A partir de uma visão principista sobre a realidade histórico-social
e da avaliação voluntarista sobre a “gestação iminente de uma crise
revolucionária” no planeta, tem-se exacerbado o sectarismo entre as esquerdas. Tudo
é feito para demarcar posições. Na sua leitura simplista, toda fraqueza do
movimento socialista é culpa da “traição das direções”, dos reformistas e
centristas. Sua presunção doentia superestima a atual correlação de forças no
país. Afinal, porque estas correntes não explicam porque as entidades que
dirigem ainda não começaram uma ofensiva dos trabalhadores para servir de
exemplo de combatividade e representatividade?
Essa parte da esquerda costuma ser cercada de inimigos por
todos os lados, julga que a história resulta de sua vontade, enche a boca de
categorias teóricas e procura não misturar-se com pobretariado. Acham que podem chegar a qualquer
momento e propor soluções próprias para momentos de grande tensão, acreditando
que as massas os seguirão, dependendo apenas de capacidade de convencimento.
Recusam-se a partir do nível real de aprendizado delas participando do processo
real, às vezes lento, de luta e descoberta de problemas e soluções.
Para eles, tudo depende dos setores mais avançados, dos
líderes, partidos e governos "ajudarem" os setores mais atrasados a
avançarem, interferindo em seu nível de conscientização, organização e luta. E,
quando líderes, partidos ou governos não agem sobre as massas como pretendem,
isso representa uma traição. Ficam mais ligados nas disputas entre as
cúpulas e desprezam o
trabalho de criar raízes fortes com as camadas populares, através de
organizações de base capazes de acompanhar e participar do dia-a-dia de luta
daquelas camadas. Desconsideram que só o povo pobre e trabalhador, massivamente mobilizado, faz
revoluções, independentemente de haver ou não partidos revolucionários em seu seio.
E esse povo só se joga no movimento da revolução quando não pretende mais viver
como até então e sente a coragem que não tem mais nada a perder. Estes sinais
só conseguem ser percebidos por quem está entranhado na vida do dia a dia do
povo.
Este sectarismo na verdade é uma forma de oportunismo, pois
preferem abandonar a luta concreta para ganhar as massas usando como pretexto
as “burocracias” que impedem sua “ação revolucionária”. Esta conduta política
revela um desejo de ganhar as massas com manobras organizativas – e aqui os exemplos
são incontáveis. É o desespero do tudo ou nada. Não percebem que o
auto-isolamento das massas equivale a uma traição à revolução.
Na verdade procuram dentro de seu grupismo “heroico” a
satisfação de todos os dias e a oportunidade de reconhecimento público. O que vale é o glamour do “auto-reconhecimento”
como lutadores sociais, mesmo sem discernimento da luta de classes e da necessidade de fortalecer atitudes e posições científico-políticas, para uma longa e difícil batalha de formação de lideranças conscientes e militâncias esclarecidas.