segunda-feira, 29 de setembro de 2008

a crise estrutural do capital: parte 1

(uma investigação sobre as razões da crise)

Como podemos entender a atual crise que ocorre nos Estados Unidos? Podemos fazer uma ligação com sua crise hegemônica ou, mais ainda, podemos procurar na incapacidade de acumulação e expansão de capital sua profunda raiz? Será uma crise estrutural ou uma crise que apenas mostra algumas imperfeições do sistema capitalista avançado? O que significa, hoje, uma crise no coração do metabolismo global do capital? Quais podem ser as conseqüências? O que podemos fazer?
Essas não são perguntas fáceis para se responder, principalmente devida à instantaneidade com que os fatos estão ocorrendo. É um processo em tempo real, ao vivo como diriam os comentaristas do espetáculo. O grande problema é que, assim como a mídia hegemônica em geral, costuma-se apresentar os fatos desconexos de suas bases causais numa esquizofrenia constante: a subida nos preços dos alimentos em escala mundial não tem absolutamente nada a ver com os processos globalizantes do capital ou a atual crise nos Estados Unidos tem escala apenas nacional não tendo impactos severos na construção mundial da economia com seus processos de exploração do trabalho sob uma divisão internacional. A busca é por não contextualizar os fatos, mas sim apenas fazer acontecer happenings nas notícias buscando por mais espectadores.
Em última análise, não poderia ser diferente. A Verdade é postada ali e é entendida mundialmente por ali também. Ela busca mostrar uma crise que afeta a possibilidade de reprodução de capital em escala global como um corriqueiro mal-estar... Mas será que a crise que se esta noticiando, às vezes até com otimismo para as oportunidades que podem ser criadas nos países menos desenvolvidos, não envolve a totalidade do metabolismo global em que vivemos, ou ainda, será que podemos encarar essa crise como uma simples arritmia ou como o limite do capital como relação social global dominante?
Primeiramente, vamos esclarecer alguns pressupostos de entendimento. Em Marx podemos encontrar a concepção de capitalismo como um sinônimo de crise: o capitalismo seria uma crise constante. Mas por quê? Porque detém um potencial de “revolucionamento” das forças produtivas como nunca na história. Sob o signo do capital foram instauradas transformações tão radicais sob a vida social que olhamos para nossos avôs com estranheza. Eles poderiam até ter nascido em outro mundo.
É nessa mutação viva que se desenvolve o capitalismo, mesmo que não linearmente. É pelas contradições que abalam a vida material que é possível existir essa supressão/superação das normas tradicionais, dos empecilhos de comunicação, da família. Marx até mesmo costumava rechaçar os ataques que viam no comunismo uma dilaceração da família: é só olhar o que o capitalismo está fazendo até nossos dias para entender melhor o que realmente acontece.
Voltemos à crise: sob esse contínuo processo de crise, no sentido de possibilitar atender suas demandas de acumulação e expansão, o capital extrai do trabalho sua “substância”: a mais-valia. Essa é a forma de extração do trabalho excedente sob o controle estrutural do capital. Para assegurar esse processo, o Estado moderno toma a frente e constrói um arcabouço normativo e legalizado perante os servos. Sob o espectro desse Estado constitui-se a força extra-econômica que impõem aos sujeitos sua posição perante a divisão social do trabalho e faz de tudo para reproduzir esse processo. Nesse sentido, o documetário The Corporation é notável. Ali mostra-se como soldados armados asseguram o trabalho precário (feitas, na sua maioria, por mulheres e crianças) feito para empresas transnacionais que fazem pela marca seu diferencial de preço. Isso demonstra como a “sustância” do capital (extração constante e ampliada do trabalho assalariado) é que aquele que dá o motor para que essas empresas (em sua praticamente absoluta propriedade dos países do centro capitalista). Entretanto, isso mostra mais: o monopólio dessas empresas transnacionais possibilita a terceirização do trabalho para lugares remotos do mundo a fim de poder extrair o máximo do trabalho alheio e, nesse mesmo sentido, possibilita um desvario dos preços objetivamente necessário ao capital hoje. No documentário provasse esse diferencial sob o pagamento na escalas de centavos para a hora trabalhada em comparação ao preço de centenas de dólares por uma simples unidade de vestimenta produzida.
Esse desvario dos preços mostra uma realidade mais profunda e sinistra: a incapacidade do capital de se reproduzir e, dessa forma, buscando pelo preço e não pelo valor sua expansão e circulação em escala global. Isso significa que o trabalho humano despedido chega a um limite da completa desvalorização, mesmo que, paradoxalmente, o capital dependa do trabalho para se reproduzir. Esse processo que se inicia em meados de 1970 chega a sua radicalidade após sua maturação: apenas hoje, nesse início de século, é possível entender a crise atual como a crise do metabolismo global do capital.
Muito já se falou sobre a sociedade contemporânea: o neoliberalismo como ofensiva do Estado e do capital contra o espaço público, a crise do antivalor, a privatização generalizada da vida social, o crescimento da violência como código de conduta, o acirramento do medo nas grandes metrópoles, a favelização global, o capital financeiro no comando das estratégias dos mais diversos cantos do mundo, o crescimento do círculo vicioso da dívida externa dos países menos desenvolvidos, etc. O que todos esses fatos têm em comum é que todos fazem parte de uma dinâmica regressiva da sociedade baseada na relação social chamada capital.
O capital financeiro é o aspecto mais explícito nesse sentido: sob as práticas de liberalização do comercio mundial postas pelo neoliberalismo, é possível existir uma expansão exponencial da reprodução do capital financeiro. Entretando, o que é o capital financeiro? É aquele que é expulso do terreno da produção, da economia real, da produção. Como Marx já havia explicado, é capital fictício que pode flutuar sem sua substância, seu sentido. Lembremos aos desavisados que essa medida para expandir o setor financeiro, entretanto, não é uma opção que o capital buscou rumo à emancipação do setor produtivo. Muito pelo contrário. Na verdade a financeirização da economia é uma necessidade objetiva para a contínua expansão do dinheiro. Para Marx, a reprodução do capital se dá pela fórmula D – M –D’. Sob a dominância do capital financeiro, a fórmula corta o aspecto socialmente positivo do capital e reproduz dinheiro a partir de dinheiro: D – D’. A aparência passa a dominar: o dinheiro que passa pelo processo de valorização sob a exploração do excedente do trabalho vivo entra num processo de fictícização já que representa trabalho não produtivo. Dessa forma o capital vive de crédito futuro para sustentar o presente; a produção passou a ser um apêndice do capital fictício. Nessa mesma fórmula, as pessoas também vivem a crédito tentando sustentar o presente endividado. Até quando? Ou melhor, por quê?
A ascensão da financeirização econômica é assim uma resposta fenomênica a uma crise maior, se cunho estrutural que destrói as bases materiais da vida em sociedade. Ela pode criar o crescimento da economia capitalista global, mas não desenvolver as forças produtivas, aquelas que possibilitam a expansão dos valores de uso pela sociedade.
Convenhamos, quando um capital fictício toma as rédeas do crescimento, algum problema está nascendo. São meados dos anos 80: estávamos aqui sob o espectro do neoliberalismo e seus imperativos de liberalização do comércio mundial rumo a uma aldeia global. Em 2008 a ideologia neoliberal que estrutura a realidade econômica atesta sua ineficácia óbvia suspendendo da realidade seus imperativos liberalizantes como um tiro que acabou saindo pela culatra. O capitalismo em sua crise estrutural não deixa dúvidas acerca à ligação cleptocrata entre o Estado e a necessidade de fazer continuar essa odisséia que afeta, em última análise, a classe-que-vive-do-trabalho em nível global.
Essa últimas semanas são calorosas nesse sentido!

Um comentário:

Anônimo disse...

nooooooooosso colapso
indivíduos=atores=estados=universo=natureza

open your eyes for love, i agree, that´s missing!