quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Bo Xilai e o Neomaoísmo


Para a surpresa de muitos, na China ainda existem conflitos em torno do legado de Mao Zedong. Um dos principais responsáveis por reviver este antigo fantasma é Bo Xilai, um dos candidatos ao Politburo do Partido Comunista da China em 2012. Sua ênfase no retorno dos valores revolucionários de Mao mobilizou diversas técnicas de propaganda, como o estímulo aos cantos vermelhos da revolução cultural e a proliferação de milhões de mensagens de texto por celular com máximas do Grande Timoneiro.
            Bo Xilai, assim como Xi Jinping (provavelmente o próximo presidente chinês), faz parte de um grupo de filhos de fundadores do partido comunista. Filho de Bo Yibo, um dos “Oito Imortais” que junto com Deng Xiaoping articularam as reformas pós-Mao, Bo Xilai fez licenciatura em história mundial e pós-graduação em jornalismo internacional. Começou sua carreira no Partido na província de Liaoning para depois mover-se ao governo nacional (ministro do comércio) e assumir a secretaria geral do partido em Chongqing, a maior das quatro municípios autônomos do país (juntamente com Pequim, Shangai e Tianjin). Sua designação para Chongqing coincidiu com uma visita de Hu Jintao orientando que a região deveria converter-se num pólo econômico no interior da China, ser o ponto de produção mais importante ao longo do rio YangTze e consolidar-se como primeiro lugar a conseguir efetuar uma integração entre as zonas rurais e urbanas. Além disso, Bo Xilai também tinha a difícil tarefa de articular medidas contra a corrupção, a deterioração ambiental e as enormes disparidades sociais. Apesar das dificuldades, Bo Xilai conseguiu articular cinco grandes frentes de políticas públicas para transformar Chongqing: Chongqing segura, Chongqing habitável, Chongqing accessível, Chongqing saudável e Chongqing verde - este último voltado para o desenvolvimento sustentável da cidade. Foram feitas casas acessível para população mais pobre, aumento na oferta de emprego, proteção ambiental, infraestrutura moderna e acessível, programas de saúde pública, grande estímulo a atividades esportivas e medidas contundentes de segurança para prevenir crimes e desarticular células de crime organizado – com mais de 3 mil prisões que incluem juízes e membros do Partido Comunista. Estas políticas foram acompanhadas por chamados a mobilização popular com canções maoístas (“chang hong”) em conjunto com grupos de ópera e outras instituições educativas da cidade, através de discursos de Bo que fazem referência ao papel da cidade na história da luta comunista contra os nacionalistas, com a Chogqing Mobile e outras operadores de telefonia celular enviando milhões de mensagens com citações do livro vermelho de Mao fazendo retornar o fantasma revolucionário da Revolução Cultural dos anos 60. A estação de TV também apresenta filmes feitos logo após a vitória comunista em 1949 relatando a vida e as batalhas de antigos revolucionários e as propagandas foram substituídas por “programas vermelhos” com novelas narrando histórias revolucionárias. Quando houve uma greve de taxistas e professores seu método de encontrar uma solução não foi enviando a polícia para reprimi-los. O Partido Comunista de Chongqing convidou as lideranças para encontrar um acordo num estúdio de TV onde ao vivo debateram a questão para todos os cidadãos da cidade.
            Para o susto de muitos, a batalha em torno do legado maoísta simboliza mudanças ideológicas importantes na China, principalmente entre aqueles que advogam uma liberalização maior da economia e do sistema político e aqueles que rejeitam qualquer coisa parecida com o modelo ocidental falido de democracia-liberal procurando novos caminhos para o socialismo com características chinesas. Como disse recentemente um professor chinês, o modelo Chongqing é a única esperança para a China, somente ele pode salvar o comunismo.  

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