Quando fiquei sabendo da situação
política no Paraguai durante os últimos dias lembrei de um texto que havia
escrito em 2009 chamado “Golpes de Estado Democráticos”. Lá já alertava que um espectro rondava novamente a América Latina: o
risco dos golpes de Estados.
Não são golpes
de Estado parecidos com aqueles da década de 60 e 70, pois não buscam
implementar uma ditadura militar estrito senso. A novidade dos novos golpes de
Estado na região são “golpes de Estado democráticos” que, por mais que tenha um
conteúdo golpista, são envoltos pelo véu retórico da democracia liberal. Honduras deu início a este novo ciclo, por
mais que anteriormente tenham existido outras tentativas na região, como na
Bolívia (2008), Equador (2010) e Venezuela (2002).
Lembremos que Fernando Lugo entrou para a história
do país em 2008, quando derrotou o Partido Colorado, que controlava a vida dos
paraguaios por 61 anos. Desde lá já houveram dezenas tentativas da maioria
colocada e oviedista de derrubar o presidente. Agora essa tentativa de golpe
pela via de um impeachment é organizada
a toda velocidade pelo Congresso, sob a acusação de mau desempenho de suas
funções pela morte de 17 pessoas em uma operação de reintegração de posse em
uma fazenda do nordeste do país, perto da fronteira com o Brasil.
Najib Amado, secretário-geral do Partido Comunista Paraguaio, relatou da seguinte forma a situação agora:
“O processo de impeachment foi aprovado de forma acelerada. Isso deixa claro que se trata de um golpe de Estado. Há muita gente chegando do interior para resistir. O governo tem apoio nos setores populares. O golpe não representa nem mesmo a base social dos partidos de direita. Já estão em Assunção representantes do Foro de São Paulo (articulação de partidos de esquerda da América Latina) e logo mais chegam os ministros das Relações Exteriores da Unasul (Brasil, Equador, Bolívia, Colômbia e Uruguai). Os meios de comunicação fazem coro com os golpistas. Ao longo das últimas semanas difundiram notícias alarmistas e deram voz apenas aos parlamentares que tentam derrubar o presidente. Até agora, pelo menos oficialmente, as forças armadas não se pronunciaram. A polícia montou um aparato de segurança em torno do Congresso, mas não há violência nas ruas”.
Em suma, são grupos
conservadores que estão se aproveitando de um evento para desestabilizar o
governo, uma espécie de golpe disfarçado de “legalidade democrática”. Essa
manobra de setores da direita paraguaia, em especial os grande proprietários de
terra do país, estão articulando um golpe branco a toque de caixa. Como disse
ontem Evo Morales:
“Este golpe de Estado em gestação contra um
presidente democraticamente eleito e apoiado pela maioria do povo é um atentado
contra a consciência dos povos e contra os governos que hoje impulsionam
profundas transformações em seus países, de forma pacífica [...]. Convoco os
povos indígenas e os movimentos sociais da América Latina a se unirem em uma só
frente para defender a democracia no Paraguai e ao presidente Lugo”.
O tempo de aparente calmaria está acabando. As próximas horas serão decisivas no futuro do
país e da América Latina. Hoje as 13h Lugo fala ao Parlamento que às 17:30 pode
decidir pelo impeachment. A resistência popular pode ser a única opção.
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