quinta-feira, 13 de novembro de 2008

A luta de classes sob a crise estrutura do capital como Significante-Mestre (desculpe o lacanês, mas não me conti)

Como entender um projeto de emancipação hoje, se ainda pensamos nisso? Vamos sair de alguns pressupostos teóricos para depois adentrar realmente no assunto. Primeiramente, concordo com Ernesto Laclau: a sociedade não existe. A Não-sociedade é organizada a partir de antagonismo não-resolvível. Dessa forma, entender a sociedade como um sistema fechado é impossível. A aparência de que ela é um sistema fechado é produzida por uma fantasia ideológica que cria a ilusão de completude e possibilita a reconciliação entre uma origem mítica e uma futura utopia ideal ou, a noção de emancipação.
As políticas emancipatórias expõem essa fantasia e torna “transparente” o antagonismo central (imsimbolízável) que representa a completude da sociedade: a divisão social do trabalho historicamente existente que, de forma nenhuma, uma condição ontológica do ser social. Entretanto a questão continua: é possível transcender (ou atravessar em lacanês) essa fantasia?
Para Laclau o sujeito emancipatório é o lumpenproletariado que é um “outsider absoluto”. De acordo com Laclau, contra Marx que concebeu as partes inseridas na produção capitalista, a expulsão do lumpenproletariado desse processo é a condição que possibilita uma pura interioridade onde a história possui uma estrutura coerente. Para ele o lumpen é o resto que possibilita estruturar uma luta emancipatória sendo um sujeito antagonista. Nesse sentido, para Laclau o Significante-Mestre que deve estruturar as lutas emancipatórias é um significante Vazio que possibilite uma multiplicidade de entidades-substâncias que adentrem esse significante Vazio e possibilitem uma mudança radical nas coordenadas simbólicas hegemônicas.
Em contrate com Laclau, Slavoj Zizek coloca que o sujeito emancipatório par excellente é, de fato, o proletariado. Isso porque o proletariado é um não-grupo no edifício social existente. O proletariado existe como um grupo contraditório que é, simultaneamente, incluído e excluído da sociedade. É incluído no sentido que é requerido na ordem dominante de produção, mas é excluído no senso de que a sociedade não pode lhe dar um lugar próprio. O lumpen, ao contrário, é negado de historicidade das relações de produção. É um grupo que é marginalizado social e economicamente das relações de produção capitalistas sendo, dessa forma, um elemento que flutua livremente por qualquer estrato ou classe social. Dessa forma, o lumpen é um grupo que pode se apropriado tanto pelo populismo de um regime opressivo ou pelo populismo “do povo”. Nesse ponto Zizek continua sua crítica apontando que Laclau, ao reduzir lutas particulares como um “universal equivalente” tem como resultado não ver que essas lutas fazem parte de uma contingência política em busca pela hegemonia. Zizek aponta, em contraste, que o sujeito emancipatório pré-existe a luta emancipatória e, nesse sentido, só consegue fazer parte da luta emancipatória quando se integra na ordem simbólica. Aprofundando um pouco mais essa Idéia, Zizek considera que esse sujeito emancipatório tem o caráter de um objeto pequeno a (significante-Mestre): aqui seu caráter imsimbolizável por estar estruturado a partir de um antagonismo fundamental, o Real do capital, a luta de classes. Esse Significante tem a funcionalidade de trazer unidade ao processo de fragmentação sobredeterminando a articulação das lutas emancipatórias. O que falta radicalizar no pensamento do Zizek é historicizar a luta de classes diante na nova morfologia da classe-que-vive-do-trabalho sob a crise estrutural do metabolismo global do capital. Mas isso acho que será assunto para outro post...