terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Notas filosóficas sobre o amor

Para Alain Badiou, existem quatro dimensões possíveis de existência de um Evento-Verdade: a ciência, a arte, a política e o amor. Como nota Zizek, os três primeiros seguem a lógica do Verdadeiro-Belo-Bom - a ciência da verdade, a arte da beleza e a política do bem. Entretanto, temos que pensar a topologia do amor dentro desse procedimento filosófico de Badiou. Ele não pode ser encarado como o sinthoma que dá a ligação entre os três demais elos? Ou ainda, sua caracterização como sinthoma não pode ser considerada a constituição diferencial do ser humano ao animal? Vemos aqui um interessante paradoxo construtivo em relação a posição zizekiana do sujeito vazio em relação ao amor: ele considera que o amor é mau já que desestrutura o mundo simbólico do sujeito ao mesmo tempo que considera o amor, diferenciando-se dos outros Eventos-Verdade, como aquele que não força o X inominável do Outro amado, o próprio mau na teorização de Badiou. Paradoxo que o leva a dizer que o amor designa o respeito do amante ao que deve permanecer inominável ao amado - "onde não se pode falar, deve-se permanecer, portanto, em silêncio", talvez seja essa a receita fundamental do amor. O que podemos dizer sobre isso? Os outros três Eventos-Verdade estão dentro da lógica do Todo, enquanto o amor na do não-Todo e, nesse sentido é que o verdadeiro amor tem um caráter infinito e ilimitado já que nunca está presente por completo. O amor busca o não-fechamento ontológico fazendo com que arrisquemos dizer que para amar é necessária a alienação (no sentido estritamente lcaniano) já que torna-se um imperativo a passagem para o nível do desejo incognicível do Outro. Por isso que HOJE O AMOR É UMA TAPEAÇÂO. Se a identificação imaginária, especular, imediata, (líquida) é apenas o suporte para a perspectiva escolhida pelo sujeito no campo do Outro, de onde "a identificação pode ser vista sob um aspecto satisfatório, onde o ponto do ideal do eu é o de onde o sujeito se verá, como se diz, como visto pelo outro", sob essa miragem especular, hoje dominante nas trocas "intersubjetivas" faz com que o amor tenha essência de uma tapeação já que situa no campo onde é instituído ao Outro apenas a forma em que me agrada ser visto: novamente, uma tapeação. Podemos comprovar essa tese em relação a "forma-olhar" de hoje que, nos casos mais radicais, é considerado um estupro visual pelo medo de identificação com o Outro. Se o olhar é um vazio, objeto minúsculo a surgido de alguma automutilação induzida pela aproximação do Real, hoje mais do que nunca temos medo de olhar no olho pela admnistração generalizada do capitalismo tardio dos excessos erráticos (obviamente não só por isso, mas também pela transformação radical das forças de socialização, sexuação etc). Essa é a biopolítica da vida cotidiana que afeta diretamente a capacidade do sujeito amar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Por isso eu prefiro a subjetividade dos gregos....põe tudo na conta do cupido!