 foram causadas por uma mistura de genes aviários e humanos forjada no interior de organismos de porcos – e defendiam a criação urgente de um sistema oficial de vigilância para a gripe suína: advertência, cabe dizer, que encontrou ouvidos surdos em Washington, que achava mais importante então despejar bilhões de dólares no sumidouro das fantasias bioterroristas.

O que provocou tal aceleração na evolução da gripe suína: Há muito que os estudiosos dos vírus estão convencidos que o sistema de agricultura intensiva da China meridional é o principal vetor da mutação gripal: tanto da “deriva” estacional como do episódico intercâmbio genômico. Mas a industrialização empresarial da produção pecuária rompeu o monopólio natural da China na evolução da gripe. O setor pecuário transformou-se nas últimas décadas em algo que se parece mais com a indústria petroquímica do que com a feliz granja familiar pintada nos livros escolares.

Em 1965, por exemplo, havia nos Estados Unidos 53 milhões de porcos espalhados entre mais de um milhão de granjas. Hoje, 65 milhões de porcos concentram-se em 65 mil instalações. Isso significou passar das antiquadas pocilgas a gigantescos infernos fecais nos quais, entre esterco e sob um calor sufocante, prontos a intercambiar agentes patógenos à velocidade de um raio, amontoam-se dezenas de milhares de animais com sistemas imunológicos muito debilitados.

No ano passado, uma comissão convocada pelo Pew Research Center publicou um informe sobre a “produção animal em granjas industriais”, onde se destacava o agudo perigo de que “a contínua circulação de vírus (...) característica de enormes aviários ou rebanhos aumentasse as oportunidades de aparição de novos vírus mais eficientes na transmissão entre humanos”. A comissão alertou também que o uso promíscuo de antibióticos nas criações de suínos – mais barato que em ambientes humanos – estava propiciando o surgimento de infecções de estafilococos resistentes, enquanto que os resíduos dessas criações geravam cepas de escherichia coli e de pfiesteria (o protozoário que matou um bilhão de peixes nos estuários da Carolina do Norte e contagiou dezenas de pescadores).

Qualquer melhora na ecologia deste novo agente patógeno teria que enfrentar-se com o monstruoso poder dos grandes conglomerados empresariais avícolas e pecuários, como Smithfield Farms (suíno e gado) e Tyson (frangos). A comissão falou de uma obstrução sistemática de suas investigações por parte das grandes empresas, incluídas algumas nada recatadas ameaças de suprimir o financiamento de pesquisadores que cooperaram com a investigação.

Trata-se de uma indústria muito globalizada e com influências políticas. Assim como a gigante avícola Charoen Pokphand, sediada em Bangkok, foi capaz de desbaratar as investigações sobre seu papel na propagação da gripe aviária no sudeste asiático, o mais provável é que a epidemiologia forense do vírus da gripe suína bata de frente contra a pétrea muralha da indústria do porco.

Isso não quer dizer que nunca será encontrada uma acusadora pistola fumegante: já corre o rumor na imprensa mexicana de um epicentro da gripe situado em torno de uma gigantesca filial da Smithfield no estado de Vera Cruz. Mas o mais importante – sobretudo pela persistente ameaça do vírus H5N1 – é a floresta, não as árvores: a fracassada estratégia antipandêmica da OMS, a progressiva deterioração da saúde pública mundial, a mordaça aplicada pelas grandes transnacionais farmacêuticas a medicamentos vitais e a catástrofe planetária que é uma produção pecuária industrializada e ecologicamente bagunçada.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Notas altamente especulativas sobre o desaparecimento dos deuses

Ao que tudo parece, vivemos em tempos de transformação ontológica. Essa trans-forma é eminentemente dialética. E por quê não evocar Hegel hoje? Em termos lacanianos, ele diria que a dialética ex-siste. Ela necessariamente tem um terceiro termo excessivo, uma lacuna paraláctica que produz a diferença da cisão do Um em si mesmo. Nesses termos, a dialética é a simbolização do Real – do antagonismo traumático que torna “impossível” como a luta de classes ou a não-existência de metalinguagem entre masculino e feminino. Não seria demais, portanto, propor que a dialética é imortal? Que sua própria existência já comporta a imortalidade? Não poderíamos dizer, portanto, que o Ser é dialético? Se a dialética é do campo infinito o Ser consegue acessar essa imortalidade para além da finitude? Qual é a técnica para o Ser? Não seria o Vazio a técnica para Ser, para acessar o campo de Deus (do Real)?

Se Deus é imortal, a pergunta “Deus está vivo?” não faz sentido. Quando se diz “Deus está morto”, no mesmo sentido, tem o pressuposto acerca da finitude de Deus o diminuindo a um vivente que viveu e que pode morrer (ou que está morrendo). Homem e Deus estão numa posição de paralaxe em que se coloca em pauta a questão da eminência da morte e a imortalidade, a infinitude. Enquanto os filósofos das Luzes buscavam reiterar constantemente a possibilidade da morte de Deus pelas mudanças da Filosofia, não buscaram no homem a possibilidade de buscar a imortalidade de Deus enquanto viventes e dialéticos. A busca da Metafísica, seguindo Badiou, sempre rompeu em profundidade com a consignação religiosa do sentido à disposição do Deus vivo. Portanto, o que esperar de Deus hoje?

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Slavoj Zizek: Short Survey

When were you happiest?

Z:A few times when I looked forward to a happy moment or remembered it - never when it was happening.

What is your greatest fear?

Z:To awaken after death - that’s why I want to be burned immediately.

What is your earliest memory?

Z:My mother naked. Disgusting.

Which living person do you most admire, and why?

Z:Jean-Bertrand Aristide, the twice-deposed president of Haiti. He is a model of what can be done for the people even in a desperate situation.

What is the trait you most deplore in yourself?

Z:Indifference to the plights of others.

What is the trait you most deplore in others?

Z:Their sleazy readiness to offer me help when I don’t need or want it.

What was your most embarrassing moment?

Z:Standing naked in front of a woman before making love.

Aside from a property, what’s the most expensive thing you’ve bought?

Z:The new German edition of the collected works of Hegel.

What is your most treasured possession?

Z:See the previous answer.

What makes you depressed?

Z:Seeing stupid people happy.

What do you most dislike about your appearance?

Z:That it makes me appear the way I really am.

What is your most unappealing habit?

Z:The ridiculously excessive tics of my hands while I talk.

What would be your fancy dress costume of choice?

Z:A mask of myself on my face, so people would think I am not myself but someone pretending to be me.

What is your guiltiest pleasure?

Z:Watching embarrassingly pathetic movies such as The Sound Of Music.

What do you owe your parents?

Z:Nothing, I hope. I didn’t spend a minute bemoaning their death.

To whom would you most like to say sorry, and why?

Z:To my sons, for not being a good enough father.

What does love feel like?

Z:Like a great misfortune, a monstrous parasite, a permanent state of emergency that ruins all small pleasures.

What or who is the love of your life?

Z:Philosophy. I secretly think reality exists so we can speculate about it.

What is your favourite smell?

Z:Nature in decay, like rotten trees.

Have you ever said ‘I love you’ and not meant it?

Z:All the time. When I really love someone, I can only show it by making aggressive and bad-taste remarks.

Which living person do you most despise, and why?

Z:Medical doctors who assist torturers.

What is the worst job you’ve done?

Z:Teaching. I hate students, they are (as all people) mostly stupid and boring.

What has been your biggest disappointment?

Z:What Alain Badiou calls the ‘obscure disaster’ of the 20th century: the catastrophic failure of communism.

If you could edit your past, what would you change?

Z:My birth. I agree with Sophocles: the greatest luck is not to have been born - but, as the joke goes on, very few people succeed in it.

If you could go back in time, where would you go?

Z:To Germany in the early 19th century, to follow a university course by Hegel.

How do you relax?

Z:Listening again and again to Wagner.

How often do you have sex?

Z:It depends what one means by sex. If it’s the usual masturbation with a living partner, I try not to have it at all.

What is the closest you’ve come to death?

Z:When I had a mild heart attack. I started to hate my body: it refused to do its duty to serve me blindly.

What single thing would improve the quality of your life?

Z:To avoid senility.

What do you consider your greatest achievement?

Z:The chapters where I develop what I think is a good interpretation of Hegel.

What is the most important lesson life has taught you?

Z:That life is a stupid, meaningless thing that has nothing to teach you.

Tell us a secret.

Z:Communism will win.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Tese sobre a relação dialética da teologia política e econômica

A teologia política se baseia na transcendência do soberano enquanto a teologia econômica se baseia na transcendencia do poder do mercado enquanto Deus onipotente - a “mão invisível” - que, sob a globalização capitalista, trás o estado de exceção como a regra da biopolítica pós-política democrático-liberal de nossos dias. Nesse sentido, a negação liberal de uma violência ética é o pressuposto ideológico para mistificar o fechamento do horizonte ontológico da humanidade sob o espectro do fim da história. Esse espectro do fim da história não só ronda o mundo, mas é aceito pela esquerda como a fórmula do possível. Claro que, sob essa posição, o limite de atuação política é o existente, acabando por trazer uma maior visibilidade ao estado das coisas ao invés de abrir as lacunas do impossível.

a ideologia da vida despolitizada

Nós podemos continuar imaginando o Comunismo hoje? Essa pergunta é o inverso da pergunta: vivemos o fim da história sob a fórmula da democracia-liberal ou o capitalismo ainda tem antagonismos, tensões e contradições que colocam riscos radicais a sua reprodução infinita? Não é verdadeiro que hoje, mais do que nunca, o capitalismo se naturalizou como relação social culturalmente posta e ontologicamente aceita assim como ter filhos, casar e morrer? Muitas discussões acontecem sob o espectro do fim das ideologias, mas não é exatamente isso que significa a ascensão radical da vida social permeada pela ideologia que não se discute questões como o próprio capitalismo (que preferencialmente costuma ser chamado simplesmente de economia)?
Enquanto a idéia dominante é que vivemos numa era pós-ideológica, a luta ideológica é colocada de lado. Entretanto, o simples e básico posicionamento ideológico, principalmente em tempos de crise, nos remete inexoravelmente a uma luta onde a chave se encontra em dicotomias falsas como “democracia contra totalitarismo”, “democracia contra fundamentalismo”, “democracia e liberdade” etc. Ao não conseguirmos pensar uma sociedade qualitativamente diferente, isso nos diz muito sobre nossa condição ideológica hoje onde, como aponta Jamenson, é mais fácil pensar a destruição da Terra por algum acidente cósmico do que uma modesta mudança radical no capitalismo. Encontra-se aqui uma das questões mais importantes de nosso tempo: ou aceitamos essas dicotomias falsas que estruturam a ação política (pós-política nesse caso que buscam, no máximo, um capitalismo mais humano...) ou a fórmula democrático-liberal que naturaliza o capitalismo global impõem contradições e antagonismo que problematizam sua reprodução infinita e que não consegue resolve-los por sua lógica interna? A crise em que vivemos mostra que a segunda alternativa é a certa.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Favela: sintoma da globalização

As favelas são o sintoma da globalização capitalista. Elas não fazem parte de um projeto social que deu errado ou um acidente no processo de distribuição de renda e espaço. Pelo contrário, as favelas são o resultado necessário diante do processo de concentração e centralização da riqueza. Vemos, atualmente, portanto, a criação de muros que buscam estabelecer essa lógica semelhante a um apartheid. É um resultado direto da globalização a criação de novos muros – seja entre os EUA e o México, Israel e os palestinos, nos campos de refugiados, nas favelas, alphaviles etc.

No Rio de Janeiro, para conter a expansão das favelas está sendo colocado em prática um projeto para cercear 10 favelas. Aqui vem a questão: para acabar com a expansão das favelas o remédio dado pelas políticas públicas é a criação de muros que separem radicalmente os favelados. Isso não mostra os limites do Estado diante da atual crise? Não é exatamente por isso que um novo keynesianismo é completamente inoperante hoje devida a crise estrutural do Estado que, praticamente desde 1970, estou em bancarrota? A desculpa dada pelo governo do Rio, por exemplo, para cercar os moradores das favelas diante da destruição ecológica que proporciona sua expansão.
Não devemos ter medo de propor que a favela é hoje o campo de concentração por excelência da globalização capitalista. Mais de 70% da população urbana no Terceiro Mundo é favelada.
O morro Dona Marta, na zona sul do Rio de Janeiro, está sendo a primeira experiência da criação explícita de um muro que cerceia seus habitantes. Na favela da Rocinha o projeto prevê que o muro terá cerca de 2.800 metros de extensão num total de mais de 11 mil metros de muro que serão erguidos. Esse é o significado Real da democracia-liberal hoje.